Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Jornalismo fast-food por todos os lados

O jornalismo da fofoca, em alta no planeta, tomou diversos caminhos em diferentes países, mas a raiz é a mesma. Celebridades e seus amigos, alguns amigos de amigos e jornalistas mantêm uma relação estreita em torno de futilidades. A vaidade das celebridades é o alimento dessa cadeia, que nutre a mídia das fofocas e suga a mente dos consumidores dessas notícias. Não se sabe quem nasceu primeiro, mas é certo que a publicidade, a propaganda e o marketing manipulam os consumidores a favor da mídia fofoqueira.


O jornalismo atual banaliza tudo. De catástrofes inesperadas a fatos rotineiros como a tragédia da fome humana, tudo é transformado em banalidade. Num mundo midiático dominado pela futilidade, ninguém se espanta com a fabricação em série de fatos & fotos que rendem capas & manchetes, onde se revezam celebridades de todos os setores da sociedade, especialmente artistas e atletas, cujo comportamento realimenta a roda viva da fofoca. Até políticos fazem parte do cineminha desse noticiário burro e pasteurizado.


Todo dia tem uma fofoca, uma nota bombástica, uma manchete que se repete com pequenas variações. As informações, a corrida paralela, os funcionários que estão apurando os fatos, as eternas repetições históricas da tragédia humana, nada vale uma notícia, uma reflexão, só a denúncia, a réplica e a tréplica. O entrevistador finge que pergunta e o entrevistado dá uma resposta pronta e estamos conversados, está no ar o meu, o seu, o nosso fast-food informativo. E ele é fantástico porque alia um mundo fraco de palavras e raciocínios humanistas, mas exuberante em imagens e informações voltadas ao ego, ao superficial.


Só um filme


Não é de estranhar que estejamos todos entupidos de informação e mal nutridos corticalmente. O jornalismo Caras, Quem, Contigo… Tem tudo a ver com os nossos telejornais, as semanais ‘de respeito’, os jornalões e ultimamente até com os programas de entrevistadores. O Brasil está mergulhado no poço das relações sociais deterioradas, pervertidas. De onde vem o dinheiro que alimenta esse circo?


Não só o dinheiro do Marcos Valério, mas o dinheiro das tribos que faturam e concentram grandes montantes, todas elas, as empresariais, as da cultura de celebridades, as do futebol, as dos meios de comunicação, as da medicina, da agricultura. Ninguém entra na questão da concentração de renda, em como ela escorre para as centenas de valeriodutos e minivaleriodutinhos. Tudo por causa do tom fofoqueiro a que acostumamos (?) os nossos consumidores de notícias. Cooptados para não pensar livremente, acham normal uma pessoa ganhar uma soma de dinheiro num mês que equivale ao sustento de milhares por toda uma vida. Como se não bastasse, são fãs, mendigam autógrafos, fotos ao lado e até ser igual, ter tanto quanto, ser tanto quanto, anestesiados por promessas de final feliz, como nas fábulas.


E aí entra um papel nojento da mídia, que é o da emocionalização: quando se trata de diferença de renda, a ordem é enaltecer os desvalidos apáticos e punir os desvalidos rebeldes, sem jamais questionar as estranhas benesses da minoria escolhida. Os soldados da informação fast-food mantêm a coisa funcionando, embarcam em todas as campanhas de acordo com o governo do momento, a moda em voga no planetinha. Tudo indica que entraremos na moda dos furacões, se falará sobre camada de ozônio, mudanças climáticas, tudo o que já viemos apurando nos últimos 20 anos. Mas e daí?


As monoculturas fundamentadas no capitalismo não estão diminuindo, a concentração de renda e o desvio de verbas para o luxo científico, midiático, militarista, cultural, empresarial… não estão sendo devidamente observados e realmente encarados. À mídia da fofoca não interessa acompanhar o destino das famílias que foram bombardeadas ou que sofreram sentimentos de guerra por forças da natureza, o que interessa são os bilhões de dólares que serão investidos para os remendos, os milhares de soldados que defenderão com armas e repressão a distribuição da comida e o estabelecimento da ordem. A notícia-bomba e o drama em cenas de filme apocalíptico ficam sem continuidade. Foi um filme, já passou. Quanto à pizza, estava estragada.

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Jornalista