Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os revolucionários sem pauta

Na cruzada entre a impressa tradicional e as novas mídias no ambiente digital, a primeira tem sido tratada por seus novos concorrentes como um poder absolutista em vias de ser derrubado, como aconteceu com as monarquias europeias após a Revolução Francesa, no final do século 18. Blogueiros e tuiteiros tidos independentes, a maior parte deles de esquerda por convicção ou conveniência, vociferam contra a mídia tradicional como se esta fosse única e exclusivamente um meio de defender privilégios. Para eles, à “nova mídia” caberá a transformação, a revolução da informação em um mundo hiperconectado.

Basta uma rápida visita à maior parte desses blogs e agregadores para ver qual é o conteúdo que eles produzem aqui no Brasil: análises baseadas nas notícias veiculadas pela mídia tradicional que têm como intuito negar e acusar as informações e julgamentos fornecidos pela grande imprensa ou um simples “copia e cola” das informações dos sites de jornais, revistas e agências de notícias sem pagar um centavo sequer ao veículo que bancou sua produção.

Que revolução é essa que se resume a usufruir de um produto feito com o dinheiro e a força de trabalho de outro veículo? Que “novo modelo de informação” é esse baseado apenas em análises e opiniões quando sabemos que a essência do jornalismo é a informação? Não há transformação nenhuma, apenas reação e ressentimento.

Leitores e jornalistas

Criticar a mídia é uma tarefa nobre e civilizadora que deveria compor a pauta da sociedade, assim como da pequena e grande imprensa. Usar da crítica para desmerecê-la ao mesmo tempo em que se usufrui dela para ter mais audiência e atrair anunciantes e colaboradores gratuitos é oportunismo. Assim como é oportunismo tratar a internet como forma suprema do jornalismo ante suas formas impressas, quando sabemos que ela em nada melhorou o jornalismo nem tampouco seus leitores. Se a internet trouxe “o outro lado” da opinião pública no Brasil é porque estávamos muito atrasados com relação à pluralidade de opiniões, não porque evoluímos. E, mesmo neste caso, não o fez de maneira civilizada, mas passional, truculenta e intolerante, acirrando o ódio e a paranoia à esquerda e à direita.

Se os novos veículos quiserem ser os novos “donos” do bom jornalismo, que comecem por produzi-lo. Se a imprensa tradicional quiser se manter relevante, valorize o que tem: a produção da informação. Os leitores e jornalistas só têm a ganhar com essa guerra. Desde que ela seja civilizada – e informativa.

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Danilo Thomaz é jornalista e coordenador de comunicação do Pauliceia Literária, Festival Internacional de Literatura de São Paulo