Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

OLIMPÍADAS 2008
Adalberto Leister Filho

COI diz que atletas têm direito de se manifestar

‘O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, deu nova munição às ONGs de direitos humanos que pretendem conquistar visibilidade às suas causas durante a Olimpíada de Pequim.

O dirigente declarou ontem, em entrevista na capital chinesa, que o COI garantirá a todos os competidores o direito de dar opiniões em entrevistas.

‘Não estou preocupado com isso. Os atletas têm o livre direito de se expressar, desde que estejam em conformidade com a Carta Olímpica’, disse Rogge.

‘Se decidirem criticar a China, não há problema, inclusive na zona mista ou nas entrevistas coletivas’, acrescentou o belga, entrando em conflito aberto com os chineses pela terceira vez nos últimos dias.

Semana passada, Rogge declarou que Pequim teria número recorde de casos de doping diante dos 4.500 exames previstos para serem realizados.

A declaração foi respondida pelos chineses responsáveis pelo antidoping, temerosos de um recorde às avessas.

No meio da semana, o COI entrou em divergências com o Bocog (comitê organizador dos Jogos) após esse limitar o acesso à internet. Negociação conduzida pelo comitê obteve a liberação de endereços eletrônicos de noticiosos e de ONGs.

‘Ficamos cientes do problema e nos comunicamos com os organizadores para exercer pressão. E, no outro dia, foram liberados alguns sites’, relatou Rogge. A censura segue em relação a temas tabus como Tibete, que reivindica independência, e Falun Gong, movimento espiritual com influências budistas banido no país.

‘Não há censura ao trabalho dos jornalistas, que estão livres para reportar. Quanto à internet, que é uma ferramenta-chave para realizar seus trabalhos, solicitamos a abertura e não podemos fazer mais nada do que ficar alentando para que haja solução’, afirmou Giselle Davies, porta-voz do COI.

A negociação tem sido exaustiva e caso a caso. ‘O trabalho está progredindo. Um grupo foi criado para examinar os sites um a um. Não houve alteração em relação às promessas feitas em 2001 [quando Pequim ganhou a sede da Olimpíada]’, afirmou Kevan Gosper, chefe de imprensa do COI. Apesar da frase otimista, a insatisfação grassa. Problemas com correio eletrônico travado e internet lenta também são detectados.

‘O Bocog nos prometeu o melhor. Hoje, os credenciados têm o acesso mais amplo possível. Isso é sem precedentes na China’, afirmou Rogge, que não se esquivou nem de comentar polêmica sobre o times chinês.

Um jornalista questionou se o COI iria punir a ginasta Yang Yun, que confessou, em vídeo postado no Youtube, ter 14 anos nos Jogos de Sydney, em 2000. Ela ganhou dois bronzes.

‘Boa pergunta. Não tinha pensado em mudar as medalhas. Mas é bem interessante pensar’, disse, agravando ainda mais polêmica criada pelos EUA, que acusam a China de contar em Pequim com ginastas abaixo da idade permitida.’

 

 

Alexis Lacroix

Censura fina

‘No ‘Império do Meio’, os escritores parecem estar condenados a serem amordaçados, ou, pelo menos, a ‘autolimitar’ o exercício da liberdade de expressão.

No momento em que a comunidade internacional volta sua atenção à China, a ‘Le Magazine Littéraire’ quis aprofundar sua reflexão sobre o que está em jogo na criação literária dentro de um regime de censura.

Como se dá a ingerência do poder do Estado na literatura chinesa? A censura paralisa os escritores? Ou os leva a enveredar por caminhos esquivos e manobrar para escapar das proibições? Até que ponto sua situação é comparável com a dos dissidentes soviéticos?

Ainda existe a possibilidade de uma abertura?

Essas perguntas foram discutidas por dois conhecedores da realidade do país: o sinólogo francês Jean-Luc Domenach, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais, e o editor Philippe Picquier.

PERGUNTA – Quais são as relações entre literatura e censura?

PHILIPPE PICQUIER – Hoje a censura na China assume formas muito diferentes das que prevaleceram nas primeiras décadas do regime comunista. Durante a Revolução Cultural, a censura foi implacável. Desde então, os escritores vêm tendendo à autocensura.

Além disso, a situação de muitos escritores tornou-se mais nuançada. Desde que não falem nem do Partido Comunista nem dos dirigentes, da religião ou do Tibete, gozam de certa margem de manobra, e a censura os deixa em paz.

Quando assinam produtos muito bons, impregnados de referências ocidentais, mas fundamentalmente destituídos de qualquer conotação política, os autores chineses não enfrentam nenhuma dificuldade.

Nessa situação ambígua, muitos foram levados a aplicar a ‘teoria da evasão’. Com apenas 50 anos, escritores como Yan Lianke, Bi Feiyu ou Mo Yan às vezes se autocensuram.

Mas encontraram na paródia e na ironia e, de modo mais geral, na insistência no ‘valor alusivo das coisas’ meios de contornar o dispositivo estatal e implacável da censura.

Ao preço de uma grande verborragia ou disfarçando seu discurso como transposição histórica, esses escritores ‘codificam’ suas mensagens. Condenam a opressão, mas o fazem de modo oblíquo.

