Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

JORNALISMO & ÉTICA
Clóvis Rossi

O que você faria?

‘BRUXELAS – O jornal belga ‘Le Soir’ puxou ontem para o alto de sua capa uma tremenda dúvida existencial: ‘Um jornal como o nosso deve ainda cobrir um evento como a Volta da França, supostamente uma das competições esportivas mais importantes do mundo?’ Razão da dúvida: ‘Não abusamos de nossos leitores ao relatar extensa e profundamente os feitos (?) dos corredores que, um ano depois, caem como moscas, suspeitos ou comprovadamente dopados?’ Fico imaginando se outras redações de outras latitudes forem tomadas por dúvidas parecidas. Os jornais brasileiros continuariam a cobrir os eventos políticos, também supostamente muito importantes (teoricamente mais que a Volta da França)? Para que, se dia após dia se suspeita ou se comprova que grande número das pessoas que são notícia tem mais problemas com a polícia do que com a política? As redações norte-americanas poderiam ser tentadas a abandonar seus cadernos de negócios, depois da seqüência de escândalos com as Enron da vida. Em geral, cadernos de negócios relatam extensa e profundamente os feitos (?) das empresas. Não obstante, um certo número delas cai como moscas, suspeitas ou comprovadamente dopadoras (dos outros, não raro no setor público). Até o orgulhoso ‘White House Press Corps’, o pessoal que cobre a Casa Branca, dormiria mal, ao saber relatou uma porção de mentiras como as armas de destruição em massa que o Iraque não tinha ou os vínculos que não havia entre Saddam Hussein e Al Qaeda. A decisão de ‘Le Soir’ foi continuar cobrindo a Volta da França. Explica um editorial de Thierry Fiorilli, um dos chefes de Redação: ‘Seguir a Volta de bem perto é como melhor podemos impedir que ela saia da rota’. Sensatez ou escapismo?’

BIOGRAFIAS & CENSURA
Ruy Castro

Não autorizada

‘PARATY – Uma repórter me perguntou se eu pensava em escrever minha autobiografia. Respondi que nem pensar, que não confiava em autobiografia de ninguém, nem na minha. ‘Quem escreve sobre si mesmo mente muito’, expliquei. Daí ela perguntou, brincando, se eu não ‘escreveria uma autobiografia, mesmo que não autorizada’. A idéia era intrigante pelo contra-senso. Tive de rir.

Mas, nos últimos dias, temi que me fizessem essa pergunta a sério. A discussão sobre biografias ‘autorizadas’ ou ‘não autorizadas’ ocupou enorme espaço na imprensa e as duas palavras ficaram quase mágicas, sem que as pessoas soubessem muito bem do que se tratava. Pois, eis.

Uma ‘biografia não autorizada’ é aquela em que o biografado (ou seus herdeiros) toma ou não conhecimento de que se está produzindo um livro a seu respeito e se dispõe ou não a colaborar com o biógrafo. O livro é publicado, e o biografado tem duas coisas a fazer: ou gosta do que leu e telefona para o autor a fim de cumprimentá-lo; ou não gosta e mete-lhe um processo. Subentende-se que só leu o livro depois que este saiu.

Já na ‘biografia autorizada’, o biógrafo e o biografado (ou seus herdeiros) fazem um acordo de papel passado que os torna quase sócios. O biografado se dispõe a dar todas as informações, abrir gavetas, ceder fotos, emprestar documentos, enfim, colaborar ao máximo com o biógrafo. Em troca, este concede ao biografado (ou aos advogados dele) o direito de ler o original antes de este ir para a gráfica, com o que o ilustre estará em condições de cortar o que não lhe agradar. Dependendo da quantidade de cortes, é como se o verdadeiro autor fosse o biografado. E, no fundo, é.

Donde uma ‘biografia autorizada’ faz tanto sentido quanto ‘uma autobiografia não autorizada’. Quer dizer: nenhum.’

