Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Andréa Michael e Hudson Corrêa

PF prende petistas acusados de comprar dossiê anti-Serra

“A Polícia Federal apreendeu ontem US$ 248,8 mil e R$ 1,168 milhão (R$ 1,7 milhão), em um hotel de São Paulo, em poder do petista Valdebran Carlos Padilha da Silva, empreiteiro mato-grossense, e de Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-agente da PF. Eles estavam intermediando a compra de vídeos, fotos e documentos que mostrariam suposto envolvimento dos candidatos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra com a máfia dos sanguessugas.

O material, que teria sido reunido e arquivado por Luiz Antonio Vedoin, um dos donos da Planam, foi encontrado e apreendido em Cuiabá (MT), na noite de anteontem.

Vedoin, apontado como chefe do esquema dos sanguessugas, foi preso ontem pela Polícia Federal, na capital mato-grossense, sob acusação de ‘ocultação e venda de provas’ e ‘chantagem de pessoas envolvidas em crimes’.

Em nota oficial, a PF informou que a operação policial começou na noite de anteontem, no aeroporto de Várzea Grande, ‘região metropolitana de Cuiabá, quando localizou na bagagem de Paulo Roberto Trevisan [primo de Vedoin] uma fita de vídeo, um DVD, uma agenda e seis fotografias que vinculariam políticos ao esquema de superfaturamento [na compra de ambulância pelo Ministério da Saúde] investigado na Operação Sanguessugas’.

‘No vídeo aparece José Serra. Tem fotos do Alckmin e do [senador tucano] Antero [Paes de Barros] e deputados daqui’, afirmou a PF em Mato Grosso.

Trevisan foi detido quando subia a escada do avião com uma pasta azul levando o material com imagens da presença de Serra e outros tucanos na entrega de 41 uma ambulâncias em Cuiabá, em maio de 2001. As ambulâncias foram vendidas pela Planam. Trevisan estava embarcando para São Paulo, onde ocorreria a negociação.

Levado à PF, Paulo Trevisan disse que iria entregar o material em São Paulo a pedido de Vedoin a uma pessoa que o reconheceria pela pasta azul. Em seguida, Trevisan foi liberado.

A PF de Mato Grosso acionou a Superintendência da PF em SP na madrugada de ontem. Mediante ordem judicial, pediu que os policiais localizassem Padilha e Passos. Eles foram encontrados nos quartos 475 e 479 do hotel Ibis Congonhas, próximo ao aeroporto.

Tecnicamente, não foram presos em flagrante, pois não é crime portar dinheiro em espécie, conforme a legislação brasileira. A ilegalidade se confirmará se não conseguirem comprovar a origem do dinheiro. Eles foram levados pelos policiais à superintendência da PF para prestar esclarecimentos sobre o montante que estava em seu poder e ficaram detidos, pois tiveram sua prisão temporária decretada por sete dias.

Por determinação judicial, o dinheiro apreendido ficará sob a custódia da 3ª Vara da Justiça Federal em Mato Grosso. Vedoin está sob a custódia da Polinter, em Cuiabá. Segundo a PF, as diligências executadas em São Paulo e Cuiabá têm autorização judicial, despachada pelo juiz César Bearsi, também da 3ª Vara da Justiça Federal.

Desdobramentos

As prisões realizadas ontem, segundo a PF, são desdobramento da Operação Sanguessugas, deflagrada em maio, com a prisão de 48 empresários -entre os quais Darci e Luiz Antonio Vedoin- e funcionários de suas empresas, além dos ex-deputados Ronivom Santiago e Carlos Rodrigues.

Ao dar seqüência a linhas de investigação que derivavam do foco principal da operação sanguessugas, a PF identificou novos personagens no desdobramento de negócios atribuídos aos Vedoin. Segundo a PF, os policiais receberam uma informação de que Paulo Trevisan estava levando o material a São Paulo. A Justiça Federal havia autorizado escutas telefônicas para monitorar Vedoin.

Padilha seria o coordenador da campanha petista em Mato Grosso. À PF Gedimar Passos disse que estava a serviço do PT na negociação para comprar documentos e imagens que poderiam colocar sob suspeita os candidatos tucanos à Presidência e ao governo paulista.”



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Vedoin envolve Serra e assessor em esquema das ambulâncias

“A família Vedoin envolveu ontem os nomes de José Serra, candidato tucano ao governo de São Paulo, e do prefeito de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB), no escândalo da máfia dos sanguessugas.

