Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Fátima Bernardes, onde está você?

Das diversas decisões erradas tomadas nesta Copa pela direção da Rede Globo, a mais recente – e, por isso, a mais significativa – foi o súbito desaparecimento, na segunda-feira (3/7), da apresentadora Fátima Bernardes na abertura Jornal Nacional.


Se a jornalista foi para cobrir a Copa não poderia ter regressado na primeira edição regular depois da eliminação do Brasil, no sábado passado. Pouca gente assistiu à edição do telejornal naquele sábado, quando ela fez uma breve despedida. A dor de cotovelo teve proporções de um tsunami.


Mas na segunda-feira o país recobrou a razão; queria saber, entender, avaliar, chorar e até ensaiar alguma esperança. Fátima Bernardes deveria estar lá, ao menos para o balanço. O certo, como jornalista, seria ir até o fim do evento. Cumprir integralmente a sua tarefa.


Se o jornalista abandona a cobertura antes do seu término passa para o público a impressão de que está comprometido com um lado. O sumiço da estrela da equipe da Globo em seguida à eliminação da seleção brasileira coloca-a numa condição especial, justamente o que se pretendeu evitar desde o início. Ruim para Fátima Bernardes e ruim para todas as mulheres que cobrem o futebol.


Atestado de desamor


Se Pedro Bial regressou à base não faz a menor diferença. Estava lá na condição de repórter: o evento encolheu, lícito que equipe também seja encolhida. Fátima Bernardes viajou na condição de âncora auxiliar. A cobertura prossegue, fingir que acabou é manipular a informação.


Esta decisão é ainda pior do que a outra – obrigar Fátima Bernardes e sua colega Cristiane Pelajo (Jornal da Globo) de ficar dando risadas antes mesmo de dizer qualquer coisa ou ter algum motivo para isso.


A tentativa de forçar uma alegria despropositada combina-se agora à decisão insensata de passar uma borracha no acontecido. No início da temporada, a euforia artificial. No prematuro fim, o disfarce no sofrimento. Nas duas experiências fica a impressão de que os sentimentos do público devem ser controlados.


‘Fátima, onde está você?’ foi um bordão de William Bonner que soou praticamente todas as noites no início do Jornal Nacional, ao longo das três últimas semanas. Piegas? O país é piegas, de Lula a Zagallo, passando por Lembo e Garotinho. Só Marcola não é piegas.


Suprimir o bordão em seguida à tragédia foi um atestado de desapreço pelo espetáculo. E desamor pelo futebol.