Tanto Mo Yan quanto Yan Lianke são filhos da Revolução Cultural e das instituições -no caso, do Exército, do qual saíram. São mestres em ‘mostrar as nuvens para designar a Lua’.

Assim, enquanto Mo Yan não pára de denunciar alegoricamente a burocracia do Exército, em histórias que freqüentemente caem no fantástico, como é ‘O País da Bebida’, Yan Lianke, no grande romance ‘O Sonho da Vila dos Ding’ (de divulgação proibida), põe em cena seu povoado natal, contaminado pela Aids.

JEAN-LUC DOMENACH – Assim como o sr., acredito que o discurso onipresente de alguns militantes ocidentais dos direitos humanos é inoperante no caso chinês.

Nos últimos meses, a mobilização desses ativistas, superexposta na mídia, sugere que nada acontece na China e que a situação dos direitos humanos não parou de piorar nas últimas duas décadas.

Na realidade, Philippe Picquier tem razão em lembrar que na China as verdadeiras questões em jogo não podem ser reduzidas a um confronto caricatural entre o mutismo da sociedade civil e o do poder.

Mas minha interpretação da situação atual certamente seria bastante diferente da sua. Como o sr., eu constato que os chineses não passaram os últimos 20 anos inertes. Tanto as classes populares quanto os intelectuais não pararam de inventar estratégias para fazer frente ao controle das autoridades.

É por isso que o conceito de ‘contorno’, aplicado às estratégias usadas pelos escritores, me parece igualmente apropriado.

PERGUNTA – Como se dá o contorno da censura?

PICQUIER – Os escritores atuais utilizam a censura de forma inteligente. Fazendo a ficção funcionar como máquina para tratar obliquamente a realidade que os cerca, eles limam as grades de sua prisão cotidiana, deixando a seus leitores o encargo de ler nas entrelinhas, para levar adiante sua reflexão.

Em seus primeiros livros (peças de teatro ou narrativas breves), [o Prêmio Nobel de 2000] Gao Xinjiang lançou luz sobre o absurdo do mundo por meio de pequenos toques impressionistas.

Em seu romance ‘A Serviço do Povo’ [ed. Record], Yan Lianke não se contenta em usar a ironia como arma e narrar a paixão tórrida da mulher de um coronel por seu jardineiro -ele solapa de modo sub-reptício os alicerces da fé na instituição.

Não é por acaso que ‘A Serviço do Povo’ foi proibido, tendo seus exemplares impressos sido apreendidos. Mas o romance de Yan Lianke pôde ser publicado fora do país.

E, apesar disso, seu autor foi autorizado a continuar a escrever e publicar, além de conservar sua residência e o veículo ao qual seu cargo lhe dava direito.

Sob uma condição expressa, porém: que se mantenha calado no espaço público.

Essa anedota ilustra de maneira exemplar o jogo existente na China entre a paisagem literária e as autoridades.

Não existe conivência entre os dois lados. Os escritores chineses não têm nenhum sentimento de cumplicidade para com as instituições responsáveis pela censura. Mas tolera-se uma crítica velada, desde que não sejam atravessados os limites do confronto.

DOMENACH – O contorno é a atitude mais freqüente, mas não é universal. Também há dissidentes -e especialmente escritoras dissidentes, como Yu Jie- que não hesitam em travar um braço-de-ferro direto com o poder, pois acreditam que a luta aberta comporta a hipótese de vitória.

Eles sobrevivem com dificuldade, já que o poder os persegue, como, por exemplo, com a destruição de endereços e mensagens de e-mail. Mesmo nesse caso, porém, existem acomodações inesperadas.

A escritora Yu Jie me explicou recentemente que foi autorizada a lecionar um mês por ano em uma universidade norte-americana.

Considerando esses casos, é possível pensar que a situação vigente na China hoje se assemelha um pouco aos últimos anos da União Soviética.

Aliás, tudo parece indicar uma inflexão do domínio do poder. Não se trata mais de controlar ou reprimir tudo.

O essencial hoje é aplicar a vigilância em relação apenas aos pontos mais importantes.

Os temas mais ‘radioativos’ para os escritores são tudo aquilo que diz respeito aos dissidentes, a Taiwan, aos dirigentes e à vida privada destes.

PERGUNTA – As produções editoriais chinesas recentes refletem essa flexibilização das restrições?

DOMENACH – Trouxe de minhas últimas viagens à China uma série de textos totalmente novos na paisagem editorial. São livros de memórias extremamente originais, assinados ou por ex-dirigentes que sobreviveram ou por seus secretários, suas mulheres ou seus filhos.

É claro que essas biografias obedecem às regras de prudência elementar, evitando fazer qualquer negação crítica.

Os autores nunca incriminam diretamente os governos chineses passados -limitam-se a sugerir que o ‘herói’ de suas memórias foi maltratado pelo poder da época.

Cada vez mais mulheres de dirigentes se afirmam, após as mortes de seus maridos, como administradoras da memória deles ou até mesmo depositárias de seus legados.

