Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Escândalo complica planos de sucessão

Ha muito tempo, Rupert Murdoch vem dizendo que deseja que um de seus filhos seja seu sucessor. O escândalo na News Corp. ameaça esses planos. Seu filho mais novo, James, de 38 anos, foi preparado como herdeiro aparente. Mas, segundo pessoas próximas da empresa, seu futuro é incerto devido às questões sobre seu papel no escândalo que abalou a divisão de jornais da gigante da mídia britânica e levou ao fechamento do News o the World, tabloide que já tinha 168 anos de existência.

Um painel de parlamentares do Reino Unido informou na terça-feira que pediu a James Murdoch que compareça para uma segunda rodada de depoimentos sobre os eventos do News of the World, nos quais notícias exclusivas foram obtidas por meio de escutas telefônicas ilegais. Seu depoimento anterior, em julho, detonou um fogo cruzado de relatos conflitantes sobre o que ele sabia e desde quando.

James, atualmente vice-diretor operacional da News Corp., disse que ficou ciente no final do ano passado de evidências de que os grampos telefônicos iam além do ex-correspondente do News of the World para assuntos da família real e de um investigador particular que constava da folha de pagamento do jornal. Mas, contradizendo James, o ex-editor e o ex-advogado principal do tabloide dizem que o informaram em 2008 das evidências sugerindo que as escutas telefônicas iam além das atividades de um único repórter. Como ainda não há provas concretas que respaldem essas alegações, algumas pessoas da News Corp. creem que a ameaça à carreira de James diminuiu. Mas muitas concordam que ele ainda enfrentará dificuldades para limpar seu nome e manter sua trajetória até o topo do conglomerado.

Elisabeth engavetou planos de integrar a diretoria

Segundo uma porta-voz da News Corp., James, que mantém o que disse em seu depoimento, ficará “feliz em comparecer novamente diante do comitê para responder a quaisquer dúvidas que os membros ainda possam ter”. Os desafios diante de James Murdoch são os mais recentes obstáculos em uma estratégia de sucessão armada, e muitas vezes improvisada, por seu pai. Os irmãos mais velhos de James, Lachlan e Elisabeth, deixaram a empresa há tempos, embora Elisabeth tenha voltado este ano. A família controla a empresa com 40% das ações com direito a voto.

Em agosto, Rupert Murdoch, de 80 anos, disse a analistas que se fosse atropelado por um ônibus, o diretor operacional Chase Carey iria sucedê-lo. Seria um provável primeiro passo, em caráter provisório, até que um dos filhos assumisse o papel, segundo pessoas a par do assunto. Desde então, Murdoch continuou a defender James em conversas com executivos e consultores, segundo uma pessoa a par da situação.

A News Corp., que é dona do Wall Street Journal, não quis comentar.

Ao longo dos anos, Murdoch tentou não mostrar favoritismo para com Lachlan, James ou Elisabeth, todos filhos de seu segundo casamento. Lachlan, o filho mais velho, e originalmente o favorito, saiu há seis anos, em parte porque seu pai apoiou outros executivos da News Corp. em divergências sobre ações estratégicas. Seu pai já falou, no passado, sobre encontrar uma maneira de convencê-lo a voltar, segundo pessoas a par do assunto. Lachlan não respondeu a pedidos de comentários. Elisabeth Murdoch voltou ao grupo este ano, quando a News Corp. comprou sua produtora de televisão Shine. Mas, recentemente, ela engavetou planos de integrar o conselho da empresa.

A tempestade política

A saída dos irmãos criou uma abertura para James, que entrou na News Corp. quando esta comprou o selo de hip-hop de James, chamado Rawkus, nos anos 90. Ele conquistou o respeito dos executivos do conglomerado por supervisionar o crescimento dos negócios da Star TV Asia, divisão de TV por satélite na Ásia, e depois o British Sky Broadcasting Group PLC. Depois de administrar a divisão de internet da News Corp, James assumiu a diretoria-executiva da BSkyB, controlada pela News Corp., em 2003. Ali ele fez seu nome, transformando a firma de satélites em uma empresa de internet, telefone e TV. Analistas temiam que sua meta de 10 milhões de assinantes fosse sacrificar os lucros. Mas ele manteve os ganhos estáveis e em 2010 a empresa atingiu essa meta de assinaturas.

Há alguns meses, James parecia prestes a finalizar sua maior realização: a News Corp. se preparava para comprar o restante da BSkyB. Mas em julho aumentaram as alegações de escutas telefônicas e propinas pagas a policiais pelo News of the World, culminando na acusação de que um ex-repórter invadira a caixa de mensagens do celular de uma adolescente assassinada em 2002. Com a eclosão de uma tempestade política, James propôs a seu pai a ideia de fechar o tabloide, que tinha 168 anos de existência. Rupert Murdoch concordou.

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[Russell Adams e Jessica E. Vascellaro são jornalistas do Wall Street Journal]