Sem apresentar provas diretas do envolvimento dos dois, os Vedoin disseram que eles participaram do esquema entre 2000 e 2002. No período, Serra foi ministro da Saúde e Barjas, seu secretário-executivo -e o sucedeu no cargo.

De acordo com a revista ‘IstoÉ’, Darci e seu filho Luiz Antonio Vedoin -apontados como líderes do esquema- disseram que pagaram propina ao empresário Abel Pereira, que segundo eles era um ‘operador’ de Negri e Serra no Ministério da Saúde. ‘[Pereira] Falava que era para o ministro’, disse Luiz Antonio Vedoin.

As provas apresentadas pelos dois seriam cheques ao portador que teriam sido entregues a Abel Pereira, que atua na área construção civil em Piracicaba.

Até então, nenhum integrante da família havia citado o envolvimento de Serra e Negri na série de depoimentos dados à Justiça Federal do Mato Grosso e à CPI dos Sanguessugas.

‘A acusação veio acompanhada de documentação bancária. Temos que ver por que transferiu, a título de quê’, disse o procurador federal Mário Lúcio Avelar, que apura o caso em Cuiabá. ‘Mas é estranho que ele [Vedoin] venha ao Ministério Público e depois vá dar uma entrevista a uma revista.’

A primeira fase de apuração da CPI se ateve aos parlamentares. O eventual envolvimento de autoridades do Executivo só passou a ser apurado no mês passado. Há requerimentos para convocar os ex-ministros Serra e Humberto Costa.

À ‘IstoÉ’, os dois relataram como teriam sido feitos os negócios. ‘Quando o Serra era ministro, as operações eram feitas pelos parlamentares. Quando o Barjas assumiu, Abel passou a ser o responsável pela liberação dos recursos, apesar de não possuir nenhum cargo naquela pasta’, disse Luiz Antonio.

Na entrevista, questionados se o ex-ministro Serra tinha conhecimento de que nos bastidores das cerimônias de entregas de ambulâncias havia um esquema de propinas, Luiz Antonio e Darci responderam, respectivamente: ‘Era nítido a todos’ e ‘Posso te afirmar que as emendas, quando eram destinadas para esses eventos, saíam ainda mais rápido’.

A revista diz ter tido acesso a 15 cheques da Klass, uma das empresas ligadas aos Vedoin. ‘Estão ao portador, mas foram entregues nas mãos dele [Abel]’, disse Darci. A soma dos cheques seria R$ 601,2 mil.

Darci e Luiz Antonio disseram que o acordo com Abel foi fechado em 2002, depois que Serra foi derrotado por Lula. ‘Eles haviam perdido a eleição e, em nome do ministro [que na época era Barjas Negri], o Abel nos procurou. Eu fui a São Paulo, conversei com ele no aeroporto e ele pediu um valor para poder liberar uma série de recursos. Queria 10% de tudo o que eu viesse a receber’, disse.

De acordo com os Vedoin, o acerto foi fechado por 6,5%. ‘Ele perguntou quais os Estados que eu queria que ele liberasse. Respondi que seria o Mato Grosso e Alagoas. Três dias depois o dinheiro estava na conta das prefeituras.’ Darci disse: ‘Quando o Serra era ministro foi o melhor período. As coisas saíam muito rápido’.”



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Acusado de ocultar e vender provas e de chantagem, dono da Planam é preso

“O empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, 31, chefe da máfia dos sanguessugas, foi preso ontem pela Polícia Federal, em Cuiabá (MT), sob acusação de ‘ocultação e venda de provas’ e por ‘chantagear pessoas envolvidas em crimes’, ou seja, no esquema de venda de emendas ao Orçamento que envolve ao menos 90 parlamentares.

A ordem de prisão partiu do juiz da 3ª Vara Federal de Cuiabá, Cesar Augusto Bearsi, a pedido da PF. ‘É inadmissível que o réu [Vedoin] disposto a participar de uma delação premiada venha a ocultar provas importantes e ainda usá-las para chantagear as pessoas, vendendo-lhes tais provas’, afirmou o juiz em sua decisão.

A prisão de Vedoin -que estava escondido em um motel de Cuiabá, segundo a PF- ocorreu um dia depois de seu primo Paulo Roberto Trevisan ter sido preso pelo órgão.

