Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Visões da realidade brasileira

“São acentuadas as discrepâncias entre o que mostram as pesquisas e o que se lê sobre o Brasil.” (Marcos Coimbra)

Marcos Coimbra, dirigente da Vox Populi, coloca na CartaCapital (nº 679, de 11/1/2012), sob o título “Perplexidade mongol”, uma análise primorosa a respeito da criticável inclinação da grande mídia para projetar em seu trabalho, de forma até obsessiva, digo eu, imagem inteiramente desfocada da realidade nacional. A perplexidade deflui da dificuldade em se entender “as discrepâncias entre o que mostram as pesquisas e o que se lê sobre o Brasil”. Entre o que é dito em letra de fôrma, nas ondas da telinha e do rádio, e o que o povo pensa.

O comentário chama a atenção para a diferença do que é publicado nos grandes jornais, visto no noticiário dos principais veículos de comunicação de massa e o que é lícito depreender-se dos sentimentos que dominam as ruas, a partir das pesquisas de opinião disponíveis. Se o que costumam afirmar influentes analistas da cena pública nas matérias lançadas configurar a verdade, como explicar – indaga-se no artigo – que o governo, tão bombardeado de críticas, tenha aprovação popular tão expressiva e que a avaliação externa acerca das coisas que rolam em nosso pedaço de chão seja quase unanimemente positiva? Tema para baita reflexão.

Desafio à capacidade empreendedora

Pesquisa CNT/Sensus, promovida em 18 países, nos diversos continentes, encomendada pela revista Veja, revela que têm ocorrido mudanças substanciais, para bem melhor, no modo de o estrangeiro ver as coisas do Brasil. Nosso país, de acordo com as manifestações recolhidas, tornou-se mais conhecido. É tido lá fora como emergente. Continua (ora, veja, pois!) praticando ainda o melhor futebol do mundo. Mostra-se devidamente capacitado para organizar e receber a Copa Mundial de Futebol e os Jogos Olímpicos. Nosso povo – a pesquisa continua falando – é trabalhador. Nosso território é considerado um bom lugar para passeio e, de certo modo, para viver. Pelé, seguido de Ronaldo e de Lula, são os brasileiros famosos de quem mais se ouve falar. O Brasil é também apontado como país que aumentou significativamente, nos últimos anos, sua influência no cenário mundial. Um bom vizinho, sem propensão imperialista, na avaliação dos países sul-americanos.

O trabalho divulgado mostra que, longe ainda de constituirmos um país rico, já podemos nos gabar de haver assumido a condição de sexta maior economia do planeta. A caminho veloz de saltar para a quarta posição, acrescento. (Será que isso já não estaria acontecendo caso pudéssemos agregar ao PIB oficial os números de nossa incrementadíssima economia informal?) Com PIB de 2.52 trilhões de dólares, superamos a Inglaterra, a Itália, a Rússia e a Índia. Ficamos abaixo apenas dos Estados Unidos (15 trilhões de dólares), China (7 trilhões), Japão (5.9), Alemanha (3.6) e França (2.8). Não obstante, há que se continuar deplorando o fato de nossa renda per capita (calculada em 9.390 dólares) conferir-nos apenas uma perturbadora 47ª posição no contexto mundial, ao mesmo tempo que, no tocante ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), continuemos amargando, por enquanto, desonroso 84º lugar na lista. Tudo isso provocado, estamos todos calvos de saber, por clamorosas desigualdades na repartição dos frutos da colossal riqueza nacional. Uma dívida social acumulada imensa que continua sendo, apesar dos positivos resultados já alcançados no sentido de resgatá-la, um desafio estridente à capacidade empreendedora dos governantes e da sociedade.

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[Cesar Vanucci é jornalista, Belo Horizonte, MG]