Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Programa sai do ar durante críticas a Cristina

O programa de TV do jornalista argentino Marcelo Longobardi na emissora C5N foi retirado do ar noite da terça-feira (13/03), quando exibia uma série de entrevistas com pessoas que criticavam o governo da presidente Cristina Kirchner. Os comentários negativos sobre a administração presidencial começaram durante uma entrevista com o ex-embaixador Jorge Asís, que falou sobre os escândalos de corrupção que envolvem o vice-presidente argentino, Amado Boudou. “Cristina sabia de tudo isso”, sustentou Asís, categórico.

O seguinte entrevistado foi Alberto Fernández, ex-chefe de gabinete de Cristina e de seu marido e antecessor, Néstor Kirchner. Além de criticar aspectos da política econômica do governo, Fernández afirmou que “cada vez que a presidente ouve algo que não gosta se zanga com o emissor”. Dez segundos após a declaração, o programa foi interrompido. “Eu estava falando e, de repente, o áudio foi cortado. A produção explicou que o programa havia sido retirado do ar”, disse Fernández. Ele afirmou que integrantes do programa admitiram que funcionários de alto escalão do governo tinham telefonado e pedido a suspensão da transmissão.

O canal C5N afirmou que o programa de Longobardi havia ultrapassado seu horário de encerramento e, por isso, foi cortado. Asís disse que não se surpreende com a interrupção: “Esse governo é feito por amadores, que criaram um ambiente ‘putiniano’, ou seja: de pressões fortes sobre o jornalismo, como o presidente Vladimir Putin fez na Rússia.” “Se um governo não pode suportar o que se comenta em um programa de TV, não pode coisa alguma…”

“O corte abrupto do programa (de Longobardi) não é surpresa, levando-se em conta tudo o que ocorre constantemente na Argentina em relação às pressões sobre a imprensa”, afirmou Claudio Paolillo em nome da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). “Essa censura é mais um capítulo do assédio que Cristina impõe à imprensa.”

O governo argentino não comentou o caso.

***

[Ariel Palacios é correspondente em Buenos Aires do Estado de S.Paulo]