Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalismo desinformativo

A reserva de mercado para jornalista trabalhar na mídia não resultou na melhoria esperada pelos apregoadores das vantagens deste atentado a liberdade de expressão. A alegada razão para a proibição de pessoas sem a formação jornalística acadêmica seria que estes profissionais agiriam com maior proficiência e por conseqüência, melhoraria o nível de informação e de formação de conceitos e opiniões junto aos leitores. Infelizmente o que se enxerga é que nada disto ocorreu. Jornalistas, apesar de um curso técnico na arte de fazer jornalismo, não possuem base para exercerem este mister com a proficiência que seria desejável. Culpa tanto da nossa precária educação pública (veja-se a necessidade de cotas e mais cotas), como do erro conceitual de que pessoas sem a preparação nas profissões possam apenas, de ouvir falar, de ler, de entrevistar, saber com igual proficiência do que estas.


Enquanto na política se possam escolher os valores que se quiser dependentes da ideologia, em ciências naturais é preciso estar conectado aos fatos, conhecer as bases, saber os avanços e alcances dos mesmos. Preconceito? Não, racionalidade. Afinal ninguém procura um médico para defender sua causa na justiça, um advogado para fazer um exame de DNA ou um engenheiro para resolver o seu cálculo renal. Nem mesmo procura um médico clínico para fazer uma cirurgia. Ninguém já nasce sabendo.


Falta de vivência


O jornalista Maurício Tuffani defende que a solução seja à saída dos conhecedores da Torre de Marfim, CRIACIONISTAS vs. EVOLUCIONISTAS A torre de marfim, em 16/12/2008 (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=516JDB006 ) a que foram relegados por esta absurda limpeza profissional imposta na mídia as demais ocupações e pessoas.


A jornalista Marinilda Carvalho certa vez sugeriu que eu fizesse uma formação de jornalismo científico para poder, como médico, escrever sobre medicina ou sobre ciência. O que é interessante é que jornalistas não precisam fazer medicina ou biologia para falar da mesma com total reserva de mercado para discorrer sobre estes assuntos. O diploma de jornalista já lhes dá todo o direito e suposto conhecimento para divulgar o que quiserem. O formalismo acima do conteúdo. Médico pode errar e matar, mas a desinformação, a ignorância, a divulgação errada mata da mesma forma pela mesma irresponsabilidade. É o que lembra o Dr Celio Levyman no OI em REDE GLOBO É fantástico! Eles nunca aprendem, em 27/1/2009. (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=522CID002 ) Jornalistas escolhem a pauta de matérias sobre saúde tiradas dos seus preconceitos e falta de vivência necessária para sentir a relevância e avaliar as conseqüências.


Capacidade científica


Mesmo em tentativa de um médico de esclarecer polêmica e fatos, ele nunca terá o acesso direto a não ser por meio do interceder de jornalistas desinformados. Ficará ao encargo destes o que e como será dito ao leitor. Chegando ao absurdo de revistas científicas e técnicas terem que ter uma equipe de jornalistas para a tornarem legal, apesar de desconhecerem o assunto ou dele não fazerem parte. Assim como simples comunicados de entidades privadas e sindicatos de categorias. O contra-senso é tão grande que jornalistas não podem ser professores destas matérias em escolas de nenhum grau, pois se reconhece o seu despreparo fundamental para uma atividade que se precise dominar os fundamentos. No entanto, para a mídia, estão livres para usarem sozinhos na tarefa de desinformação de milhares em suas colunas.


‘O criacionismo tem, sim, bases científicas que poderiam ser analisadas (assim como as proposições do design inteligente) nas aulas de ciências juntamente com o darwinismo.’ Desinforma o jornalista Michelson Borges de Tatuí, em LEITURAS DE VEJA Os extremos da revista, em 13/1/2009 (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?msg=ok&cod=520FDS009&#c). De onde ele possui informações para contraditar a ciência e o Ministério de Educação? MÍDIA & EDUCAÇÃO Até quando o MEC vai atrapalhar o ensino?


Por Sílvio Motta Costa e Michelson Borges em 16/12/2008 (http://observatorio.ig.com.br/artigos.asp?cod=516DAC004 )


Na sua militância como adventista. Talvez não pudesse ser mesmo professor em jornalismo, mas possui o poder de criticar o MEC impunemente sem capacidade em educação maior para isto. E, para desinformar as pessoas, não precisa mais nada do que este diploma, e este simples desejo e o acesso a mídia negada aos demais profissionais da área tratada. A sua falta de capacidade científica não o faz um argumentador que mereça resposta, mas como o mesmo se dirige justamente a pessoas que carecem de formação básica escolar para fazer uma crítica e uma análise sobre o tema, o torna uma pessoa que agrega desinformados ao seu redor achando que estão cercando uma novidade inusitada no conhecimento.


