Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalistas multimídia criam conflito de interesses

David Pogue, popular colunista de tecnologia, é um profissional enérgico e multimídia, escreve o ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, em sua coluna de domingo [6/9/09]. Além de publicar coluna semanal no NYTimes, blog, newsletter e produzir vídeos para o diário, ele participa regularmente do CBS News Sunday Morning, da CNBC e da NPR. Pogue também entretém o público tocando piano e tem uma série de livros de ajuda sobre tecnologia.

Tantas atividades acabam levantando questões éticas, em um período no qual jornalistas transformam-se em verdadeiras marcas próprias, independentes dos veículos onde trabalham. Há duas semanas, dois interesses de Pogue entraram em conflito. Em sua coluna no jornalão, ele fez uma crítica gloriosa ao Snow Leopard, novo sistema operacional para Mac da Apple. Ao mesmo tempo, escrevia um livro de ajuda sobre o sistema operacional – já disponível para pré-venda na loja online Amazon. Aí entra o paradoxo: quanto mais o Snow Leopard vender, mais livros sobre como usar o sistema serão vendidos.

Hoyt ouviu três especialistas em ética: Kelly McBride, do Poynter Institute; Bob Steele, professor da Universidade DePauw; e Stephen Ward, diretor do Centro de Jornalismo e Ética da Universidade de Wisconsin-Madison. Todos concordaram que o NYTimes e Pogue estão envolvidos em um conflito de interesses.

Soluções divergentes

Eles não concordaram, entretanto, em como resolver a questão. Para Kelly, o jornal não deveria privar os leitores do know how de Pogue, mas ela e Ward acham que deveria haver uma avaliação rigorosa entre os editores e que os leitores deveriam ser informados de todas as atividades do colunista. Isto não resolveria, entretanto, o conflito; o ideal seria Pogue não escrever críticas no jornal enquanto elabora manuais sobre o mesmo produto.

Todos foram unânimes em um ponto: neste momento de crise econômica, é natural que jornalistas procurem outras fontes de renda. Pogue não é o único. Thomas Friedman, por exemplo, cobra US$ 75 mil por palestra, além de escrever livros. O colunista Frank Rich é consultor. Mark Bittman escreve livros de culinária e participa de programas na PBS. Já John Harwood é correspondente da CNBC em Washington. ‘Vemos esta exposição como uma boa promoção para o diário’, avalia Bill Keller, editor-executivo. ‘O trabalho de Pogue e de outros como ele no NYTimes e em outros lugares depende da credibilidade deles. Se fizerem algo que a prejudique, perdem tudo’.

Pogue revela que ganha mais dinheiro com livros que com o trabalho no jornal. Ele e seus editores conversam frequentemente sobre os seus interesses. Na opinião do colunista, ninguém compraria o livro só por conta de sua coluna.