Foi o caso, recentemente, da mulher de Deng Xiaoping, que também escreveu suas memórias com muita sutileza.

Percebe-se também uma ‘perestroika’ literária, com a ocorrência de um interesse crescente do público chinês pelo indivíduo e pela família.

PERGUNTA – É a tradução chinesa da revolução individualista?

DOMENACH – As estratégias da intimidade se impõem como chaves para compreender o conjunto da realidade social, inclusive na cúpula do Estado.

PICQUIER – Para voltar às estratégias da intimidade, acrescentaria que o novo imaginário chinês é dominado pelo slogan de Deng Xiaoping -’enriqueçam!’. Assim, não é por acaso que Confúcio esteja sendo rapidamente reabilitado hoje.

E, com ele, não apenas a célula familiar e a intimidade do casal, mas também os conceitos de ordem e hierarquia: permaneçam confucianos e, na literatura, poderão fazer o que melhor lhes convier.

PERGUNTA – Nesse contexto, como os escritores chineses podem se engajar? Ingressando na dissidência?

PICQUIER – De uma maneira diferente da dos intelectuais ocidentais, é claro.

Em razão das dificuldades inerentes a sua situação, muitos se mostram pragmáticos.

Assim como os editores, na ausência de alternativa melhor, aceitam a evolução em curso na produção cultural: de um lado o domínio do Estado sobre todas as editoras; de outro, um relaxamento progressivo do controle do Estado sobre a difusão e distribuição de livros e sobre o controle dos direitos autorais.

Se, por outro lado, um escritor não aceitar esse estado de coisas e exprimir abertamente sua desaprovação, é obrigado a fugir para o exterior ou a refugiar-se num ‘exílio interno’, que lhe proíbe qualquer manifestação pública.

PERGUNTA – A perestroika literária que, segundo os srs., existe até certo ponto na China autoriza a divulgação de escritos sobre a vida íntima, mas continua a proibir qualquer questionamento sério sobre a história do regime. Por que, então, os intelectuais chineses, contrariamente aos dissidentes soviéticos, não recorreram aos jornais clandestinos (‘samizdats’)?

DOMENACH – Os intelectuais chineses têm a impressão de terem perdido uma série de batalhas. Desde os anos 1930, os escritores comunistas afirmaram seu predomínio, derrotando os social-democratas.

Mais recentemente, a batalha democrática voltou-se contra seus principais arquitetos: os escritores democratas, impregnados pelos valores ocidentais, foram arrasados.

Desde então, eles nivelaram suas ambições por baixo. Sua tendência passou a ser sobretudo de ater-se aos limites impostos pelo poder.

Quanto aos ‘samizdats’, a primeira razão pela qual não existem na China é um problema de recepção: simplesmente não haveria muitas pessoas para lê-los e para sustentar seus autores.

Além disso, o boom econômico modificou profundamente o cotidiano dos chineses, como os próprios democratas se esforçam para reconhecer.

Hoje, muitos dirigentes chineses têm consciência de que a passagem para a democracia é algo que, no longo prazo, não poderá ser evitado.

Embora os ocidentais não os levem a sério, a maioria dos chineses -incluindo os escritores- pressente que a situação de seu país talvez esteja menos bloqueada do que parece.

Finalmente, a democracia ocidental, vista a partir da China, está longe de representar um modelo invejável.

PERGUNTA – Os escritores chineses também estão impregnados por esse relativismo?

PICQUIER – Os ocidentais, quando se prendem a seu conceito de universal e de direitos humanos, correm o risco de romper o diálogo com a China. Seria ainda mais prejudicial corrermos o risco de, com isso, fazer abortar as tentativas democráticas autênticas na China.

Longe de nossas representações nitidamente delimitadas, a maioria dos escritores chineses prima por navegar por vias oblíquas.

Não é por acaso que, como vem ocorrendo na Índia, um número cada vez maior de mulheres vem ingressando na carreira de escritoras.

DOMENACH – Com a exceção de uma mulher, Chai Ling, que se destacou na dissidência chinesa em 1989, todos os dissidentes mais conhecidos até agora têm sido homens.

Mas o fenômeno mais marcante dos últimos anos não é, portanto, a tentativa de sobrevivência dos democratas reprimidos em 1989 [no massacre de Tiananmen] -é a emergência de uma geração literária, em grande parte feminina, que é portadora de valores alternativos e, a meu ver, promissores.

A íntegra deste texto foi publicada no ‘Magazine Littéraire’.

Tradução de Clara Allain.’

 

 

Brice Pedroletti

Muralha virtual

‘Com 253 milhões de chineses conectados, segundo as últimas estatísticas do Centro de Informação de Rede de Internet da China (CNNIC, na sigla em inglês), o país é o primeiro do mundo em uso da rede, à frente dos EUA, que possuem cerca de 230 milhões de internautas.

O número de chineses que se conectam à internet (80% usam banda larga) saltou 56,2% desde junho de 2007. E a China ainda tem muito potencial, pois o índice de penetração da rede (de 19,1%) ainda é modesto -no mundo, esse índice é 21,1% em média, nos EUA e na Coréia do Sul ultrapassa os 71% e, na Índia, é de apenas 5,3%.

