Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Financiamentos encobertos

A manchete do Estado de S. Paulo de domingo (23/10), “PC do B monta ‘esporteduto’ para controlar verba federal”, tem dois méritos. O jornalístico, que é apontar um suposto sistema azeitado de uso de verbas públicas para reforçar o caixa de um partido. E o metajornalístico, que o jornal não faz, mas permite que se faça aqui: mostrar como a mídia dorme no ponto enquanto o republicanismo desce ladeira abaixo.

E desce muito: na Folha de S. Paulo e no Globo da mesma data, Elio Gaspari afirma que “há cadáveres no rastro das roubalheiras dos convênios do Ministério do Esporte”. É verdade que casos dessa natureza não se apuram com facilidade. Que o digam os cadáveres do PT – Celso Daniel, prefeito de Santo André, e Toninho, prefeito de Campinas.

Os jornalistas esportivos, que conhecem muitos meandros, fingem que não veem as faltas, como se não fossem cidadãos e jornalistas na acepção plena da palavra. Com as muito raras e honrosas exceções de praxe.

O catalisador de todo esse processo de descobrimento (no sentido mais literal da palavra) é, no plano imediato, a Copa de 2014. Mediatamente, a Olimpíada de 2016.

Mídia, banco, partidos

Outra reportagem importante do Estadão de domingo é uma combinação de economia e crime: “Panamericano buscou ajuda de políticos. E-mails capturados pela PF revelam como executivos do banco recorreram ao tráfico de influência e à corrupção para obter apoio político”.

Entre os personagens mencionados estão, além de executivos do Banco Panamericano, que pertencia então a Silvio Santos − astro do entretenimento, grande vendedor de produtos populares a crédito e candidato a presidente da República gongado em 1989 −, parlamentares como José Sarney e Ney Suassuna, ambos do PMDB; integrantes do governo de Alagoas sob Ronaldo Lessa (PSB) e Teotônio Vilela Filho (PSDB); e uma eminência do PT hoje discreta, o ex-ministro Luiz Gushiken. Entre as instituições, os fundos de pensão.

Aqui, a grande dívida jornalística é a da cobertura das finanças das campanhas eleitorais. A da mais recente, de 2010, reforça essa percepção. Como se sabe, foi ao final dela que Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha presidencial de Dilma Rousseff, deu consultorias que o tornaram milionário. Para cada caso noticiado quantos haverá que não o foram, como o do Banco Panamericano?

Muito pouca gente no país é capaz de bater no peito e dizer que suas contas de campanha podem ser viradas e reviradas, examinadas pelo direito e pelo avesso, sem aparecer agressão às leis.