Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Folha de S. Paulo

LULA & IMPRENSA
Igor Gielow

Ex-assessor de Lula critica Radiobrás e ‘autoritarismo’ da mídia

‘O jornalista Bernardo Kucinski, um dos principais formuladores da política do PT na área de comunicação e ex-assessor do Palácio do Planalto, afirma que a mídia brasileira foi ‘autoritária’ na discussão das propostas encampadas pelo governo Lula para o setor –notadamente, o Conselho Federal de Jornalismo e a Ancinav.

Kucinski criou polêmica recente, ao defender que a Radiobrás tinha ‘vergonha de ser estatal’ e criticar a gestão de Eugênio Bucci –que rebateu dizendo ter afastado o ‘jornalismo chapa-branca’.

Ele sugere que a Radiobrás seja reorganizada, de modo a existir uma agência de divulgação do governo e, em separado, um projeto de uma ‘rede pública de informação’. Enquanto Bucci defendeu a cobertura do escândalo do mensalão pela empresa, Kucinski afirma que ela não deveria ter aderido ao uso do termo ‘adotado pela grande imprensa’.

Ele diz na entrevista seguir que não participou do texto do programa de governo do PT para comunicação em que, contraditoriamente, elogiava o caráter público da Radiobrás. Contudo, seu nome aparece como contribuinte do texto.

A entrevista a seguir foi feita por e-mail, o que não permitiu o contraditório. Kucinski, 69, defende nela uma lei de incentivo à ‘mídia alternativa’.

Folha – Em seu texto ‘A babel é aqui’, o sr. diz que houve incompreensão sobre sua posição a respeito do papel que a Radiobrás deveria exercer e indica um esboço do que considera uma opção de caminho (divisão de atribuições). O sr. pode elaborar sua opinião sobre o papel da estatal?

Bernardo Kucinski – Penso que a TV Nacional, da Radiobrás, junto com a TVE do Rio de Janeiro, poderiam nuclear a implantação de uma rede pública nacional de informação, com outras emissoras do mesmo tipo, inclusive educativas e universitárias. Esse projeto exigiria a vontade política do governo federal, negociação com governos estaduais e com o Congresso, alocação de recursos e mudanças na legislação.

Também poderia ser formada uma rede de rádio pública, a partir das rádios Nacional do Rio e Nacional de Brasília. Outra parte da Radiobrás seria dedicada a informação oficial do Estado, campanhas de utilidade pública, e promoção da imagem do Brasil. Informação estatal, precisa e abundante . Poderia absorver em princípio a NBR, a Agência Brasil, TV Internacional e Rádios da Amazônia.

Folha – No caderno ‘Comunicação e Democracia’ (programa do PT), que contou com sua colaboração, é feito um elogio à ‘política editorial mais independente’ e ao ‘jornalismo de caráter público’ da Radiobrás no primeiro mandato de Lula. Posteriormente, o sr. postula que a empresa tem ‘vergonha de ser estatal’ e aponta fragilidades no conceito defendido pela direção da Radiobrás de ‘jornalismo público’, ironizando a própria definição. O sr. não endossa o texto da campanha ou mudou de opinião?

Kucinski – Eu não participei da elaboração do texto do caderno. Respeito a opinião majoritária que gerou o elogio à Radiobrás e o entendo válido na medida em que a Radiobrás deu mais espaço aos movimentos sociais e grandes conferências nacionais desses movimentos. Mas insisto que a Radiobrás se equivocou na cobertura da crise e no tratamento dos assuntos de Estado.

Folha – Na sua opinião, como deveria ser a cobertura da Radiobrás do episódio do mensalão?

