Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Thiago Reis

ANJ divulga nota contra censura a jornal do Amapá

‘A ANJ (Associação Nacional de Jornais) divulgou uma nota ontem na qual ‘condena com veemência’ a decisão do juiz auxiliar do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Amapá Anselmo Gonçalves da Silva de determinar a suspensão da edição eletrônica do jornal ‘Folha do Amapá’.

A decisão, tomada anteontem, foi motivada por um pedido do PDT-AP, que afirmou que reportagens do periódico denegriam a imagem do governador Waldez Góes, candidato à reeleição.

O juiz considerou que o jornal fez ‘propaganda eleitoral antecipada negativa’.

Para a ANJ, ‘trata-se de caso evidente de censura à imprensa, embora ela seja expressamente proibida pela Constituição.’

‘O juiz alegou que matéria do jornal com críticas ao governador do Amapá é ‘propaganda eleitoral antecipada negativa’, numa esdrúxula definição jurídica. Na verdade, é matéria jornalística, que não pode, sob nenhum argumento, ter sua divulgação proibida’, diz a nota.

‘A legislação brasileira tem instrumentos próprios para quem busca reparar danos causados por matéria jornalística. Mas a proibição prévia ou posterior da divulgação de informações é clara ilegalidade’, continua o texto.’



O ADIANTADO DA HORA
Marcelo Coelho

Cony recorre ao inexplicável em ‘O Adiantado da Hora’

‘Enquanto muita gente perde horas rascunhando um bilhete de cinco linhas, Carlos Heitor Cony escreve como quem respira. ‘O Adiantado da Hora’ é o sétimo romance que publica desde 1995 -ano em que, interrompendo um silêncio de 22 anos, voltou ao gênero com ‘Quase Memória’. Há ainda, claro, as crônicas diárias na Folha, os livros juvenis, o ‘romance-reportagem’ ‘O Beijo da Morte’, sua participação na Folha Online, sem contar o trabalho de comentarista na rádio CBN e na BandNews.

Em ‘O Adiantado da Hora’, não se vai encontrar muito daquele lirismo bem medido com que o autor freqüentemente encanta quem acompanha as suas crônicas. Mas seus leitores diários conhecem também o gesto subitamente extravagante, o áspero recurso ao inexplicável -que esse romance maneja com notável fluência narrativa.

A história é das mais enroladas. Zé Mário, uma espécie de faz-tudo num escritório de advocacia carioca, é deslocado para a região de Cabo Frio, onde terá de investigar o desaparecimento de uma ex-comissária de bordo alemã e suas possíveis relações com a eventual construção de uma bomba atômica brasileira.

Cenário setentista

Embora seja imprecisa a data da narrativa, todas as referências apontam para meados da década de 70: tempos do acordo nuclear Brasil-Alemanha, do caso Doca Street (o famoso assassinato da socialite Ângela Diniz, a ‘Pantera Mineira’, ocorreu em Búzios), e, de modo mais geral, de uma aceleração do processo de descompressão dos costumes sexuais da sociedade brasileira.

É assim que a ex-comissária, dona de belas ‘coxas teutônicas’, conforme se comenta, terá um caso de amor com um artesão negro, ‘esguio como um pente’, e também com Maria Ignês, bonita filha de um político tratante que todos conhecem pelo nome de Seabra.

Esse último, figura capaz de fingir-se amnésico diante da própria filha para fugir de um flagrante de adultério, dá o tom debochado e fantasioso de toda a história, que acaba contaminando a credibilidade do narrador.

Não sabemos se o negro é na verdade um feiticeiro, um assassino ou um simples escamador de peixe no mercado. Mas sabemos que a alemã e Maria Ignês ‘se curtiram adoidadas, a alemã pela carne nova que encontrara, Maria Ignês pela experiência que nunca lhe passara pela cabeça, tronco e membros’.

‘Bossa’

A vida sexual dos personagens, narrada sem muitos detalhes, mas com bastante entusiasmo, termina parecendo mais real do que eles próprios. O senso de humor -especialmente feliz na denominação dos capítulos do romance-, a ‘bossa’ da sintaxe e a eficiência na exposição do enredo rocambolesco fazem de ‘O Adiantado da Hora’ uma leitura fácil e divertida.

Só isso? Só isso, e mais o vazio em volta: areais a perder de vista, os redemoinhos de um mar ‘rude e terrível’, e a sensação de um absurdo que não é propriamente ‘existencial’ (ao modo de Sartre e Camus), mas parece corroer até mesmo as experiências sensoriais mais imediatas do indivíduo, submetendo-o a uma espécie de farsa alucinada, ao fim da qual, como diz a epígrafe do livro, a loucura tudo vence.

O Adiantado da Hora

Autor: Carlos Heitor Cony Editora: Objetiva Quanto: R$ 32,90 (217 págs.)’