As apostas são grandes, tanto em termos econômicos quanto políticos. Pois nas residências chinesas existem hoje 84,7 milhões de computadores pessoais ligados à rede.

Três quartos dos internautas se conectam de suas casas, 39,2% em cibercafés, abertos 24 horas. Cerca de 107 milhões de chineses dizem ter um blog ou um espaço pessoal.

A música on-line lidera suas ocupações preferidas (84,5% das pessoas questionadas), seguida pelas notícias (81,5%), mensagens instantâneas (77,2%) e vídeos on-line (71%).

Mudando a mídia

Esse florescimento de canais de expressão e de informação abalou a situação política na China: em um contexto em que a mídia continua submetida à censura das autoridades e as pesquisas independentes são proibidas, a internet é o barômetro de uma opinião pública às vezes embrutecida, que não tem voz sobre o assunto.

A grande reatividade dos internautas catalisa mudanças na imprensa, que não pode ignorar os debates na rede.

‘As reportagens de um cidadão blogueiro como Zola [pseudônimo] fizeram as autoridades compreenderem que era ilusório impor um blecaute de informação na era dos blogs. O regime tornou-se, portanto, mais sutil em sua abordagem.

Autorizou maior cobertura da mídia durante eventos como os levantes de Wengan [na Província de Guizhou, em junho], o que acabou por enfraquecer a influência dos blogs’, avalia Rebecca MacKinnon, professora de novas mídias no Centro de Jornalismo da Universidade de Hong Kong.

Para manter o controle diante da formidável expansão da internet no país, Pequim empregou um arsenal legislativo, tecnológico e humano: é o caso da ciberpolícia ou, ainda, dos ‘comentaristas de internet’, pagos pelo Partido Comunista.

A ‘grande muralha virtual’ bloqueia assim o acesso a sites locais ou estrangeiros considerados delicados.

A concessão pelas autoridades de licenças aos grandes atores da web (portais, vídeos on-line, comunidades) permite obter a fidelidade destes últimos.

Assim, no final de junho a administração tutelar do audiovisual chinês concedeu licenças para 247 sites de vídeos chineses, mas… não aos três maiores (Youku, Tudou e 56), nos quais os internautas tendiam a colocar na rede filmes de incidentes perturbadores, às vezes captados por telefones celulares.

Um deles, 56.com, esteve inacessível mais de duas semanas antes de voltar a funcionar, provocando calafrios nos fundos americanos e japoneses que investiram milhões de dólares nele. Desde então, os três ‘YouTube’ chineses compreenderam a lição.

Este texto foi publicado no ‘Le Monde’. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.’

 

 

Ernane Guimarães Neto

Trocando em miudinhos

‘Além de palco de embates esportivos de alto nível, a Olimpíada transforma Pequim em cartaz de uma miríade de anúncios de multinacionais. Na capital de um mercado emergente de 1,3 bilhão de consumidores, a publicidade constante dos parceiros, patrocinadores e fornecedores oficiais do evento ganha uma nova forma: o ideograma.

Como a escrita chinesa não é alfabética e o conhecimento dos idiomas ocidentais ainda é restrito à elite, as empresas adaptam os nomes de seus produtos -e aproveitam para incrementar suas marcas.

Basta escolher, para cada sílaba do nome, um ideograma com significado atraente ao consumidor, mesmo que a sonoridade não seja muito fiel.

Um exemplo tradicional de sucesso é a Coca-Cola, cuja popular tradução chinesa, (Kekou Kele), pode ser lida como ‘cola gostosa’ ou, desmembrando-se mais os radicais, algo como ‘alegria gostosa e agradável’.

Outras marcas prezam ainda menos a adaptação da sonoridade. Os cosméticos Revlon, cuja pronúncia seria adaptada com dificuldade para o chinês, tornou-se (Luhuanong), algo como ‘aparência florescente intensa’ -formulação tirada de um poema clássico de Li Bai (século 8º) que descreve a beleza de uma mulher.

Nesta Olimpíada, patrocinadores como a Johnson & Johnson e a Budweiser exibem logotipos com ideogramas.

No primeiro caso, a transliteração escolhida da sonoridade inglesa foi (Qiangsheng), que significa algo como ‘vida melhor’. A marca de cerveja, que desde junho faz parte da InBev. utiliza a forma (Baiwei, ‘Força cem’).

Enquanto diversas marcas ocidentais se mostram adaptadas ao ingresso na China, o inverso ainda não é verdade.

Ainda neste século, em que a China se levanta como gigante comercial, persistem anedotas como a dos biscoitos (kaka), que, na Rússia, foram um fracasso: em russo a palavra ‘kaka’ tem um sentido escatológico semelhante, mas mais chulo, a ‘caca’ em português.’

 

 

MÍDIA & POLÍTICA
Alan Gripp e Maria Clara Cabral

Teles vão ao STF contra divulgação de escutas

‘As operadoras de telefonia declararam guerra à CPI dos Grampos na Câmara e entraram com um recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) para não entregarem os dados de seus clientes que foram alvo de escutas telefônicas em 2007.