Kucinski – Uma empresa com a responsabilidade de pertencer ao aparelho de Estado, tida como referência pelo resto da imprensa e pela imprensa estrangeira, não poderia ter aderido à narrativa de ilações, insinuações e de presunção de culpa, nem a linguagem de mensalão e mensaleiros, adotadas pela grande imprensa; também deve evitar tratamento sensacionalista, não só nesse caso, em todos os temas e situações. Deveria respeitar os princípios básicos do jornalismo, que a grande imprensa não respeitou: ouvir sempre o outro lado, em especial os acusados, não prejulgar, ser objetiva, ponderada e isenta, atendo-se o mais possível aos fatos comprovados.

Folha – Qual sua opinião sobre Eugênio Bucci e seu comportamento durante a polêmica?

Kucinski – Minhas opiniões e eventuais críticas referem-se a idéias, não a pessoas. Não me cabe opinar genericamente sobre comportamento e sim sobre falas e decisões específicas.

Folha – O sr. defende a criação de um órgão análogo ao CFJ no segundo mandato?

Kucinski – Sou a favor de um órgão desse tipo,desde que voltado fundamentalmente à implantação de acompanhamento de um código de ética da conduta jornalística, à defesa das condições de trabalho dos jornalistas e a conquista de novos direitos para os jornalistas, tais como a cláusula de consciência., mas sem a atribuição de controlar o acesso à profissão.

Folha – O programa de governo de Lula prega o estímulo, por meio de incentivos fiscais e/ou direcionamento de verbas publicitárias, a uma suposta imprensa independente, que poderia se contrapor à mídia ‘mainstream’. O sr. concorda com isso? Esse estímulo não se transformaria em dependência e atrelamento de linha editorial a interesses do governo?

Kucinski – Não concordo com as premissas. As propostas que conheço não visam apoiar uma imprensa ‘independente’ , expressão que considero equivocada, e sim a imprensa pequena, regional, alternativa e cultural, enfim a imprensa que não tem como objetivo principal o lucro e que traz aportes importantes à diversidade cultural, étnica e temática. Também não se trata de se contrapor a nada, e sim de apoiar a diversidade e ampliar a base de leitores no país.

Muitos desses veículos já se beneficiam da Lei Rouanet. Mas essa lei foi desenhada para a arte, e não para a imprensa o que dificulta um pouco a sua aplicação á imprensa. Uma das soluções seria criar uma espécie de Lei Rouanet específica para a projetos de imprensa escrita, internet e rádios comunitárias.

Folha – Ainda neste quesito, partindo de um corolário presumível, em sua opinião os grandes jornais (Folha, ‘Estado’, ‘O Globo’), revistas (‘Veja’, ‘Época’), além da Rede Globo, não deveriam receber verbas publicitárias oficiais? Quem deveria receber, no escopo da imprensa já estabelecida?

Kucinski – Esses veículos já recebem substanciais verbas publicitárias na forma de anúncios de estatais e até mesmo publicidade institucional do governo. Na minha opinião, o governo não deveria gastar suas verbas de publicidade em propaganda institucional, exceto em situações excepcionais ( promoção da imagem do Brasil no exterior, por exemplo).

Os recursos deveriam ser usados em publicidade de utilidade pública como campanhas sanitárias e de promoção de direitos e de orientação do acesso aos serviços públicos. Quanto às estatais do setor produtivo e bancos estatais, devem aplicar suas verbas por critérios técnicos próprios, na disputa do mercado e promoção de seus produtos,sem prejuízo dos seus programas de incentivo á cultura e artes.

Folha – Durante todo o primeiro mandato de Lula, a relação do governo com a mídia foi turbulenta –caso Larry Rohter, notas desautorizando especulação, o Conselho Federal de Jornalismo, a lista é longa. Desde a vitória no segundo turno, integrantes do governo e do PT (Tarso Genro, Marco Aurélio Garcia) vêm fustigando a grande imprensa em diversos graus de agressividade. Como o sr. avalia essa relação e como acredita que ela deva ser?