Fé e deuses


Uma prova do despreparo para a discussão e a divulgação do tema é ainda hoje em dia tratar o assunto como Darwinismo. Tão absurdo como chamarmos a teoria da gravitação universal de Newtonismo ou a teoria da relatividade de Einstenismo. O sufixo’ismo’ refere-se a doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente etc. (mais freq. no pl. e com sentido pejorativo – HOUAISS). Apesar de Darwin ter elaborado cinco teorias reunidas em uma obra, a quantidade de ramos das ciências biológicas e médicas hoje em dia não podem ser resumidas numa desinformação destas. De que tudo ainda está na’opinião’ de Darwin. Muitas cadeiras e profissões se criaram ao abrir este conhecimento. Não se pode ocultar todos os ramos das ciências e de pesquisa que tratam de desenvolver este conhecimento constantemente.


Enézio E. de Almeida Filho, Pesquisador em Educação em Ciências, Mestre em História da Ciência – PUC-SP, veio no OI em TEORIA DA EVOLUÇÃO Desnudando Darwin: ciência ou ideologia? ou A relação incestuosa da mídia brasileira com a Nomenklatura científica (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/ofjor/ofc201298.htm#inicio ) tentar arrebanhar jornalistas para a sua empreitada. Será que um filósofo da ciência é de fato um cientista? Teria capacidade de sentar num laboratório ou possui conhecimento para planejar um pouso em Marte? Resolveria o impasse na Apolo XIII? Não me parece que possa determinar verdades científicas ou validades de informação apenas pela formação filosófica que possui. Ninguém lhe daria o rim para operar ou lhe perguntaria qual a alternativa de tratamento é melhor para um melanoma. O que se diria de um jornalista então? As dificuldades de elucidação científica geram alternativas para serem testadas como explicativas e melhores esclarecedoras de uma teoria que visa cobrir bilhões de anos de ocorrências. Esta seria a volta bíblica literal ou a explicação do demiurgo desenhista a priori que falhou nas outras vezes? Certamente ela se fecha em si mesmo. Não amplia o conhecimento e nem pode ser falseada. A mesma explicação caduca dada ao raio, vulcão, trovão, terremoto agora usada na biologia molecular como explicação’científica’ moderna. Um deus ou um espírito desenhando peraltices. Fé e deuses não são explicações científicas e nem é um método que rendeu algum fruto em conhecimento, pesquisa e ciência. Tanto como não fez em tolerância entre humanos diferenciados por religiões.


A gripe do frango


Nenhuma revelação de mecanismo, de leis, de princípios além do gosto pessoal pela alegação bíblica de um criador, um demiurgo, um construtor de montanhas e rios, hoje enxergado na fronteira da estrutura molecular, onde ontem enxergavam com o mesmo argumento no horizonte, no movimento do vento e do rio. Apenas o direito a manifestação que é negada a todas as outras pessoas por reserva imoral de mercado numa área fundamental para os seres humanos. Uma ação prejudicial à sociedade como um todo em que desinformados e pessoas sem formação suficiente nem para ser professor passam a usar o meio público da informação de forma irresponsável e sem proficiência. Uma ótima fórmula para o atraso e o desserviço público.


Aqui no OI também na matéria: MÍDIA & AUTO-HEMOTERAPIA A notícia que ninguém publicou, pelo Jornalista, de Natal, RN ,Walter Medeiros, em 1/1/2008, (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=466FDS006 ) utilizando este direito de falar sobre o que não entende e não possui formação para promover crenças pessoais para as quais não está formado para opinar e garantir denunciando uma’conspiração’ entre o CFM e a ANVISA contra a saúde da população.


Outro exemplo no OI é o da jornalista Roxana Tabakman em MÍDIA & SAÚDE


Atenção! Médico solto na redação! Em 23/11/2004. (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=304OFC001 ) sobre os’perigos’ de médicos falarem sobre medicina sem um tradutor, um censor.’Golf ball é visto na 13ª semana de gravidez’ (Estado de S. Paulo, 16/11, A12), e seus perigos ao ser informados ao público. Posição alarmista que a mesma assume no tema: Meu filho corre perigo? Ou a matéria que ainda não li, Roxana Tabakman, Bióloga e jornalista especializada em saúde (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=331OFC001 ) ao alarmar, em 31/5/2005, sobre a influenza aviária (ou gripe do frango) era’a maior ameaça à saúde no mundo’.