CRÔNICA
Carlos Heitor Cony

Rosa e Machado

‘RIO DE JANEIRO – Aos 31 anos, Guimarães Rosa exercia funções diplomáticas em Hamburgo e acabara de ler ‘Brás Cubas’. Nenhuma simpatia por Machado de Assis. No diário que escrevia sobre as impressões de suas leituras, há uma anotação esquisita: ‘M. de A. usa de construção primária. (…) Adquiri certeza, quase absoluta, de que ele, antes mesmo de compor os seus livros, ia anotando: pensamentos, frases etc., em livro ou em cadernos especiais, espécie de surrão ou alforje, de onde sacava, aos punhados, ou pinçava, um a um, os elementos de reserva que houvessem resistido ao tempo. (Processo aliás muito louvável. Tanto quanto o hábito de compulsar dicionários, visível em M. de A.)’.

‘Não pretendo ler mais Machado de Assis. (…) Acho-o antipático de estilo, cheio de atitudes para embasbacar o indígena; lança mão de artifícios baratos, querendo forçar a nota de originalidade; anda sempre no mesmo trote pernóstico, o que torna tediosa a sua leitura. (…) Quanto às idéias, nada mais do que uma desoladora dissecação do egoísmo, e, o que é pior, da mais desprezível forma de egoísmo: o egoísmo dos introvertidos inteligentes. Bem, basta, chega de Machado de Assis.’

Curiosamente, Rosa também tinha lá o seu alforje de citações, tomava nota de tudo o que ouvia de interessante nas Gerais. Bem verdade que mais tarde reformulou algumas das críticas a Machado, mas nunca morreu de amores por ele.

Temos a opinião do único romancista brasileiro que se alçou a um patamar próximo ao de Machado, em pólo contrário, mas com o mesmo prestígio acadêmico, crítico e de público.

Pobre dos demais romancistas que navegaram ou navegam ainda nas mesmas águas. Se um gigante como Rosa ataca de forma tão radical outro gigante, que será dos demais que se encontram na planície, divididos nas duas vertentes básicas de nossa literatura de ficção.’



TELEVISÃO
Daniel Castro

‘Cobras’ está pior do que ‘Bang Bang’

‘A nova novela das sete da Globo, ‘Cobras & Lagartos’, não está cumprindo a missão de recuperar a audiência perdida no horário principalmente para a Record.

Na média de suas três semanas, ‘Cobras’ marca 31 pontos no Ibope da Grande São Paulo, exatamente a mesma audiência das três semanas iniciais de ‘Bang Bang’. Mas a ex-novela das sete (que teve problemas graves como a troca de autor) leva vantagem sobre a atual: era sintonizada por 50% dos televisores ligados, contra 45% de ‘Cobras & Lagartos’.

A trama de João Emanuel Carneiro, que está sendo acusada de plagiar personagens de roteiro de filme de Walter Salles, tem um desempenho inicial inferior ao de ‘Começar de Novo’ (2004/05), que foi encurtada pela cúpula da Globo por ter audiência insatisfatória. ‘Começar’ marcou 35 pontos nas três primeiras semanas.

Quem faz a festa com a ‘tragédia’ da Globo é a Record. No início de ‘Começar de Novo’, a emissora marcava apenas seis pontos no horário da novela das sete. Hoje, está com 19. A Record tirou pontos da Globo e do SBT e se beneficia atualmente de um maior número de televisores ligados às 19h do que no verão.

Na Globo, o desempenho de ‘Cobras’ não é visto como preocupante, apesar de estar abaixo da meta de 35 pontos. ‘Cobras’ tem tido uma audiência estável, enquanto ‘Bang Bang’ despencou em poucas semanas.

OUTRO CANAL

Novos tempos O departamento de jornalismo esportivo da Record se vangloriava ontem de ter feito algo inimaginável até pouco tempo atrás: foi a primeira emissora brasileira a transmitir ao vivo diretamente do hotel na Suíça onde o time do Brasil se concentrará para a Copa do Mundo a partir de segunda. A emissora comemorou como se fosse uma vitória sobre a Globo.

Franquia ‘Linha Direta’, um dos programas da Globo mais criticados, pelo tom policialesco, vai virar livro. Para comemorar os sete anos da atração, a editora Globo lançará em breve uma edição com dez histórias de crimes de grande repercussão exibidos nos especiais ‘Linha Direta – Justiça’.

Tremor A audiência do ‘reality show’ musical ‘Ídolos’, que já bateu nos 18 pontos, despencou nesta semana _dez pontos na quarta e 12 anteontem. A edição piorou depois que Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos, demitiu auxiliares e assumiu a direção do programa. Mas o ‘reality show’ foi também prejudicado pelo interesse em noticiário sobre ataques do PCC.

Síntese Comentário de um alto executivo de televisão sobre o fato de os telejornais do SBT não terem aumentado a audiência nesta semana de PCC e pânico em São Paulo: ‘O SBT tem alguns jornalistas, mas não tem jornalismo’.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo – 1

O Globo – 2

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