Kucinski – Nem a lista é longa e nem se trata de fustigamento. De todos esses episódios o único certamente condenável foi a cassação do visto de Larry Rohter, um erro político grave, mas isolado. A proposta de formação do CFJ, oriunda da própria Federação Nacional dos Jornalistas, deveria ter sido democraticamente discutida no Congresso, eventualmente modificada e até rejeitada, mas a pressão dos barões da mídia consegui impedir até mesmo isso, assim como conseguiram impedir a discussão democrática da proposta da Ancinav. O autoritarismo veio da mídia, não do governo. O resto são episódios e falas normais já que a mídia está em discussão, como demonstra este pedido de entrevista.

Folha – O STF derrubou em caráter liminar a obrigatoriedade do diploma de jornalismo, e ainda irá analisar o mérito da questão. Como o sr. vê isso?

Kucinski – Sempre defendi a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo profissional. Não mudei de idéia. Eu mesmo não tenho diploma, e sou professor de jornalismo.É preciso qualificar melhor os profissionais, principalmente do ponto de vista da ética profissional, mas a obrigatoriedade do diploma não é o melhor caminho.

Folha – O conceito de democratização dos meios de comunicação defendido pelo PT sempre incluiu cassação de concessões de rádio e TV e redistribuição da verba publicitária oficial. Isso não ocorreu no primeiro mandato. Por quê? O que leva a crer que algo mudará agora?

Kucinski – Não são corretas as premissas. Não conheço nenhuma proposta de cassação de concessões. Na plataforma da campanha de 2002, o PT ignorou o assunto. Na deste ano, foi proposto o recadastramento das concessões, o que é um passo preliminar tanto para o saneamento de irregularidades como para a adoção de qualquer política pública.

Também não é possível um governo democratizar um meio de comunicação, exceto os de sua propriedade. O que o governo pode e deve é democratizar o mercado aplicando uma regulação anti-monopólio, com fazem outros países. Para facilitar o acesso da população é preciso batalhar pela inclusão digital e barateamento do preço dos veículos impressos.

Folha – O ministro Hélio Costa vem defendendo posições que coincidem com os interesses da Globo, como no caso da TV digital e no veto à entrada das teles no negócio TV. Como o sr. vê a atuação do Ministério das Comunicações do governo Lula?

Kucinski – Tenho pouca informação sobre a questão da TV digital. Sei que a tecnologia digital permite reduzir substancialmente a concentração, sem cassar concessões existentes. A questão central, portanto não é o padrão a ser adotado, mas a forma de repartição dos intervalos do espectro eletro-magnético, multiplicados pela nova tecnologia.

Folha – Em seu artigo ‘A babel é aqui’ o sr. afirma que a esquerda, petistas em especial, não são compreendidos em suas declarações porque haveria uma ‘desordem lingüística’ em curso no país, que teria alienado a grande imprensa, tirado de seus profissionais a capacidade de exercer criticamente sua profissão. O que o leva a crer que não seriam a esquerda e o PT os afetados por tal desordem lingüística?

Kucinski – Não entendi bem a sua pergunta. Deve ser o efeito dessa desordem lingüística.De qualquer forma, penso que tem havido um rebaixamento geral do nível das discussões e falta de vontade de dialogar. Isso afeta todos.

Folha – No mesmo artigo, o sr. fala que a quase totalidade dos colunistas brasileiros ‘descolou-se dos ideais do povo’ ao assumir uma postura crítica à reeleição de Lula. O sr. crê que um jornalista deve abandonar o criticismo em favor de uma vontade expressa em urnas? Essa uniformidade não mimetizaria o ideário dos totalitarismos que o sr. rejeita como rótulo ao PT?

Kucinski – Os colunistas não ‘assumiram uma postura critica’. Eles se engajaram ativamente na campanha contra Lula. Isso é um fato. Lula foi eleito por ampla maioria. É outro fato. E os dois fatos apontam para um descolamento dos colunistas em relação ao sentimento da maioria da população. Apenas isso. Na minha o jornalista nunca deve abandonar o espírito crítico.