Trevisan foi detido no aeroporto de Cuiabá, na noite de quinta-feira, com uma fita de vídeo, um DVD e fotos que registraram evento em maio de 2001, em Cuiabá, onde o ex-ministro da Saúde José Serra, candidato do PSDB a governador de São Paulo, participa de entregas de ambulâncias vendidas por Vedoin a prefeituras.

Vedoin foi levado para a delegacia onde ficou preso quando a PF deflagrou a operação Sanguessuga, em maio.

Ainda de acordo com a PF, Vedoin mandou entregar o material a duas pessoas em São Paulo que, em troca, pagariam R$ 2 milhões em dinheiro. Em São Paulo, segundo a PF de Cuiabá, estão presos o empresário Valdebran Carlos Padilha da Silva e Gedmar Pereira Passos, advogado e ex-agente da PF (leia texto nesta página).

Preso no mês de maio na Operação Sanguessuga, Vedoin estava em liberdade desde o dia 11 de julho, após colaborar com a Justiça no sistema de delação premiada. Em seu depoimento de nove dias, Vedoin revelou o pagamento de propina a parlamentares em troca de emendas ao Orçamento destinadas a compra de ambulâncias.

Os veículos, adquiridos por prefeituras em licitações fraudadas, eram fornecidos pela Planam e Santa Maria, empresas de Vedoin. As revelações levaram a CPI dos Sanguessugas a pedir a cassação de 69 deputados e três senadores por venda de emendas ao Orçamento.

Em agosto e neste mês, ao dar entrevistas a revistas, Vedoin envolveu novos congressistas que não havia citados nos depoimentos à Justiça e à CPI.

O superintendente da PF em Mato Grosso, Geraldo Pereira, disse que a prisão de Vedoin foi pedida porque ‘ele estava sonegando prova e atrapalhando as investigações’.

‘Interceptação telefônica regularmente decretada gerou entre seus frutos o conhecimento de que Luiz Vedoin está negociando provas, em especial documentos que mantém ocultos’, afirmou o juiz ao decretar da prisão do empresário.

Anteontem, Vedoin entregou novos documentos ao Ministério Público Federal que seriam comprovantes de pagamento de propina em troca de liberação de verbas no Ministério da Saúde, em 2001 e 2002.

Em uma entrevista à revista ‘IstoÉ’, o empresário afirmou, ao falar sobre os documentos, que a melhor época para ele foi quando Serra era ministro.”



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Tucanos vêem ação do PMDB em entrevista

“O comando da campanha de José Serra aposta na participação do PMDB em suposta operação montada para acusar o candidato de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. A capa da revista ‘IstoÉ’ foi exibida ontem mesmo no programa eleitoral pelo candidato do PMDB, Orestes Quércia.

Sem identificação da coligação, o que poderá render punição do TSE, os ataques ao tucano foram feitos antes de Quércia falar. Segundo Quércia, sua opção foi por uma exposição discreta, para ‘depois, não dizerem que o partido não quis mostrar [a reportagem]’.

Ainda ontem, o coordenador de campanha de Serra, Aloysio Nunes Ferreira, lançou desconfiança sobre a participação do PMDB ao mencionar ‘aliados ocultos’ do PT. Tucanos falam na participação do partido.

Quércia reagiu, chamando a acusação de irresponsável e desonesta. Ele recomendou que, ‘em vez de procurar culpados’, o PSDB deve esclarecer a acusação.

Quércia disse que foi sua a decisão para exibição da reportagem no programa, tomada na tarde de ontem.

Apesar de o PSDB insistir em que o tiro saiu pela culatra, o programa ontem finalizou com um antídoto: ‘Preste atenção. Vai começar o vale tudo contra Serra’.

A ofensiva de Quércia contra Serra faz parte de um acordo de não-agressão entre o peemedebista e Mercadante, que deixou o petista livre do ônus dos ataques ao favorito nas pesquisas. Ele mostrou obras do governo federal e apresentou números da pesquisa Ibope em que cresceu cinco pontos.”



MEMÓRIA / ORIANA FALLACI
Folha de S. Paulo

Escritora italiana Oriana Fallaci morre aos 76 anos

“Oriana Fallaci, a escritora e jornalista italiana conhecida principalmente por suas entrevistas abrasivas e posições provocativas, morreu aos 76 anos, informaram representantes de sua editora na sexta-feira.

