Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Falta uma perna à proposta de debate

Acho que a chamada para o debate sobre ‘NOVA REGULAMENTAÇÃO & CFJ’ começou capenga. Fala em regulamentação (aprovada pelo Congresso e a ser sancionada ou vetada por Lula). Essa perna da chamada está apresentada: o projeto aprovado de regulamentação está transcrito. A outra perna (CFJ – Conselho Federal dos Jornalistas) está faltando. Apenas se diz que de 5 a 8/7, no 32º Congresso Nacional de Jornalistas, houve a resolução de reformular a proposta de criação do CFJ. A proposta original não está facilmente acessível, embora esteja nos arquivos do Observatório, alcançáveis pelos links indicados. Mas e a reformulação? Já está pronta? Qual é? Não está pronta? Quais são as linhas da reformulação ainda não prontas? Quem pode falar sobre isto?


Alberto Dines chama-a de cabeçada de cabeçudos e retoma sua visão de 2004 [‘CFJ continua inútil, mas o debate é essencial‘], com toda aquela adjetivação de stalinistas para os formuladores da proposta, que querem ficar com o quarto poder só para eles. Mas, ao denominar, assim, a tentativa de reformulação contradiz as suas próprias afirmações, da mesma época: ‘Pior do que o arquivamento do projeto original é a manobra para sepultar o substitutivo que a Fenaj foi obrigada a produzir diante da enorme pressão que sobre ela se armou.’ (…) Embora Dines não concorde com a criação do CFJ, acha que deve ser ‘mantida a discussão suscitada pelo desastrado projeto, [pois] será possível alcançar questões de grande magnitude que desfiguram a democracia e prejudicam diretamente nossa sociedade em matéria de informação, cultura e entretenimento’.


Parte do bloco


As últimas palavras de Dines permitem dizer que, para ele, existem problemas no jornalismo brasileiro, mas que para resolvê-los o foco deve ser outro: a concentração da mídia e a dificuldade de modificar isso com um Congresso em que quem julga concessões de meios de comunicações são parlamentares com elas agraciados. No entanto, quando começa a falar de cabeçada de cabeçudos, pode contribuir para que o debate não passe de um saci preconceituoso.


Então dá desejo de perguntar a Luiz Weis: será que vai se repetir em 2006 o ‘Abate sem debate‘, que aconteceu em 2004? Será que as ‘cabeças coroadas do jornalismo’ vão continuar exatamente como antes, quando ‘stalinista foi consumido feito pão quente’, considerando propostas partidas de sindicatos e federações de jornalismo – como que de pessoas que olham para outros jornalistas pensando ‘tá tudo dominado…’? E que não se deve nem tentar modificá-las?


Acontecendo isso, será que vai dar novamente aquela vontade de pegar uma bandeira escrita CFJ e sair agitando-a por aí? Se for assim, vou querer fazer parte do bloco, porque pelo menos três perguntas se impõem: a primeira pode ser de dupla escolha (sim/não): o jornalismo está perfeito, deve continuar assim mesmo? Caso seja escolhido não, a segunda: a concentração dos meios de comunicação influi na qualidade do jornalismo brasileiro? E a terceira feita por Weis [Condenação dos conselhos não absolve a mídia] tão importante quanto as outras: ‘Por que um jornalista não tem uma instância profissional à qual possa expor – quanto mais não seja para proteger a própria reputação – quem quer que, no emprego, tente induzi-lo a praticar atos de linchamento moral contra terceiros?’

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Aposentado, Rio de Janeiro