Folha – Em artigo publicado no site ‘Carta Maior’, o sr. estabelece uma fronteira entre ‘nós’ (esquerda petista) e ‘eles’ (jornalistas de grandes órgãos), que seriam todos de ‘direita’. O governo Lula, em especial na fase da defesa da coalizão, abraça personagens tão diversos quanto Jader, Sarney, Renan, Collor, evangélicos petencostais, enfim, uma miríade que seria chamada de conservadora ou ‘de direita’ em qualquer plenária petista pré-2002. Isso para não falar do pragmatismo em temas econômicos, por exemplo. Não perde o sentido a fronteira pretendida?

Kucinski – A esquerda existe, independente do governo do dia ser de coalizão. E eu não acho que os jornalistas dos grandes órgãos sejam todos de direita. Seria um absurdo. É grande a diversidade no meio jornalístico. O que se observa é uma maior alocação dos espaços nobres do jornalismo a comentaristas que defendem a ortodoxia econômica, fenômeno, aliás que ocorre também em alguns outros países.’



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Professor ficou próximo de Lula nos anos 90

‘Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Bernardo Kucinski é um inspirador da cruzada do PT pela ‘democratização das comunicações’.

Ele se aproximou do presidente Lula nos anos 90, na ONG Instituto Cidadania. Na campanha de 1998, escrevia uma crítica diária à cobertura da imprensa, que ganhou o apelido de ‘carta ácida’. Uma coletânea depois foi transformada em livro.

Em 2003, com a vitória de Lula, foi chamado para ser assessor da Secretaria de Comunicação de Governo, sob o comando de Luiz Gushiken. Continuou escrevendo um boletim diário sobre a cobertura da imprensa, para o governo.

Durante o tempo em que esteve na secretaria, Kucinski deu duas entrevistas criticando o governo. Em uma delas, ao ‘Jornal do Campus’, da USP, declarou que o governo era ‘casuístico’. Atualmente, é editor-associado da ‘Agência Carta Maior’.’



REVISTA DOS GAROTINHOS
Folha de S. Paulo

PMDB paga publicidade de Garotinho em jornal do Rio

‘‘Jornal do Brasil’ distribuiu revista com 190 páginas

O PMDB do Rio pagou a publicação no domingo passado uma revista de 190 páginas coloridas, distribuída como encarte na edição do ‘Jornal do Brasil’. O material tem como único mote as realizações de Anthony e Rosinha Garotinho no governo do Estado.

O PMDB não revelou o valor dos gastos com o encarte, nem o número de cópias impressas. O ‘Jornal do Brasil’ vende 120 mil cópias diárias, em média, no mês de outubro, de acordo com o IVC (Instituto Verificador de Circulação). Um especialista em gráfica consultado pela Folha estimou entre R$ 250 mil e R$ 300 mil os gastos gráficos de elaboração da revista, nessa quantidade. Há ainda os custos de produção editorial, publicidade e distribuição, que não foram divulgados.

Nas 11 primeiras páginas, Rosinha aparece em sete fotos, e Garotinho, em seis. A primeira página traz um texto assinado pelos dois intitulado ‘O momento de agradecer’, e a última, uma entrevista com Clarissa Matheus, filha do casal.

A Folha conversou com o secretário-geral do PMDB-RJ, Carlos Alberto Muniz, mas ele não revelou o valor gasto.

O Departamento Comercial do ‘Jornal do Brasil’ informou que a agência de publicidade Mídia Brasil, que tem a conta do PMDB-RJ, poderia dar informações sobre a revista. O publicitário Carlos Rayel disse ter sido contratado por Garotinho. ‘Nós produzimos e montamos os textos e fotos, mas quem negociou com o ‘JB’, produziu e veiculou -e portanto conhece esses dados é o PMDB.’, afirmou Rayel.