Futuro não é promissor


‘Fazer uma matéria clara e sem erros sobre os riscos da pandemia é fácil. Com a internet, duas horas são suficientes.’ Ensina a jornalista.


Em GRIPE AVIÁRIA Especulação catastrófica não ajuda, em 27/3/2006, (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=374OFC001 ) já criticávamos a pânico tentado criar pela mídia.


Erros conceituais são mantidos na população pode estes profissionais dedicados aos seus gostos pessoais e ignorando os assuntos para a qual se dedicam a ganhar a vida. Lendo no TERRA um chamamento sobre o movimento dos ateus para chamarem visibilidade e respeito aos diferentes (http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3466218-EI306,00.html ) notamos que as ofensas nos comentários erram ainda ao dividirem em duas opções: o Universo e a vida criados ao acaso, ou produzidos por deuses ou o Deus (judeu), como foi a explicação primaria para tudo, do vulcão ao raio, o animismo. Hoje sabemos que tanto o vulcão, a chuva como o raio não ocorrem ao acaso, mas por razões e propriedades bem determinadas. Sir Isaac Newton se deu conta que maçãs não caiam por acaso e revolucionou o conhecimento. Diamantes, petróleo e carvão também têm causas, não se criam por acaso e nem por deuses. E é assim também com a criação da vida. Ela é uma propriedade da matéria e não ocorre ao simples acaso, mas apenas onde existem tempo e condições para tal. Quanto menos conhecíamos do tempo, menos condições tínhamos de prever onde cairia a chuva. No nosso caso, a vida no Sistema Solar, no terceiro planeta, não por obra de deuses ou espíritos quânticos, mas porque nesta esfera se encontravam as condições para tal. O que pode ter ocorrido em Marte e outros corpos solares com seres primordiais, extremófilos (seres vivos que vivem em condições extremas), primitivos. Enquanto o hidrogênio se formou com o resfriamento e a união do elétron e o nêutron, apenas milênios depois em supernovas, com as suas altas fornalhas para gerarem energia suficiente, ocorreu a formação de elementos pesados. Durante a explosão, a matéria atinge velocidades muito grandes, cerca de 10000km/s, permitindo que eventuais colisões entre as suas partículas originem fusões nucleares de elementos mais pesados tais como o ferro (Fe), chumbo (Pb), ouro (Au), urânio (U) entre outros. Para o ignorante são resultados do acaso. Mas cada vez mais o conhecimento elimina o acaso. Ou seja, a formação da matéria ocorre pelas suas propriedades e a formação do cosmos se dá pelas formações de astros pelas mesmas características que possuem intrinsecamente. O que vai determinar a ocorrência dos elementos e as prosperidades que serão origem do tipo de planeta e se ocorrerá a vida e em que nível de desenvolvimento ela poderá atingir em determinado astro. Assim como o urânio se forma na natureza, a montanha, o vulcão e o raio, tidos há 200 anos apenas como mistérios dos deuses, a vida também faz parte dos fenômenos naturais da matéria. Cabe apenas entender estes mecanismos totalmente naturais como fizemos com os outros tidos como insolúveis por filósofos e religiosos há pouquíssimos anos atrás. Entender e explicar os mecanismos são as palavras chaves e o objetivo da ciência. E elas não estão, como nunca estiveram, a mercê de nossas vontades, desejos e escolhas. Quem alega isto é um enganador que de nada conhece a respeito do tema. Escravos das paixões emocionais, desinformadores profissionais usando o poder de propriedade, de forma abusiva, que lhes foi outorgada erradamente. Profissionais que desejam tomar decisões e impor versão em assuntos os mais diversos para os quais não se prepararam escolarmente e muito menos profissionalmente para tal. Isto que ainda não analisei quando esta desinformação se dá de forma pior, pela busca da venda do espetaculoso, do extraordinário, do irresponsável apregoar de coisas miraculosas pelo seu efeito vendas bem sucedidas e sucessos editoriais acumulados. Que é o campo irmão dos cursos de comunicação social, a publicidade, tão inadequadamente associada ao de jornalismo que deveria possuir uma ética e uma formação bem diversa. Com péssimas escolas públicas e péssimos interlocutores a dominar a mídia, nosso futuro como país não é dos mais promissores. Como lembra Maxwell dos Santos, Aluno de História da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, em DIPLOMA DE JORNALISMO Dez argumentos pelo fim da obrigatoriedade, em 27/1/2009. (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=522DAC001 )

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Médico, Porto Alegre, RS