Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornal se enrola ao denunciar falsa lei iraniana

O jornal canadense National Post desculpou-se na semana passada pela publicação de uma matéria com informações erradas sobre uma lei iraniana. O artigo em questão afirmava que o parlamento do Irã havia aprovado uma lei que exigia que judeus e cristãos usassem um emblema que os identificasse em público como minorias religiosas.

O conservador parlamento começou a discutir, há duas semanas, um projeto de lei que impede as mulheres de vestir roupas ocidentais e encoraja os cidadãos iranianos a usar vestuário islâmico. A medida provocou polêmica fora do Irã depois que o Post reportou que a lei incluía artigos obrigando judeus, cristãos e outros não-muçulmanos a usar um pedaço de pano colorido por cima de suas vestimentas – em uma revoltante alusão à Alemanha nazista, quando os judeus eram forçados a usar a estrela de Davi.

O diário, citando iranianos que vivem no Canadá, afirmou que a lei poderia obrigar cerca de 25 mil judeus a ‘costurar uma faixa de tecido amarelo na frente de suas roupas, enquanto cristãos usariam pedaços vermelhos’.

Reação americana

Após a notícia, os EUA – já em impasse com o Irã por causa de seu programa nuclear – criticaram duramente a ‘lei’. O Centro Simon Wiesenthal, grupo judeu em defesa dos direitos humanos, teve que enviar uma carta ao secretário geral da ONU, Kofi Annan, pedindo que ele examinasse a questão.

Já no Teerã, o legislador Emad Afroogh, que apoiou a tal lei, afirmou à Associated Press que a notícia veiculada pelo jornal canadense era mentirosa. Uma cópia do projeto, conseguido pela agência de notícias, não faz menção a trajes específicos para minorias religiosas.

Cuidados maiores

O editor-chefe do Post, Douglas Kelly, publicou uma longa coluna explicando que a matéria foi baseada em um artigo do escritor e jornalista iraniano Amir Taheri e em dois iranianos expatriados que vivem no Canadá. ‘Nós admitimos que, nesta história, não exercemos precaução suficiente, e não checamos o suficiente com nossas fontes’, afirmou Kelly. ‘Nós deveríamos ter insistido mais com as fontes que tínhamos para maior corroboração da informação que elas estavam nos passando’. O editor pediu desculpas aos leitores do Post e ao público em geral pelo equívoco.

Em seu sítio, Taheri escreveu que o jornal canadense se precipitou e interpretou errado seu texto original. Ele completou, entretanto, que tem fontes no parlamento iraniano que afirmam que a idéia dos emblemas para minorias religiosas foi realmente debatida por anos. Informações da AP [24/5/06].