Procurado, Garotinho não pôde atender na noite de quinta. A assessoria de Rosinha informou não se tratar de assunto do governo, mas do PMDB.

Há críticas ao governo federal e à imprensa, como em uma legenda de foto segundo a qual ‘Garotinho buscou no meio do povo o apoio que a mídia e o governo do PT lhe negaram’.’



POLÍTICA CULTURAL
Rodrigo Mattos Silvana Arantes

Cultura tenta barrar Lei do Esporte

‘Aprovado na Câmara Federal, o projeto de lei de incentivos fiscais para o esporte (1367/ 03) é visto como uma ameaça por artistas e produtores culturais, que tentarão alterá-lo, o que pode impedir sua aprovação. Temem a concorrência por verba entre os setores.

Parlamentares ligados ao esporte, porém, já reagiram. Isso deu início a uma batalha em torno da legislação, que ocorre no Senado e envolve os ministérios da Cultura e do Esporte.

‘É uma intranqüilidade [a existência do projeto]’, afirma Ronaldo Bianchi, vice-presidente do Itaú Cultural.

O desagrado dos representantes da cultura vem do fato de que, se aprovada a nova lei, projetos esportivos e culturais passarão a disputar o mesmo ‘bolo’ de patrocínio empresarial.

Isso ocorrerá porque a Lei Rouanet e a Lei do Esporte estariam limitadas ao mesmo teto de renúncia fiscal, até 4% do Imposto de Renda das pessoas jurídicas. Ou seja, as empresas podem deixar de investir em cultura, optando pelo esporte.

‘Existe essa preocupação [em relação à nova lei]’, afirma o ministro da Cultura, Gilberto Gil à Folha. Gil questiona a capacidade do ministério do Esporte de gerenciar a sua lei.

‘Dificultoso’

‘Esse primeiro momento da gestão da lei vai ser dificultoso para eles. Nesse sentido acho que eles deviam contar com as experiências da Lei Rouanet.’

Parlamentares ligados ao esporte contra-atacam: não consideram eficiente a atuação do setor cultural na captação de incentivos.

‘Quanto [dinheiro] a Cultura tem conseguido por ano? Eles não conseguem nem captar o que têm direito’, disse o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), relator do projeto na Câmara. ‘É uma mediocridade [o lobby cultural]. Há um universo grande a ser explorado.’

Em 2005, foram captados por meio da Lei Rouanet cerca de R$ 700 milhões. Houve um aumento de 23% em relação ao ano anterior. No caso do esporte, haverá um teto de R$ 200 milhões por ano, segundo parlamentares ligados ao projeto.

Até agora o lobby dos artistas não é explícito porque o setor do cinema -um dos maiores beneficiários da Lei Rouanet- está concentrado em aprovar no Senado o projeto de lei que cria o Fundo Setorial do Audiovisual. A proposta destina mais verbas ao setor.

Nos bastidores, já atuam para apresentar uma emenda derrubando um item da Lei de Incentivo ao Esporte que vincula as verbas esportivas e culturais ao mesmo teto.

Na prática, isso inviabilizaria a lei em favor dos esportistas.

‘Se houver alteração, isso vai aumentar a renúncia fiscal do governo. A Receita [Federal] não aceitaria’, afirmou o deputado federal Gilmar Machado (PT-MG), articulador governista do setor do esporte.

No Senado, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), comanda o lobby em prol da legislação em favor do esporte.

O vice-presidente do Itaú Cultural diz desconhecer a articulação para a apresentação da emenda, mas afirma que ‘cabe a discussão no Senado sobre o impacto econômico [da Lei do Esporte] na cadeia de trabalho cultural’. Segundo Bianchi, ‘são perguntas que precisam ser colocadas’.

Outros parlamentares ligados ao esporte aderem ao contra-ataque, com influência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Ministério do Esporte. O COB é o maior interessado na aprovação da lei, pois as confederações filiadas e outras entidades seriam beneficiadas.