Por meio de um mandado de segurança, impetrado na última sexta-feira, as empresas pediram ao STF para não enviar à CPI informações sobre as 409 mil escutas realizadas no ano passado. Não há prazo para que o tribunal se manifeste.

Requerimento aprovado pela CPI obriga as operadoras a enviarem cópias dos mandados judiciais que autorizaram, no ano passado, as interceptações das conversas. O prazo para entrega vence amanhã, mas até sexta nenhuma empresa havia cumprido a determinação.

O presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), afirmou que não concederá mais tempo às operadoras. Ele disse que o caso será analisado na próxima reunião da comissão, terça-feira, e não descartou a votação de pedidos de busca e apreensão.

‘Qual é o temor das operadoras? Será que há algo de podre a ser mostrado? Tem que haver respeito com a Câmara como instituição’, afirma Itagiba.

As ordens judiciais permitirão à CPI conhecer todas as pessoas grampeadas em 2007 e o motivo das escutas. Embora as operadoras tenham informado 409 mil escutas no ano passado, especialistas acreditam em um número maior.

Seis operadoras solicitaram à CPI mais prazo para entregar os dados, entre 15 e 60 dias. Executivos de quatro empresas disseram à Folha que a idéia é ganhar tempo para montar a melhor estratégia jurídica para anular o requerimento.

No recurso enviado ao STF, os advogados das operadoras de telefonia dizem não reconhecer a autoridade da CPI para determinar a quebra de sigilo dos processos que deram origem aos mandados. Alegam ainda que, se cumprirem a determinação da CPI, vão quebrar o sigilo de investigações que correm em segredo de Justiça e que também poderão ser transformadas em réu em processos por quebra de sigilo.

A Telefônica foi a única operadora a deixar a estratégia clara. Em ofício à CPI, obtido pela Folha, a empresa alega que o repasse dos dados ‘caracterizaria uma quebra de segredo de justiça’ e pede para ser desobrigada de enviar os dados. A resposta de Itagiba é não.

Outra operadora, a Sercomtel, que atua no Paraná, informou à CPI que não tem como atender ao requerimento, já que as ordens judiciais foram ‘totalmente eliminadas, não se guardando cópia (sic) dos mesmos’. O caso será analisado separadamente pelos deputados.

Por meio de sua assessoria, a Sercomtel disse que não há lei que a obrigue a manter as informações. E que a decisão de eliminar os documentos é um procedimento interno adotado para resguardar a empresa de possíveis vazamentos.

A CPI alega que os dados são a única forma de descobrir se há abusos nos grampos autorizados. ‘Não somos contra o grampo, e sim contra a sua banalização’, diz Itagiba.

Um executivo de uma das gigantes do setor disse à Folha que os números de grampos estão subestimados. Segundo ele, foram feitas entre 1,5 milhão e 2 milhões de escutas nos últimos 18 meses. Nos cálculos dele, isso significa que cerca de 9 milhões de pessoas tiveram suas conversas gravadas.

Em eventual briga judicial, a CPI se comprometerá a manter o sigilo das informações. ‘Quem vazar, que pague com o seu mandato’, afirma o relator, Nelson Pellegrino (PT-BA).’

 

 

POLÍTICA CULTURAL
Carlos Heitor Cony

Ser ou estar ministro

‘Quando convidado para ministro da Cultura, ainda no primeiro governo de Lula, o cantor e compositor Gilberto Gil levantou a premissa: não podia aceitar um cargo que conflitaria com sua vida profissional, que exigiria deslocamentos não compatíveis com uma função que deveria ser exercida em regime de tempo integral.

O presidente compreendeu a questão levantada honestamente pelo artista e confirmou o convite, que afinal foi aceito. No segundo governo, Lula manteve o ministro que enfrentava o problema das verbas insuficientes para rodar a máquina oficial destinada a criar e desenvolver atos de cultura.

Não deixava de ser uma situação estranha. Um funcionário graduado do governo brasileiro em freqüentes turnês artísticas pelo mundo afora. Difícil conciliar as duas funções, sobretudo num ministério sem verbas e incentivo oficial. Na realidade, apesar de seu jogo de cintura pessoal e de sua habilidade política, Gil era criticado pela situação e pela oposição, que cobrava dele uma presença física no organograma da vida pública.

Para Gil, foi fácil repetir o acadêmico Eduardo Portella, que ao deixar o Ministério da Educação declarou que não era ministro mas estava ministro. Lembro um exemplo antigo: ao ser nomeado prefeito de Belo Horizonte, o médico Juscelino Kubitschek avisou ao governador que o nomeara sua intenção de continuar dando expediente no seu consultório e num hospital. Na parte da manhã vestia o avental, clinicava e operava. Na parte da tarde, cuidava da cidade criando metas de trabalho.

Não deu para manter o esquema por muito tempo. O volume das obras o exigia, despiu o avental para nunca mais vesti-lo. Sua vocação era a administração. A vocação de Gilberto é outra.’