JORNALISMO & VIOLÊNCIA
Folha de S. Paulo

Radialista afirma que era o alvo de atentado em São José

‘Num crime que pode ter relação com denúncias feitas por um radialista, o advogado Rodrigo Duenhas, 35, foi atingido no pescoço por um tiro no início da noite de anteontem, ao deixar o escritório no qual trabalha, em São José dos Campos (SP).

Duenhas estava no carro da advogada Tânia Lis Nogueira, com quem trabalha e que havia lhe dado uma carona, quando foi baleado por um desconhecido. O radialista João Carlos Alckmin, 55, marido de Tânia, disse crer que ele era o alvo do crime.

Segundo ele, o atentado seria motivado pelas denúncias que faz contra a máfia dos caça-níqueis na cidade.

João Alckmin, que é primo do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), disse já ter recebido cerca de 40 cartas com ameaças. O radialista disse que costumava deixar diariamente o escritório com sua mulher no mesmo carro em que o advogado foi ferido.

Anteontem, Alckmin havia saído mais cedo e Duenhas pegou carona com Tânia. O advogado seguia internado ontem na UTI da Santa Casa de Misericórdia de São José, em situação estável.’

VENEZUELA
Fabiano Maisonnave

Jornalista denuncia ameaças na Venezuela

‘EM BARINAS (VENEZUELA) – Alvo de duras críticas de porta-vozes do chavismo, o ex-editor do principal site de notícias oposicionista da Venezuela teve seu carro incendiado na quarta-feira, em Caracas.

O suposto atentado contra o jornalista Roger Santodomingo ocorreu por volta da 1h30, quando o veículo, modelo Ford Explorer, explodiu. O carro, que estava estacionado na rua, passou por uma perícia, ainda inconclusiva.

‘Até agora não tenho elementos para provar que seja um atentado contra mim, mas tenho a intuição de que o carro não pega fogo por combustão espontânea’, disse à Folha.

Na semana passada, Santodomingo havia deixado o comando do site noticierodigital.com, alegando ameaças contra a sua família. Segundo ele, as intimidações se intensificaram em meio à polêmica gerada pela decisão do governo de Hugo Chávez de não renovar a concessão da emissora oposicionista RCTV.

Poucos dias antes do fim da concessão da RCTV, Santodomingo e outros jornalistas venezuelanos foram acusados pela advogada chavista Eva Golinger de serem ‘funcionários do governo americano’, por aceitar convites de viagem do Departamento de Estado dos EUA. No caso do ex-editor, a visita foi realizada há sete anos e durou três semanas.

Segundo Santodomingo, as intimidações incluíram um bilhete ao seu filho de nove anos na escola onde se lia ‘traidor da pátria’. Em nota, a ONG Repórteres Sem Fronteiras exortou ‘as autoridades e as personalidades próximas ao poder a cessar suas acusações caluniosas e a tranqüilizar os seus militantes mais fervorosos’.

Bastante popular na classe média venezuelana, na maior parte antichavista, o noticierodigital.com mistura notícias, fóruns de discussão e blogs. Uma das seções mais conhecidas é ‘rumor’, onde os internautas votam se é verdade ou não informações como a construção de um túnel entre a residência oficial e o aeroporto militar da capital venezuelana.

Para Eleazar Díaz Rangel, diretor do jornal ‘Últimas Notícias’, o de maior tiragem da Venezuela, o caso RCTV ‘estimulou um pouco a tensão que existia antes’ entre governo e meios de comunicação oposicionistas, embora ressalve que há dúvidas sobre se Santodomingo sofreu um atentado.

O jornalista, que tem um programa semanal na emissora estatal Tves, que substituiu a RCTV, vem defendendo que nunca houve tanta liberdade de imprensa na Venezuela.