Compromisso

O Ministério do Esporte espera que o executivo mantenha o compromisso de aprovar a lei sem alterações no Senado, como fez na Câmara. Pela assessoria, a pasta informou não ter recebido pedidos de mudanças vindos da área cultura.

Até deputados da oposição já foram mobilizados em favor do esporte. Autor do projeto, o deputado Bismarck Maia (PSDB-CE) disse ter o apoio do líder de seu partido no Senado, Arthur Virgílio, ‘Se alterarem o projeto, vamos mudar na Câmara.’

Esse lobby tem o desfalque da numerosa bancada da bola, que é composta por parlamentares conectados ao futebol e não está agindo porque não haverá benefício para os cartolas.

Clubes de futebol com esportes olímpicos tampouco se mobilizaram. O presidente do Flamengo, Márcio Braga, diz que nada fará. Ex-deputado, ele foi um dos mais atuantes no lobby pela aprovação da Timemania, loteria que favoreceu os clubes.

‘O Nuzman [Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB] que está pilotando isso. Não tenho como largar o clube agora’, disse ele.

Gil acena com uma conciliação. ‘Esporte é cultura.’’



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Patrocínio esportivo tem regras mais vantajosas para empresas investidoras

‘Há duas diferenças relevantes entre a Lei Rouanet e a Lei de Incentivo ao Esporte. Uma delas deve tornar mais favorável a captação de verbas para o esporte em relação à cultura.

Na legislação para o esporte, o total investido pela pessoa jurídica em projetos na área pode ser deduzido integralmente no Imposto de Renda, até 4% do total devido. Isso vai valer tanto para doações quanto para os patrocínios.

No setor cultural, no entanto, a dedução total não é permitida em todos os casos. Para as empresas, o desconto no IR pode ser de 30% a 100%.

A variação é de acordo com a área cultural que capta o benefício. Filmes de longa-metragem, por exemplo, não desfrutam de dedução integral.

Para as pessoas físicas, há um limite de dedução maior, com o mínimo de 60% do investido.

Por sua vez, a Lei de Incentivo ao Esporte tem uma restrição não observada na Rouanet.

A legislação permite que institutos culturais sem fins lucrativos, ligados ao patrocinador, captem recursos. É o caso de bancos como Itaú e Unibanco.

Para o esporte, não existe essa possibilidade. A empresa tem que investir em entidade ou pessoa com a qual não tenha ligação, sem exceções.’



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Cultura já havia bloqueado lei 14 anos atrás

‘Não é a primeira vez que representantes da Cultura lutam para impedir uma lei de incentivo ao esporte. A briga entre os dois setores começou logo após a redemocratização.

Há 14 anos, o setor cultural conseguiu revogar legislação para beneficiar a área esportiva, na qual a atual Lei de Incentivo ao Esporte foi inspirada. É o que dizem dirigentes de clubes, ainda ressentidos até hoje.

Em 1989, no governo de José Sarney, foi aprovada a Lei nº 7.752, conhecida como Mendes/Thame, que também dava incentivos ao esporte.

Assim como agora, haveria limitação no total de deduções. O setor cultural já havia obtido a Lei Rouanet, em 1991.

Em 1992, o então presidente Fernando Collor revogou a lei que beneficiava o esporte.’



MÁRQUEZ JORNA
Carlos Eduardo Lins da Silva

Pacote traz García Márquez jornalista

‘Gabriel García Márquez com freqüência se define como ‘um jornalista que de vez em quando escreve ficção’. A dedicação do Prêmio Nobel de Literatura de 1982 ao ofício do jornalismo é indiscutível.

Além de jamais ter deixado de escrever para jornais e revistas, mesmo depois de ter conseguido prestígio mundial como artista, sempre investiu tempo e dinheiro para lançar e sustentar veículos de comunicação e entidades com o objetivo de aperfeiçoar o exercício dessa prática profissional.

