Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Excitação com Franklin, silêncio diante de Collor



União de publicidade com imprensa causa polêmica


Said Farhat, Beraba e Luiz Weis acham preocupante a mistura; já Kotscho e Dines não vêem problema


Honrado em ser mencionado na submanchete de O Globo (sábado 24/03, pág. 17), este observador pede licença para explicar por que ‘não vê problema’ na indicação de Franklin Martins para a supersecretaria da Comunicação da Presidência da República.


A necessidade da explicação é óbvia: os argumentos que justificariam a despreocupação simplesmente não constavam da matéria. E não por culpa do repórter: conhece o assunto, fez perguntas pertinentes e encaminhou a entrevista de forma impecável.


Esse o teor do que foi dito:


** Apesar da inusitada arrumação da pasta da Comunicação seria conveniente esperar o discurso de posse do novo ministro para conhecer suas opiniões e seus planos. Qualquer comentário àquela altura seria, além de prematuro, leviano.


** O fato de o mesmo órgão cuidar simultaneamente da distribuição de informações e distribuição de verbas de publicidade não contém, em princípio, perigo maior do que a separação habitual dos guichês. Hoje, com pessoas e repartições diferentes, pode o governo exercer com toda a facilidade enormes pressões sobre determinados veículos. O que de fato aconteceu no governo anterior a partir do ‘mensalão’. E ninguém abriu o bico.


** O jornalista Franklin Martins é um jornalista experimentado, conhece a matéria e não cometerá desatinos que comprometam o seu currículo.


** A grande discussão que nenhum veículo tem a coragem para encarar relaciona-se com o volume de dinheiro gasto com a propaganda oficial. Os vícios e tentações começam exatamente nessa gastança incontrolável. Governo deve pagar apenas a veiculação de campanhas educativas e informações relativas a serviços públicos. O resto deveria ser investido nas redes de TV culturais-educativas.


Silêncio respeitoso


Ultrapassadas as primeiras reações à indicação de Franklin Martins e ao redesenho da sua supersecretaria, conviria acrescentar pelo menos uma reflexão. A primeira da fila: se queremos que o governo desça do palanque eleitoral no qual está abancado há mais de um ano conviria que a mídia, como instituição, também abandonasse o frenesi ao qual periodicamente se entrega. Um pouco mais de sensatez faria um bem extraordinário a todos os envolvidos. Mais sensatez significa economia de bravuras, menos bravatas, mais ações afirmativas, denúncias investigadas e menos desgaste.


Nossa mídia mostrou-se totalmente incapaz de reagir ao discurso de estréia do senador Fernando Collor de Mello [ver ‘Do Collorgate ao Dossiêgate‘, neste Observatório]. Compreende-se o estado cataléptico dos políticos (exceto o senador Pedro Simon) diante daquela retórica roxa. Mas não se compreende a ausência de qualquer traço de altivez, garbo, amor-próprio ou auto-estima na instituição que há 15 anos apenas se comportou de forma tão ousada na derrubada de um presidente da República.


Está arrependida? Que o diga. Foi iludida? Diga por quem. Não quer comparar? Que assuma suas limitações.


Depois de tanto barulho, o respeitoso silêncio da mídia diante de Collor de Mello é constrangedor. Mais constrangedoras são as compensações – arroubos de vigilância para esquentar o noticiário.


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[Em outubro de 2006, quando o Observatório da Imprensa cumpriu com suas obrigações e acolheu uma manifestação do jornalista Ali Kamel em defesa do Jornal Nacional contra as acusações de ter ignorado o desastre com o Boeing da Gol em benefício das imagens da dinheirama do ‘Dossiêgate’, não faltaram acusações de ‘alianças à direita’. Agora, colocado ao lado de Ricardo Kotscho, este observador é empurrado para o campo ‘esquerdista’. As duas companhias, além de honrosas, provam que a crítica da mídia é tarefa rigorosamente solitária.]