Fallaci, que sofria de câncer há alguns anos, morreu dormindo em uma clínica de Florença, disse Paolo Klun, funcionário do grupo editorial RCS. Klun informou que a escritora, que morava em Nova York, havia retornado à sua cidade natal havia alguns dias, devido à deterioração de seu estado de saúde.

Fallaci, que foi membro da resistência italiana durante a Segunda Guerra Mundial e correspondente de guerra, raramente aparecia em público. Durante sua carreira jornalística, ela ganhou fama devido a entrevistas desafiadoras com líderes mundiais como Henry Kissinger, então secretário de Estado dos Estados Unidos, o líder palestino Yasser Arafat, que morreu há dois anos, e o aiatolá Khomeini, do Irã.

As mais recentes publicações de Fallaci, entre as quais o livro ‘A Raiva e o Orgulho’, lançado semanas depois dos atentados de 11 de setembro, geraram alegações de racismo contra a autora, também acusada de incitar o ódio contra os muçulmanos.

A obra vendeu mais de um milhão de cópias na Itália, e obteve sucesso considerável em outros países da Europa. No livro, ela afirma que os muçulmanos ‘se multiplicam como ratos’, e que ‘os filhos de Alá passam seu tempo com o traseiro no ar, orando cinco vezes ao dia’.

O ensaio seguinte de Fallaci, ‘A força da razão’, acusava a Europa de ter vendido a alma ao que ela descreve como uma invasão islâmica.”



SILÊNCIO DOS INTELECTUAIS
Luiz Fernando Vianna

Ausências

“Questionado sobre as motivações dos seminários ‘O Silêncio dos Intelectuais’, realizado em 2005, e ‘O Esquecimento da Política’, que está acontecendo agora, Adauto Novaes sempre explicou que não estava organizando eventos para se falar do Brasil de hoje, mas para se pensar um mundo em profunda transformação, do qual as antigas muletas de reflexão já não dão conta.

‘Já se disse que a imagem de um caos é um caos, e que, ao voltarmos o olhar para essa imagem, muitas vezes nossa reflexão tende a tornar-se mais perturbadora ainda’, escreveu ele na apresentação de ‘O Esquecimento da Política’.

Olhar o mundo de hoje é sofrer com uma paisagem turva. Não só as frases feitas das ideologias de cabeceira se esfarelaram como as palavras em geral perderam a credibilidade. Se o presidente da maior potência do planeta manda invadir outro país com base em uma mentira, de que servem os discursos?

A ausência de pensamentos políticos, econômicos e filosóficos, substituídos por modelos de discutível eficiência técnica, fere nossos projetos de cidadão e nossa condição de animais racionais. Sem mais saber como mudar o mundo ou mesmo reformá-lo, basta-nos não sermos esmagados.

Há aves emplumadas que enchem o bico para reclamar que Lula será reeleito pelos ‘desinformados’, os assistidos pelo Bolsa-Família, os miseráveis, mas não vêem como contribuem para que o jogo sociopolítico se limite a um prato de comida. Antes ele cheio do que um tacho de idéias vazias.

E a anorexia da vida pública encolhe os sentidos da vida pessoal, pois faltam esperança, justiça, força para estar inteiro na realidade turva. Se é perdoável a digressão, há ausência maior do que passar o aniversário do filho, num sábado, a três oceanos de distância dele?”



INTERNET
Folha de S. Paulo

Mais de 120 milhões não utilizam internet

“Em plena era digital, um contigente de mais de 120 milhões de brasileiros não usa a internet, a rede mundial de computadores. Eles representam 79% da população com mais de dez anos de idade que, de acordo com o IBGE, não acessou nenhuma vez à rede nos últimos três meses.

Como era de esperar em um país com altos índices de desigualdade, o acesso varia significativamente de acordo com renda ou escolaridade. No maior extremo de renda pesquisado (domicílios com renda mensal per capita superior a cinco salários mínimos), 69,5% dos brasileiros usavam. No extremo oposto (renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo), esse mesmo percentual era de apenas 3%.

O acesso cresce de acordo com a renda, mas mesmo em faixas de renda intermediárias, como na de dois a três salários mínimos per capita, ele ainda é restrito a uma minoria (42%) de brasileiros.

O mesmo fenômeno acontece quando é analisado o acesso de acordo com o grau de escolaridade. No menor extremo de instrução (menos de quatro anos de estudo), somente 2,5% acessavam a internet. No extremo oposto (os que completaram ao menos o ensino médio), essa proporção chega a 76,2%.