 

 

ELEIÇÕES / EUA
Sérgio Dávila

Mídia agora faz cobertura mais negativa de democrata

‘Há duas semanas, enquanto Barack Obama monopolizava os refletores ao realizar uma viagem considerada bem-sucedida ao Oriente Médio -incluindo os dois fronts norte-americanos atuais, Iraque e Afeganistão- e à Europa, a campanha de John McCain colocou no ar um anúncio-provocação na internet. ‘The media is in love’ (a mídia está apaixonada) era o título do vídeo, uma coletânea de cenas de favoritismo explícito de repórteres.

Os números pareciam amparar o republicano. Segundo o instituto conservador Media Research Center, os oito dias do périplo do democrata renderam 92 minutos nos principais telejornais das três maiores emissoras abertas dos EUA; viagem de sete dias feita por McCain em março para alguns dos lugares visitados por Obama valeu apenas oito minutos e meio de cobertura nos mesmos veículos de TV.

O republicano pode descansar. De acordo com estudo recém-divulgado pelo Center for Media and Public Affairs da Universidade George Mason, da Virgínia, muita cobertura não quer dizer cobertura positiva. De 8 de junho a 21 de julho, comentários sobre Obama feitos nos principais telejornais e emissoras noticiosas norte-americanos foram mais negativos (72%) que positivos (28%). No mesmo período, McCain foi alvo de 57% de comentários negativos e 43% de positivos.

Batizado ‘Mídia Detona Obama (Isso Não É um Erro de Digitação)’, o levantamento foi conduzido por Robert Lichter, da Fox News, e analisou 249 reportagens, que tomaram 7 horas e 38 minutos de programação. ‘A pesquisa deveria acabar de vez com o pensamento tolo de que mais cobertura é necessariamente cobertura mais positiva’, disse o comentarista conservador.

‘Obama substituiu McCain como o candidato favorito da mídia após New Hampshire’, disse Lichter, referindo-se às prévias democratas realizadas em janeiro naquele Estado, que deram a vitória a Hillary Clinton. ‘Mas agora as emissoras votam em ambos.’

De fato, o clima de fim de lua-de-mel em relação a Obama pode ser sentido numa passada rápida pelos diversos noticiários da TV. Dos títulos no pé das telas às chamadas entre um bloco de comerciais e outros, o tom é diferente do que valeu sátira no programa humorístico ‘Saturday Night Live’.

E o público começa a perceber a virada. De acordo com levantamento feito na semana passada pelo Pew Research Center, 42% dos ouvidos acham que a imprensa local não beneficia nenhum dos candidatos. É muito, mas mesma porcentagem ainda vê predileção por Obama, ante apenas 6% que acreditam que a mídia protege McCain.’

 

 

TV PAGA
Elvira Lobato

O futuro das TVs a cabo

‘NORDESTINO ‘arretado’, José Siderley Menezes desafiou as autoridades quando instalou, há 16 anos, uma das primeiras operadoras de TV a cabo do país, a Sidy’s TV, na pequena Currais Novos, no Rio Grande do Norte. Por não ter autorização do governo, foi perseguido e teve sua empresa fechada duas vezes pelo Ministério das Comunicações.

Menezes comprou uma concessão, por R$ 85 mil, para regularizar seu negócio, em 2001. Na sua clientela há gente tão pobre que paga a mensalidade com o Bolsa Família.

A Sidy’s é praticamente a única fonte de entretenimento em Currais Novos, onde a TV aberta só chega por parabólica. O que mais atrai os moradores é o canal com programação local, que mostra festas, artistas e assuntos da cidade.

Pequenas empresas de TV a cabo, como a Sidy’s, sobrevivem em várias cidades. No Estado de São Paulo há o exemplo da TVC Santo Anastácio. Fica na cidade de Santo Anastácio e foi inaugurada há 20 anos pelo monsenhor José Antônio de Lima. O religioso, tal como Menezes, desafiou as autoridades e sua TV também esteve fechada por determinação do antigo Dentel.

O que será destas pequenas operadoras diante da pressão das companhias telefônicas sobre o mercado de televisão por assinatura? Alegam as teles que a convergência tecnológica permite que a mesma infra-estrutura de cabos ofereça televisão, telefonia e internet e que os clientes em todo o mundo querem os serviços no mesmo pacote.

Haverá futuro para os pequenos independentes nesse cenário? Fiz a pergunta a José Antônio Lima e a Siderley e, para minha surpresa, eles estão otimistas. Não acreditam que as gigantescas teles consigam superar o diferencial que eles têm, que é o conteúdo local, os programas elaborados pela própria comunidade. ‘As telefônicas não vão gastar dinheiro numa cidade como a minha. O interesse delas é pelas grandes cidades’, opina Siderley. O monsenhor é da mesma opinião.

Os dois estão investindo dinheiro para oferecer acesso à internet em banda larga, por suas redes de cabo, e sonham em oferecer telefonia pela internet -a Voip. ‘Sou pequeno, mas sou atrevido’, diz Siderley.