Por isso, o lançamento de todos os seus escritos para periódicos que a editora Record realiza agora no Brasil faz sentido para os admiradores do autor de ‘Cem Anos de Solidão’ e outros clássicos da literatura latino-americana. Os fãs certamente vão se divertir nas quase 4.000 páginas dos cinco volumes em busca de referências a personagens e locais que aparecem nos romances e contos famosos de García Márquez e certamente não vão se decepcionar.

Certamente, no entanto, é necessário um bocado de devoção ao literato para enfrentar até as centenas de críticas de filmes e resenhas de livros que o jovem colunista de ‘El Espectador’ produzia copiosamente em meados do século passado.

Se pode ser curioso saber qual foi a sua leitura de alguns filmes clássicos, do tipo de ‘Sindicato de Ladrões’ (de Elia Kazan), é preciso muita boa vontade para apreciar suas opiniões a respeito de filmes colombianos da década de 50 a que nenhum leitor brasileiro nunca terá assistido ou virá a assistir.

De qualquer maneira, se ninguém é obrigado a ler tudo o que García Márquez escreveu, talvez muitos pudessem preferir uma edição um pouco mais compacta do caudaloso trabalho jornalístico que ele cometeu.

Mesmo uma leitura salteada dos cinco livros é suficiente para constatar a riqueza quase inacreditável de estímulos das mais diversas fontes que formaram o capital de saber do escritor colombiano que já está com 78 anos de idade.

De criança criada num vilarejo recheado de histórias e lendas indígenas ao jovem intelectual fascinado pela vida na cidade grande (Cartagena, depois Bogotá) e pelos produtos da cultura de massas até o homem público cosmopolita e influente, comensal de chefes de Estado e ídolos da vida literária, ele construiu uma enorme massa de referências que tem utilizado com grande maestria em seus textos.

Liberdade em periódicos

Quem se interessa em estudar o jornalismo também vai achar estimulante observar como García Márquez se aproveitava bem da quase absoluta liberdade que os periódicos da Colômbia no início da segunda metade do século 20 pareciam proporcionar aos seus colaboradores (depois que virou celebridade, ele podia impor a sua liberdade a qualquer veículo; antes, só podia usufruir da falta de método que caracterizava a indústria jornalística por estas bandas sul-americanas).

Ele podia escrever praticamente tudo o que quisesse do jeito que lhe aprouvesse. Eram crônicas, resenhas, reportagens, contos, entrevistas. Não parecia haver limites de espaço nem de padronizações. Como talento nunca lhe faltou, o resultado era quase sempre proveitoso ao leitor.

Outro aspecto notável é seu descompromisso com qualquer aparência de imparcialidade ideológica ou mesmo com a checagem factual quando uma boa versão -ainda que não comprovada- fosse capaz de melhor demonstrar as suas teses.

Desde os seus textos sobre a visita que fez à então União Soviética em 1957 e 1958 até as ‘reportagens políticas’ (como se intitula o quarto volume da coleção) sobre o golpe de Estado no Chile que derrubou o regime de Salvador Allende, o jornalista García Márquez não mostra preocupação em corroborar os fatos que descreve, mas apenas em enfatizar a correção de seus pontos de vista políticos.

Nos gênios, tudo se releva. Aos praticantes menos brilhantes e -principalmente- aos aspirantes à prática do jornalismo, no entanto, recomenda-se cautela: ele pode não ser objetivo, mas alguma correspondência com a realidade deve guardar ou seu autor vai cair no ridículo.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é diretor de relações institucionais da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas. É membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do conselho editorial da ‘Revista de Política Externa’.’



MERCADO FONOGRÁFICO
Folha de S. Paulo

EMI pode ser vendida por US$ 3,9 bilhões, afirma jornal

‘A EMI, a terceira maior gravadora do mundo, está prestes a ser vendida para um grupo de capital fechado, segundo o ‘Wall Street Journal’. Pessoas próximas à negociação disseram que o provável comprador é a empresa européia Permira Advisers.