Esta é a primeira vez em que o instituto analisa o acesso à internet pelas pessoas, e não apenas sua presença nos domicílios. A situação de acesso nos domicílios vem aumentando constantemente desde 2001, mas continua em patamares muito baixos. No início da década, 8,6% de residências possuíam computadores conectados. Em 2005, esse percentual chegou a 13,9%.

Analisando por unidade da Federação, a que apresentava maior percentual de sua população com acesso regular à internet era o Distrito Federal, com 41,2% usando a rede. O menor percentual foi encontrado em Alagoas (7,2%) e no Maranhão (7,1%).

Além de restrito ainda a uma minoria de maior poder aquisitivo, o acesso à internet varia muito também de acordo com a idade. Quanto mais jovem, maior a probabilidade de um brasileiro ter feito uso da rede nos últimos três meses de casa, do trabalho, da escola ou de qualquer outro ponto.

Os maiores percentuais de acesso foram encontrados na faixa etária de 15 a 17 anos, com 33,9% da população usando a rede. De 18 a 24 anos, a proporção continua acima de 30%, mas passa a cair gradualmente de acordo com a idade, chegando a apenas 3,3% da população acima de 60 anos.

Apartheid

Para Rodrigo Baggio, diretor-executivo do Comitê pela Democratização da Informática -organização não-governamental que mantém 891 escolas de informática e cidadania no Brasil e em nove países-, os dados do IBGE revelam um apartheid digital.

‘Há uma legião de excluídos à margem da sociedade do conhecimento. É um cenário extremamente preocupante, principalmente quando comparamos nossa situação com a de outros países, já que hoje o uso da tecnologia é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento social e econômico de uma sociedade’, diz Baggio.

Para ele, para reverter essa situação, é preciso investir na melhoria de infra-estrutura de acesso à internet em municípios pequenos, na capacitação de pessoas de baixa renda em informática e cidadania e na disseminação de pontos públicos de acesso.

Investimentos

Para o presidente da Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Acesso), Antônio Tavares, faltam investimentos em educação, não só para crianças como também para adultos para acelerar o ritmo de expansão da internet no país.

‘A internet precisa crescer de forma útil e não apenas como entretenimento, como se vê muitas vezes nas classes A e B, e, para isso, é preciso investir na inclusão digital.’”



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Nas classes média e alta, uso intensivo da web pelos jovens preocupa os pais

“O uso intensivo da internet por parte dos jovens faz parte do perfil das famílias de classe média ou alta no Brasil. A analista de sistema Teresa Puzzi Nicolau, 46, tenta sempre conversar com os dois filhos sobre um limite para o uso da rede, mas diz que a tarefa não é fácil.

‘Me preocupa muito o tempo que meus filhos ficam na internet. Há dois anos, o acesso era limitado apenas aos finais de semana ou à noite, mas hoje tento estabelecer o tempo máximo de duas horas por dia, mesmo sabendo que isso não está sendo seguido. Já pensei até em bloquear o acesso deles no período em que trabalho, mas ponderei que isso traria problemas em relação a pesquisas e deveres que eles têm que fazer para a escola.’

A filha de Teresa, Andréa Nicolau, 14, admite que fica bem mais do que duas horas por dia na Internet. Segundo seus cálculos, são mais ou menos sete horas por dia, principalmente usando o Messenger e o Orkut.

O mesmo dilema sobre o tempo de uso da internet pelos jovens foi enfrentado pelo comerciante Sérgio Pinho, 57. Seu filho, Maurício Pinho, 16, usa a rede mundial de computadores somente de sexta a domingo. ‘Estabeleci isso porque, se ele ficar só na frente do computador, acaba não fazendo mais nada no dia. Quero que ele faça outras coisas no dia dele’, afirma o pai.”



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Além de inacessível, internet não desperta interesse de mais pobres

“A disseminação de LAN houses e a instalação de computadores com acesso à internet em escolas, centros culturais e associações vêm propiciando a mais e mais paulistanos o usa da rede. Mas isso, não necessariamente, tem despertado o interesse dos cidadãos.

A frentista Sueli Ferreira, 30, não tem acesso à internet e não sente falta dela. ‘Nunca fiz curso, não sei usar, não tenho computador’, diz. Mas, conta, se tivesse necessidade de usar a rede mundial de computadores, poderia ir a uma LAN ou a um centro cultural.