Enquanto os pequenos sonham com o futuro, as grandes operadoras de TV a cabo estão sendo adquiridas pelas teles. A Embratel tem grande participação acionária na Net, que engoliu duas importantes empresas do setor, Vivax e Big TV, de 2006 para cá. A Telefônica comprou parte da TVA, do grupo Abril, e a Oi/Telemar adquiriu a Way TV, de Minas Gerais. O avanço das teles só não é maior porque está em vigor a Lei da TV a Cabo, que as proíbe de controlar operações de TV a cabo dentro de sua área de concessão de telefonia. Mesmo assim, a Oi comprou a Way TV. A Câmara discute um projeto para revogar a Lei da TV a Cabo, liberando as teles para explorar o serviço.’

 

 

TELEVISÃO
Daniel Castro

SBT inicia produção de reality shows sobre beleza e moda

‘O SBT decidiu na semana passada produzir dois novos reality shows. O mais avançado deles é ‘Dez Anos Mais Jovem’, que já tem apresentadora escolhida (Ligia Mendes, de ‘Astros’). O outro programa é ‘Esquadrão da Moda’. Versões estrangeiras das duas atrações são exibidas pelo canal Discovery Home & Health.

‘Dez Anos Mais Jovem’ é um reality show de beleza, mas sem cirurgias plásticas. Em cada episódio, um participante é colocado em um box de vidro, em um local público, e os transeuntes lhe atribuem uma idade.

O desafio do programa é fazer o candidato aparentar dez anos menos do que lhe foi atribuído pela média do público. Recorre-se de tratamentos de pele (peeling, botox) e cabelo a maquiagem e roupas novas.

Após a ‘transformação’, o participante volta à cabine de vidro e o público avalia se o programa atingiu seu objetivo.

Em breve, o SBT abrirá inscrições em seu site para selecionar candidatos. A gravação de um piloto está prevista.

O processo de ‘Esquadrão da Moda’ ainda está muito embrionário. A emissora atualmente faz sondagens para descobrir potenciais apresentadores, como consultores de moda. Serão dois âncoras.

O programa começa com a indicação, por amigos, de alguém que eles consideram ter uma imagem ruim, cafona, desatualizada. Essa pessoa é abordada pelos apresentadores e, se topar a ‘brincadeira’, recebe um cartão de crédito com alguns milhares de reais para gastar em roupas. O participante tem que abrir seu guarda-roupa aos consultores de moda, que dirão, com muito esculacho, o que está inadequado.

A ‘transformação’ também inclui cabelo e maquiagem.

ALICE NÃO MORA MAIS AQUI

No ar em ‘Chamas da Vida’, da Record, Andreia Horta (foto), 25, é a protagonista de ‘Alice’, série que a HBO exibirá em toda a América Latina a partir de setembro. ‘Alice tem uma vida pacata em Palmas, Tocantins, quando tem que vir a São Paulo porque o pai morre. Ela pretendia voltar no dia seguinte, mas, devido a uma série de problemas, acaba ficando, se envolvendo com a cidade, se enrascando, gostando de moda, tecnologia e glamour’, adianta Andreia. Mineira de Juiz de Fora, a atriz estreou em ‘JK’ (Globo, 2005). Depois, fez ‘Alta Estação’ (Record, 2006). Em ‘Chamas’, interpreta uma garota que fica viciada em drogas sintéticas.

CINDERELA

Pioneira na TV brasileira em produções com transformações estéticas, Marcia Goldschmidt vai voltar a exibir no ‘Marcia’ (Band) o quadro ‘Espelho, Espelho Meu’, maior sucesso do extinto ‘Jogo da Vida’. Na atração, pessoas insatisfeitas com suas aparências são submetidas a uma transformação em 48 horas. No final do processo, as câmeras registram sua reação diante de um espelho enorme. ‘Resolvi voltar com o ‘Espelho’ porque até hoje as pessoas mandam e-mails pedindo para participar’, justifica Marcia.

NEOLOGISMO

As aulas voltaram nos colégios particulares paulistas com uma nova gíria: Zé Bob. O personagem de Carmo Dalla Vecchia em ‘A Favorita’ designa aquele garoto que não é exatamente feio nem bonito, mas que se acha.

TACADA

Próxima novela das oito, ‘Caminho das Índias’ apresentará um esporte pouco conhecido no Brasil, o críquete. Disputado com tacos, lembra o beisebol. ‘Na Índia, o jogo é uma febre nacional’, diz a autora Glória Perez.

SÓ BAIXINHOS

A Viacom lança em breve o canal Nick Jr., que os telespectadores de TV paga já conhecem como bloco de programação para crianças de até sete anos do Nickelodeon -cada vez mais ‘adulto’, com séries tipo ‘Agente 86’.

PERGUNTA INDISCRETA

FOLHA – Você aceitaria um convite da Record?

GLÓRIA PIRES (atriz-símbolo da Globo) – Tenho um contrato longo com a Globo. Mas acho muito importante todos esses campos que estão surgindo. A Globo é essa estrutura fabulosa porque Roberto Marinho persistiu. Ele inventou esse negócio. Os novos campos que estão surgindo precisam trabalhar isso, para serem duradouros.’

 

 

Manuela Martinez

Em Salvador, ‘Ó Paí, Ó’ vira série de TV

‘Um ano após o lançamento do filme homônimo, estão sendo gravados em Salvador seis episódios da série ‘Ó Paí, Ó’, a ser exibido pela Globo, provavelmente em setembro. Para dar autenticidade ao trabalho, a diretora-geral Monique Gardenberg (a mesma do filme) exigiu que a locação principal fosse o Pelourinho, no centro da cidade.