O problema, segundo Díaz Rangel, é que os meios de comunicação passaram a substituir partidos políticos: ‘Há uma crise ética. Alguns proprietários de meios praticamente tomaram o lugar de partidos de oposição e têm sido muito beligerantes em relação ao governo. Isso, de alguma maneira, incide na conduta profissional. Para os jornalistas, parece que buscar a verdade não é fundamental, mas sim estar em harmonia com os interesses político-empresariais’.’

INTERNET
Folha de S. Paulo

Cresce acesso residencial à internet no país

‘DA REUTERS – O número de brasileiros que navegou pela internet em maio a partir de casa cresceu 13,1% na comparação com abril, para o recorde de 17,9 milhões de pessoas, segundo pesquisa da Ibope/ NetRatings.

A base total de usuários da internet brasileira em qualquer ambiente -casa, trabalho, escolas etc.- permaneceu estável em maio em 33,1 milhões.

O Brasil continua a ser o país com maior tempo médio de navegação residencial por internauta.’

TV CULTURA
Mônica Bergamo

A roda viva na TV Cultura

‘Antes em fogo brando, as reações às mudanças na TV Cultura que estão sendo feitas pela gestão do jornalista Paulo Markun sobem de temperatura.

E uma das críticas mais contundentes já feitas publicamente às medidas parte justamente do coração do governo José Serra: ‘O que está causando frisson no PSDB não é a saída de minha filha [Tatiana Lobo, que comercializava as marcas da Cultura] da TV. Ela foi bem tratada pelo Markun, foi convidada para ficar e não quis. O que está causando frisson é a animosidade com que pessoas ligadas à gestão anterior da TV, do Marcos Mendonça, têm sido tratadas. Elas têm sido humilhadas’, diz José Henrique Reis Lobo, secretário de Relações Institucionais de Serra, que coordenou a campanha dele ao governo e a de Geraldo Alckmin à presidência em 2006.

Lobo diz que ‘o caso mais flagrante é o da Guiomar Namo de Mello, ex-secretária da Educação do Mário Covas, competente e admirada pelo partido. Ela foi demitida sem conversa. E foi substituída por quem? Pelo Fernando Almeida, ex-secretário de Educação da senhora Marta Suplicy [na prefeitura]’. Guiomar, contratada em janeiro para um projeto de educação na emissora, foi demitida no mês passado. ‘Recebi um papel para assinar. Foi muito truculento. Nunca fui tão desrespeitada em toda a minha vida’, diz. Guiomar, que já trabalhou no Banco Mundial e foi candidata a vice-prefeita em 1988 na chapa de Serra, diz que tentou falar com o governador. Em vão.

A TV Cultura nega que esteja tratando os demissionários ligados ao ex-presidente Marcos Mendonça com truculência. ‘Essa informação não é verdadeira. Ninguém foi tratado com descortesia nem desrespeito’, diz Marcelo Bairão, assessor de Markun. ‘Alguém sentou, conversou e explicou a situação aos que foram desligados, sejam diretores ou funcionários simples e humildes. Nem faz parte da nossa formação agir assim’, diz. Bairão reafirma que os desligamentos não têm motivação ideológica nem política. ‘São critérios técnicos, baseados em projetos da nova gestão.’’

TELEVISÃO
Daniel Castro

Em baixa no Ibope, Globo escala Corinthians

A Globo vai transmitir seis jogos do Corinthians neste mês. O segundo clube mais popular do país (atrás do Flamengo) aparecerá mais vezes na emissora líder do que a seleção brasileira _caso chegue à final da Copa América, o Brasil somará cinco jogos neste mês, segundo a tabela da Globo.

A superexposição do Corinthians é uma reação da Globo à queda de audiência do Campeonato Brasileiro. As nove primeiras rodadas do Brasileirão de 2007 renderam à Globo 20,7 pontos na Grande São Paulo. Em 2006, o mesmo número de rodadas somava 26 pontos. A queda foi de 20%. O desempenho do campeonato de 2007 é pior (queda de 24%) se for considerado que a Record dava média de 6,5 pontos em 2006 e a Band, neste ano, registra 4.