O vendedor Nelson Gomes jamais usou a internet. Se quisesse, diz, poderia acessar a rede na casa de amigos. ‘Mas nunca me interessei.’ Preocupado com a educação dos filhos, de dois e sete anos, o vendedor pensa atualmente em adquirir um computador e tomar contato com a rede, mas ainda sem grande empolgação.

Ricardo Augusto, 30, funcionário de um lava-rápido na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de SP), não tem computador e nunca esteve em uma LAN house. ‘Não tenho o que procurar’, diz ao questionado sobre sua relação com o mundo virtual. Outro ‘desinteressado’ no assunto é o aluno do terceiro ano do ensino secundário Gabriel Paixão, 17. ‘Não sou muito chegado [à internet].’ Gabriel vendeu recentemente o seu computador.”



TELEVISÃO
Daniel Castro

Rede TV! cria banco de celebridades na web

“A Rede TV! dá em novembro o primeiro passo para transmitir toda a sua programação via internet, em IPTV, tecnologia que permitirá ver TV com qualidade digital em televisores conectados a cabos telefônicos.

A emissora inicialmente transmitirá apenas dois programas, o ‘TV Fama’ e o ‘Leitura Dinâmica’. Na essência, isso não é nada mais do que a Globo já faz, exibindo trechos de novelas na web. A diferença é que a Rede TV! promete na internet uma qualidade de imagem igual à da TV convencional e não cobrará nada por isso.

‘Vamos usar tecnologia de ponta na compressão de vídeo [H264], o que trará uma resolução muito melhor do que a da Globo. Se quiséssemos, poderíamos ocupar toda a tela do computador, e não apenas janelinhas’, diz Amilcare Dallevo Jr., presidente da Rede TV!.

Com o novo serviço, que se chamará ‘Rede TV! On Demand’, a Rede TV! irá criar um banco de reportagens na internet. Todo o conteúdo exibido na web a partir de novembro ficará disponível em arquivo (o que a Globo ainda não faz). Isso permitirá ao telespectador obter tudo o que foi veiculado no ‘TV Fama’ sobre determinada celebridade fazendo uma busca pelo nome dela. Será como um YouTube só da Rede TV!.

Com a chegada da IPTV, no máximo em 2007, a Rede TV! passará a abrir na internet toda a sua programação atual e todo o seu arquivo desde 1999.

BOLA REDONDA 1 A Record obteve anteontem seu melhor resultado no Ibope nesta década. Transmitindo com exclusividade São Paulo x Boca Juniors, decisão da Recopa da América do Sul, a emissora ficou 49 minutos em primeiro lugar, batendo a Globo (‘A Casa das Sete Mulheres’) por 26 pontos a 19 na Grande São Paulo (entre 23h18 e 0h07).

BOLA REDONDA 2 Na média geral, do começo ao fim do jogo, a Record marcou 21 pontos, contra 31 da Globo.

NOVO HORÁRIO O SBT vai mudar de novo, após as eleições, o horário de ‘Rebelde’. A novela mexicana viu sua audiência despencar de 12 para seis pontos ao ser exibida à partir das 21h20. ‘Rebelde’, que acaba em janeiro, voltará para a faixa das 19h.

AGORA VAI 1 Silvio Santos volta amanhã dos EUA. Na semana que vem, gravará dois pilotos de ‘Bailando por Um Sonho’, inicialmente previsto para agosto. Se Silvio Santos não mudar de idéia, ‘Bailando’ entra no ar dia 15, domingo, às 14h.

AGORA VAI 2 A nova atração do SBT vai misturar o formato de ‘Dancing with The Stars’, da BBC, com ‘Bailando por un Sueño’, da Televisa. Nele, cada famoso representará um anônimo, que tem um sonho (como viajar). O famoso dançará com um coreógrafo. Se vencer, realizará o sonho de seu anônimo.

PLENÁRIA TUCANA O jornalista Alexandre Machado é favorito a ocupar o cargo de ombudsman da TV Cultura, vago desde julho.”