A gravadora não confirmou a negociação, mas na semana passada disse ter recebido uma proposta, sem revelar o nome do interessado. O jornal afirma que o valor da negociação ainda não foi acertado, mas que ela pode chegar a US$ 3,9 bilhões.

A EMI tem cerca de 20% de participação no mercado fonográfico e conta no seu catálogo com artistas como o grupo britânico Coldplay.

Universal e BMG

A União Européia abriu uma investigação para analisar a compra da BMG pela Universal Music, anunciada em setembro. Segundo as autoridades européias, a decisão sobre a autorização do negócio só deve ser anunciada em 27 de abril de 2007.

A Universal adquiriu a BMG por US$ 2,09 bilhões. Com agências internacionais’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Sexo proibido pela Band vaza na internet

‘Uma cena de sexo quase explícito que a cúpula da Band cortou do primeiro capítulo da novela ‘Paixões Proibidas’ vazou na internet. A emissora abriu uma investigação interna para descobrir como e quem divulgou as imagens proibidas.

A seqüência que foi parar no site de vídeo YouTube dura 11 segundos e mostra o ator Miguel Thiré, protagonista da novela, encenado uma relação com uma prostituta. A cena é forte. A mulher ‘cavalga’ freneticamente sobre o rapaz, que está deitado numa cama.

A versão que foi ao ar, segundo a Band, durou só um segundo. A rede diz que cortou o restante porque as julgou impróprias, mesmo para as 22h, horário de ‘Paixões Proibidas’.

A Band descobriu que a seqüência foi ‘postada’ no YouTube na última segunda por alguém que utilizou um e-mail gratuito, aberto recentemente com dados falsos. Segundo a Band, a imagem pode ter vazado no Rio (onde a novela é gravada) ou em São Paulo. Isso porque circularam internamente várias versões do primeiro capítulo da trama.

Anteontem, a Band pediu ao retirada do vídeo do ar. Ontem, já não era mais possível acessá-lo no YouTube, mas a emissora continuava monitorando outros sites de vídeos.

A Band afirma que pediu a retirada apenas do vídeo que ela não exibiu, mas outras cenas de sexo (que foram ao ar), também foram removidas ontem.

SUPERCHANCE 1 Quadro do ‘Fantástico’ que ambiciona virar programa, o ‘Profissão Repórter’ terá uma edição especial na próxima quinta, no lugar do ‘Linha Direta’, que reconstitui crimes.

SUPERCHANCE 2 A exibição será um teste, mas, pelo menos em 2007, o ‘Profissão Repórter’ continuará sendo quadro do ‘Fantástico’. Na edição do dia 14, Caco Barcellos e sua equipe mostrarão as diversas atividades econômicas do mar, como pesca e exploração petrolífera.

CHARMOSO Celso Portiolli deverá permanecer mais uma semana à frente do ‘Charme’, no lugar da ‘interditada’ Adriane Galisteu. Com Portiolli, o programa tem dado até dois pontos a mais do que dava com Galisteu.

BARREIRA Nova responsável pela programação da Band, Elisabetta Zenatti está tendo dificuldades para colocar suas idéias em prática. Seus orçamentos têm sido vetados.

SEM NÚMEROS 1 Pelo menos por enquanto, não passam de especulações as afirmações de que a Globo teria ganho da Record a disputa pelos direitos das duas próximas Copas do Mundo oferecendo à Fifa menos dinheiro do que a concorrente.

SEM NÚMEROS 2 A Record não confirma oficialmente ter oferecido US$ 180 milhões por Mundial. Pode ter sido bem menos, ou a mesma coisa que a Globo _que teve a seu favor uma melhor estrutura técnica e muito mais capacidade de mobilização.’



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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