Lázaro Ramos é Roque, o protagonista da série, um aspirante a cantor que mora num cortiço no centro histórico de Salvador. No intervalo das gravações, o ator interage com os personagens reais do Pelourinho, como algumas estudantes que, num dia desta semana, abandonaram as aulas numa escola próxima para acompanhar a gravação. ‘Vocês não vão para a aula, não?’, brinca.

A série traz os mesmos atores do filme, com exceção de Wagner Moura, substituído por Matheus Nachtergaele no papel do vilão Queixão. ‘É a continuidade de uma história que começou no teatro, foi para o cinema e agora surge na TV’, diz Lázaro. Na série, assim como no filme, o ator participa da maioria dos números musicais apresentados.

Para realizar as gravações, a Polícia Militar interditou algumas áreas do Pelourinho, o que provocou irritação de comerciantes e motoristas de táxi. ‘A gente paga imposto e quer que as pessoas tenham acesso às ruas do Pelourinho’, disse o taxista Carlos dos Santos, 54. Apesar das reclamações, muitos curiosos acompanharam as gravações. ‘Você deixa eu tirar uma foto com o Lázaro Ramos?’, indaga Rita da Conceição, 32, que geralmente percorre as ladeiras do centro histórico cobrando de turistas para se deixar fotografar com seus trajes típicos de baiana.

‘O seriado dá um pouco mais de profundidade no dia-a-dia dessas pessoas, você mergulha mais nas particularidades e idiossincrasias do povo baiano’, disse o diretor Mauro Lima, que comanda dois episódios da série, além de ser um dos roteiristas da adaptação. Carolina Jabor e Olívia Guimarães dirigem um episódio cada. As tramas foram criadas por Guel Arraes e Jorge Furtado, também responsáveis pela redação final.

Na adaptação para TV, foi mantida o mesmo caráter regional do filme. Os diálogos, marcados por gírias baianas e palavras em iorubá, foram construídos em conjunto com os atores do Bando de Teatro Olodum, que também participam da série. ‘A gente teve que mudar muita coisa. porque as pessoas não estavam entendendo’, disse o ator Lyu Alison, que na trama interpreta o travesti Yolanda. ‘Ó Paí, Ó’ também terá participações de Stênio Garcia, João Miguel, Virgínia Cavendish, Nanda Costa e Preta Gil.’

 

 

Bia Abramo

Maisa e a vida diante das câmeras

‘ELA SÓ tem seis anos e hoje estréia em um programa de entrevistas junto com Silvio Santos. Ela só tem seis anos e é uma espécie de celebridade no YouTube, onde diversos vídeos com cenas da menina estão disponíveis. Ela só tem seis anos e já passou metade da vida em frente às câmeras. Ela só tem seis anos e uma de suas tarefas é fazer frente à audiência do programa da Xuxa…

É natural, naturalíssimo, que, com tudo isso no horizonte, a pequena Maisa, apresentadora do ‘Sábado Animado’, comporte-se com um extremo de excitação. E é isso mesmo, esse estado alterado, que produz suas gracinhas e suas gafes. A menina é desenvolta e graciosa, não há dúvida, mas é também dona de uma espontaneidade fabricada e de um exibicionismo desconcertante.

A combinação é explosiva, bem na medida de um certo gosto televisivo pelo excepcional que beira o grotesco. Não é à toa que Maisa tem sido um dos personagens que freqüentam com uma certa constância o ‘Top 5’ do ‘CQC’. Também não é por acaso que, recentemente, os pais e o SBT tentaram barrar o assédio da imprensa, vetando entrevistas com a menina.

Sua performance na televisão, apresentando desenhos animados e conduzindo game shows com os telespectadores, provoca sentimentos muito ambíguos.

Crianças como protagonistas na mídia sempre o fizeram. O talento precoce tem um lado encantador, mas, ao mesmo tempo, repulsivo -sobretudo, quando, em vez de talento, trata-se simplesmente de um jeito, da macaqueação desavisada de gestos e maneiras adultas. Aquilo que parece adorável, segundo algumas sensibilidades, pode provocar também o sarcasmo em outras. E reagir de forma sarcástica diante de uma criança é algo muito, muito brutal.

Não por que as crianças sejam ‘inocentes’, como se acreditava antes da psicanálise e ainda resiste como clichê. (Clichê, aliás, que a TV adora.) Mas por que elas ainda não têm o aparelhamento emocional para lidar com os sinais trocados do escárnio e da ironia, muito menos quando são dirigidos a elas.

Agora, ela vai dividir o palco com ninguém menos do que um dos personagens televisivos mais hábeis em zombar dos outros parecendo que está sendo simpático. A atração consistirá numa espécie de talk-show, cujo assunto, provavelmente, sempre será a menina e sua desinibição.

Silvio Santos fará perguntas dos telespectadores a Maisa e se pode imaginar muito bem qual será o propósito dessas questões. Ela, ainda, só tem seis anos.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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