Parte desse mau desempenho se deve ao fato de neste ano haver rodadas nas tardes de quarta e sábado.

A maior audiência do Brasileirão na Globo neste ano foram 26 pontos com Santos x Corinthians, dia 3 de junho.

Só três dos seis jogos do Corinthians na Globo deverão ser transmitidos para São Paulo. O time, que já jogou na Globo contra o Sport, enfrenta hoje o Fluminense. No próximo dia 18, joga contra o Inter. Depois pega o o Náutico (dia 22), o Figueirense (25) e o Flamengo (29). O Flamengo terá três jogos na Globo, mesmo número do Palmeiras. O líder Botafogo só jogará na TV uma vez.

FORA DO AR

A jornalista Salete Lemos está fora da Cultura. Oficialmente, ela goza férias até o final do mês, mas não volta à emissora depois do dia 31. Foi substituída por Heródoto Barbeiro no ‘Jornal da Cultura’ das 22h.

BALAS

‘Vidas Opostas’ (Record) está batendo um bolão no Ibope. Anteontem, marcou 17 pontos, mesmo enfrentando ‘A Grande Família’, uma das cinco maiores audiências da Globo. A novela perdeu para o seriado, mas foi líder enquanto enfrentou o popular ‘Linha Direta’.

NOVO CANAL

Já está no ar na internet (www.fiztv.com.br) o novo canal da Abril, o Fiz, que só estréia na TVA no dia 30. A programação do canal é toda feita de vídeos de telespectadores.

MAQUIAGEM 1

A Globo já está fazendo testes de caracterização em Dalton Vigh, protagonista de ‘Duas Caras’, próxima novela das oito. Vigh aparecerá bem diferente nos primeiros oito capítulos, porque na história seu personagem fará cirurgia plástica e mudará de identidade.

MAQUIAGEM 2

Como ‘Duas Caras’ será a primeira novela da Globo em alta definição (HDTV), a caracterização terá que ser perfeita, porque a nova tecnologia evidencia eventuais falhas.

CONTO DA GUITARRA

Tarcísio Meira acertou uma participação em ‘Duas Caras’. Será Hermógenes, um estelionatário. É com ele que Vigh aprende os segredos da baixa vigarice. Aprende tanto que dará golpe no próprio mestre.’

Cássio Starling Carlos

Estréia ótima trama de ‘serial killer’

‘Amarrar, cortar, fatiar, triturar. As imagens que acompanham os créditos de ‘Dexter’ representam o início do dia vulgar de qualquer indivíduo. Mas na série, que estréia amanhã na Fox, elas marcam com o selo da ironia a trajetória de um personagem invulgar.

Dexter Morgan é um especialista em desvendar crimes a partir do exame de marcas de sangue. Até aí, suas habilidades integrariam o primeiro time das tramas detetivescas na linha ‘C.S.I.’. O que faz a diferença é seu segredo bem guardado: ele é um ‘serial killer’, mais especificamente um assassino em série de assassinos em série.

A ambigüidade moral do personagem poderia alinhá-lo na herança dos praticantes de justiça a qualquer preço e das ficções fascistóides. Mas a amoralidade dos seus atos não passa, digamos, de um álibi de roteiristas. Como ‘Família Soprano’, ‘Dexter’ aborda as dificuldades da vida contemporânea refletidas no espelho do crime.

É uma forma de reiterar que esses heróis perderam seus superpoderes e integram uma legião de carentes, que reagem se convertendo em sociopatas. A fobia social de Dexter explica em parte sua compulsão. Mas ela encontra sua expressão de forma mais bem acabada nos monólogos interiores do personagem, encarnado pelo sempre ótimo Michael C. Hall.

DEXTER

Quando: estréia amanhã, às 21h

Onde: Fox

Avaliação: ótimo’

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Folha de S. Paulo– 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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