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TNT estréia 2º ano de ‘The Closer’

“A chefe de polícia mais linha-dura de Los Angeles está de volta ao batente. Brenda Johnson (Kyra Sedgwick, indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro pelo papel) retoma a rotina de confissões -que só ela obtém- na Divisão de Homicídios Prioritários, a partir das 15h de hoje, quando a TNT estréia a segunda temporada de ‘The Closer’. Conhecida pela agudeza com que estabelece conexões que ajudam a solucionar crimes e por sua intransigência no trato com suspeitos, ela aqui se dedica a investigar o assassinato de Martin, mulherengo agente da Divisão de Roubos. As circunstâncias da morte são intrigantes: o crime ocorre num dia de folga de Martin, quando ele vai até um armazém se encontrar com o sujeito que acredita ser informante de uma rede de tráfico de ecstasy. Na verdade, o interlocutor é um traficante com homicídio duplo no currículo. Quando o diálogo esquenta, o policial atira no criminoso. Instantes depois, ele próprio é alvejado. O exame de balística mostra que o disparo que matou Martin partiu da arma do traficante, mas não da posição em que este estava depois de ser baleado -o chão. Conclusão: havia uma terceira pessoa no armazém. É aí que a fixação do finado por mulheres comprometidas entra na investigação. Mas fiquemos por aqui, para não estragar as surpresas…

THE CLOSER – 2ª TEMPORADA

Quando: hoje, às 15h

Onde: TNT”



JORNALISMO & LITERATURA
Ricardo Bonalume Neto

Jornalista usa sentimentalismo para transformar labrador em best-seller

“O jornalista americano John Grogan conseguiu o sonho de muito colunista de jornal: achar um assunto capaz de se transformar em um best-seller. Não apenas isso: um assunto sobre o qual ele é uma de duas únicas pessoas no mundo capaz de discorrer a respeito. A outra pessoa é sua mulher Jenny.

Grogan trabalhou na Flórida, sul dos EUA, e hoje está no ‘Philadelphia Inquirer’, na Pensilvânia. Ele costumava receber cerca de 20 mensagens de leitores por conta de sua coluna. Mas quando escreveu sobre seu cachorro Marley, passou a receber em torno de 800.

O caminho estava aberto para um livro. E que ninguém duvide: algum dia alguém fará um filme sobre esse labrador de mais de 40 quilos que os próprios donos chamam de ‘o pior cão do mundo’.

O livro é uma grande coluna de jornal ampliada. Fácil de ler, com linguagem coloquial, com implacável número de metáforas e comparações exageradas. Chega perto do sentimentalismo, mas não fica piegas. O autor é um jornalista competente.

Marley, o cão cujo nome homenageia o finado cantor de reggae Bob Marley, é superlativo em tudo. ‘Senhor terremoto’ é o título de um capítulo. Anda pela casa derrubando objetos variados com seu rabo que não para de sacudir. Destrói colchões, sofás, vasilhas d’água. Come flores, arranca arbustos do jardim, que se transforma em um campo minado de fezes.

Acima de tudo, bebe colossais quantidades de água para poder babar o tempo todo, de preferência em cima das pessoas. As situações descritas já foram vividas por qualquer um que já teve um animal doméstico. Cachorros grandalhões, mas bobões e de boa índole, assustam só pelo tamanho.

O livro também é um resumo da vida recente de Grogan e sua mulher. Os dois, jornalistas, se casaram e planejaram ter filhos. Jenny estava preocupada em saber se seria uma boa mãe -pois tinha conseguido matar uma planta de tanta água que dava para ela. Cuidar de um labrador seria uma espécie de ‘teste de maternidade/paternidade’. Grogan narra o drama de uma gravidez interrompida e a alegria da chegada dos filhos e o papel de Marley na família ampliada.

A tradução tem alguns deslizes engraçados, como verter a abreviatura ‘lab’ por ‘laboratório’ em vez do óbvio ‘labrador’. E o capítulo oito é um misterioso ‘Uma Batalha de Wills’ -faltou traduzir a última palavra por ‘vontades’.

MARLEY & EU 

Autor: John Grogan

Tradução: Thereza Christina Mota e Elvira Serapicos

Editora: Prestígio

Quanto: R$ 29,90 (272 págs.)”



NYT vs. DEATH OF A PRESIDENT
Folha de S. Paulo

Cinema: ‘Nyt’ Desaprova Ficção Sobre Morte De Bush

“O diário norte-americano ‘The New York Times’ publicou crítica extremamente desfavorável ao filme inglês ‘Death of a President’ (morte de um presidente), de Gabriel Range, exibido no Festival de Toronto. O filme mostra o assassinato do presidente norte-americano George W. Bush, numa ficção narrada em tom documental. ‘Range fracassa no tratamento das questões difíceis, inclusive se algum assassinato, incluindo o de um presidente, pode ser justificável’, diz o jornal.”



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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