Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Em favor da imprensa livre

Uma civilização que deseja ter como um de seus pilares o acesso à informação não pode prescindir de uma imprensa livre. A liberdade de informar – e de informar-se – é condição vital para o desenvolvimento de uma sociedade que mira na justiça social seu anseio mais significativo.

Hoje, tardiamente mas não desnecessariamente, o debate que envolve o papel dos meios de divulgação acende-se nos fóruns de discussão jornalística, seja através dos observatórios, das poucas mídias que conseguiram manter-se independentes e firmes e, também e mais evidentemente, através da internet. Essa última, fenômeno comunicativo de nosso tempo, parece ter abalado substancialmente a credibilidade dos meios tradicionais de divulgação da informação.

Interesses corporativos, antes camuflados por manchetes e textos caricaturalmente denuncistas (que, por inércia, demonstravam-se em comunhão com os anseios populares), hoje desnudam-se diante da discrepância entre o que o leitor observa nas páginas dos jornalões e nos sítios da net. A forma de produzir notícia, antes monopólio dos poucos que podiam e podem arcar com os custos de impressão em papel ou de irradiação via satélite, redefiniu-se e permitiu uma tímida mas revolucionária democratização do processo de produção da notícia: blogs, fotologs, páginas pessoais, comunidades, salas e grupos de discussão, e mais uma infinidade de agrupamentos virtuais, encorpam hoje o que deve ser a mais avançada forma de comunicação, troca, interação, divulgação de idéias e, mais importante, mobilização social nunca antes vista – o que tem transformado significativamente a maneira de absorção do que costumamos chamar de ‘notícia’.

Porém, essa nova tecnologia, que na década de noventa gerava acirradas discussões nas universidades acerca do fim do jornalismo impresso, não o findou da forma que se pretendeu prever à época: materialmente. De outra maneira, esse novo meio de se comunicar redefiniu a imagem de grande parte dos meios de informação tradicionais, expondo suas mazelas e reais interesses. Não provocou o fim do papel, como temiam os endinheirados fabricantes do lucrativo produto ‘jornal’, mas o fim da hegemonia empresarial no processo de produção e divulgação da informação. A morte, dessa forma, parece ter assumido feições mais tenebrosas do que o temido por não ser material, mas ideológica.

Construção plural

Não menos lucrativas do que antes, grande parte das empresas jornalísticas continuam – mesmo com a credibilidade abalada – vendendo seu produto e reproduzindo sua ideologia de interesses. Jornalistas acuados, reféns de linhas editoriais nem sempre concordantes com suas convicções ou com o modus operandi ético, prostituem-se em diversas redações do país, repetindo em coro – orquestrado ou não – os desejo de seus patrões. Acabrunhados, muitos fogem ao debate atual, à autocrítica, e tomam-se por avestruzes; porém, poucos também não são os que dissimulam sua própria condição de fantoches, demonstrando revolta com o que chamam de linchamento da mídia, incitação à censura, partidarização do debate e outras mais.

Tal qual náufragos, seguram-se em desespero às mesmas palavras que provocaram terror nos piores momentos de nossa história – tempos idos, quando muitos deles tiveram coragem suficiente para enfrentar armas com canetas. Mais fácil, nesse mundo do Deus-dinheiro, parece ser assinar a própria sentença de tortura do que uma carta de demissão. O torturado entra para a história como herói, combativo; o demissionário transforma-se em mais um número das estimativas sociais.

Em favor da liberdade de expressão, da democratização dos meios de produção da informação, da quebra da hegemonia do pensamento único e pelo velório e sepultamento de um quarto poder instituído não pelo povo, mas pelo capital, reavaliemos a forma de produzir notícia no Brasil; criemos o ambiente necessário para que o profissional jornalista tenha condições de executar seu trabalho de forma independente, ética e honesta; que os conceitos de isenção e apartidarismo – máscaras úteis apenas aos interesses mercadológicos das corporações noticiosas – sejam discutidos e reavaliados; e que as possibilidades de democratização da informação através da internet sejam levadas às últimas conseqüências com uma inclusão digital maciça. Por meio dessas e de outras iniciativas, acredito que estaremos somando os primeiros passos em direção à construção de uma forma plural de contarmos a História do Brasil.

******

Publicitário, Natal