Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalista usa nome falso para soltar o verbo

O mundo virtual permite que se crie identidades imaginárias, que se faça comentários anônimos, que se jogue da maneira que quiser. Internautas têm as ferramentas para tal, e o fazem. Mas qual o limite desta liberdade? Principalmente quando o internauta possui também uma responsabilidade pública, surgem questões éticas sobre as regras para sua atuação na rede. Para um jornalista da Califórnia, a brincadeira teve fim esta semana.


O Los Angeles Times suspendeu, na noite de quinta-feira (20/4), o blog de um de seus principais colunistas, sob alegação de que ele violou a política do jornal ao divulgar comentários depreciativos sob pseudônimos. O LATimes informou aos leitores, em uma nota em seu sítio, que o jornalista Michael Hiltzik, autor da coluna Golden State, admitiu ter postado comentários em seu blog hospedado pelo jornal e em outros sítios usando nomes falsos.


Pela política do LATimes, editores e repórteres das versões impressa e online devem se identificar quando lidam com o público. O jornal afirmou que investigaria o caso. Segundo Howard Kurtz [Washington Post, 21/4/06], Hiltzik e o editor Dean Baquet se recusaram a comentar o assunto.


Briguinhas com blogueiros


O jornalista, ganhador de um Prêmio Pulitzer em 1999, teria começado a usar os pseudônimos em discussões online com blogueiros conservadores da Califórnia. Um deles é o apresentador de rádio Hugh Hewitt; o outro, o subprocurador Patrick Frey, que possui um blog com o nome de Patterico´s Pontifications.


Frey descobriu, ao examinar endereços de internautas que haviam deixado comentários em seu blog, que o próprio jornalista do LATimes havia respondido, sob o apelido de Mikekoshi, a críticas feitas a ele por outros blogueiros.


Frey escreveu que as provas revelaram que o jornalista ‘usou mais de um pseudônimo. Hiltzik e suas outras ‘personalidades’ corroboravam seus argumentos, elogiavam-se e zombavam de seus inimigos. Enquanto isso, os leitores de Hiltzik não sabiam que o ácido ‘Mikekoshi’… era, de fato, o próprio Hiltzik’.


Em suas investigações, Frey descobriu as pegadas dos apelidos do jornalista em outros sítios. Em um blog local, chamado L.A. Observed, Mikekoshi descreveu a escritora Cathy Seipp como ‘uma ferramenta’ e alguém ‘enganado por sua própria ignorância’. Ainda no sítio de Frey, Mikekoshi usou o espaço para criticar Hewitt. ‘A possibilidade de ter Hugh Hewitt andando solto em público sem uma focinheira deveria deixar nervosa qualquer pessoa inteligente’, escreveu.


Quando Hewitt comentou, esta semana, sobre a queda nos lucros e circulação da Tribune Company, proprietária do LATimes, Hiltzik reagiu em seu próprio blog, afirmando que o tráfego no sítio de Hewitt é baixo por causa de ‘seu peculiar conservadorismo reacionário, que se tornou marginalizado nas extremidades da vida política americana’.


Após a suspensão do blog do jornalista, Hewitt comentou que a nota divulgada no LATimes sobre a farsa de Hiltzik era ‘muito esperta’. Segundo ele, os editores afirmam que a ‘ofensa’ está na deturpação da identidade ao público, ‘e não na publicação de identidades falsas e na manipulação de opiniões para influenciar opiniões. Eles estão cavando a fundo todas as histórias de Hiltzik? Todos os supostos comentários em seu blog?’, questiona.