Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Do sectarismo ao crime de opinião

A melhor análise da situação quem fez foi Franklin Martins – cuja demissão da Globo segue sem o menor sentido. Na entrevista à última edição da CartaCapital, Martins afirmou o que é óbvio e que nenhum veículo – com exceção de Época, numa edição – está reconhecendo: Lula tem a preferência do eleitorado porque seu governo agradou à maioria numérica da população (maioria que, sociológica e ironicamente, costuma ser chamada de minorias). Aí é que está: corrupção há neste país desde a coroa. Pobres conseguindo estudar ou comprar um computador, isto é novidade.

Não se trata, claro, de defender a corrupção que decerto existiu no atual governo – e que, não nos iludamos, existirá nos próximos, sejam quais forem, até que se faça a necessária reforma política. Trata-se de chamar a atenção para um dado para o qual a grande imprensa não atentou porque não quis. Não era responsabilidade dela divulgá-lo? Era. Mas para o eleitorado tanto faz. A diferença não esteve nas páginas sangrentas da Veja, mas no bolso do pai de família.

Emir Sader é um sectário. Sua análise sempre será enviesada, e ele nunca fez questão de esconder isso. Erra quando joga todos ou quase todos os comentaristas no mesmo balaio. Estamos falando de colunistas com tradição, de respeito e de um prisma muito heterogêneo de idéias. Sabendo-se disso, a única maneira de desculpar Emir Sader é lembrar-se de que ele próprio tem suas idéias muito vincadas em seus textos.

Mas o que não dizer, durante a atual crise, de como a maior parte dos colunistas do OI está se comportando? Já não estamos falando de Sader, um homem assumidamente de esquerda e pró-governo; estamos falando dos empunhadores do estandarte da imparcialidade da mídia, dos melhores críticos de mídia que esse país tem. Alberto Dines chegou ao requinte de, discretamente, dizer que seus leitores falaram bobagem e, ao mesmo tempo, de atacar a opinião de Soninha Francine, a primeira a criticar o PT nos casos que lhe atingiram a imagem nos últimos anos. O erro dela: fazer uma crítica muito equilibrada, mais ainda uma opinião, do comportamento da imprensa no último mês. Só faltou a Dines dizer que ela incorreu em crime de opinião!

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Jornalista, Santo André, SP