Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Jornalistas obrigados a deixar Guantánamo

Quatro jornalistas foram obrigados a deixar a prisão americana de Guantánamo, em Cuba, na quarta-feira (14/6), por ordem do Departamento de Defesa dos EUA, informam Greg Mitchell e Joe Strupp em artigo na Editor & Publisher [14/6/06]. Os profissionais estavam na ilha para diferentes coberturas quando, no sábado (10/6), três detentos cometeram suicídio no controverso centro de detenção.


Carol Williams, do Los Angeles Times, e Carol Rosenberg, do Miami Herald, foram as primeiras a receber a ordem. Um terceiro repórter, Michael Gordon, e o fotógrafo Todd Sumlin, do Charlotte Observer, poderiam, inicialmente, ficar até o próximo sábado, mas seu acesso à prisão foi posteriormente negado. Como era de se esperar, após o incidente os jornalistas escreveram artigos sobre o assunto – inicialmente, eles tiveram permissão para acompanhar as reações e respostas dos funcionários de Guantánamo.


J.D. Gordon, porta-voz do Pentágono, confirmou que os profissionais receberam ordem de deixar a ilha, mas negou que a decisão tenha sido tomada em represália a alguma matéria publicada por eles. Os jornalistas, com autorização do comandante da base militar, cobriram as conseqüências das mortes e entrevistaram advogados de alguns detentos. Foi depois que suas matérias começaram a ser publicadas que eles receberam a ordem de sair.


Represália não, pressão da imprensa


Segundo o porta-voz, as atividades e preocupações após a morte dos prisioneiros fizeram com que o Pentágono tomasse medidas para aumentar a segurança em Guantánamo, o que culminou na remoção dos jornalistas. ‘Nós dissemos a eles na segunda-feira que estávamos em uma posição difícil’, afirmou Gordon. ‘Estamos tentando ser imparciais e justos’. O porta-voz disse ainda que outro motivo que determinou a saída dos jornalistas foi a pressão vinda de outros veículos de imprensa por acesso similar às instalações em Cuba. De acordo com Gordon, no dia seguinte ao incidente, empresas de comunicação como Fox News, AP, CNN e Reuters, entre outras, começaram a ligar e exigir permissão para cobrir de perto o caso. Algumas delas teriam chegado a fazer ameaças legais. Para acalmar os ânimos e evitar futuros problemas, o Pentágono decidiu retirar os jornalistas que já estavam na prisão.


O porta-voz contou que as duas repórteres de nome Carol originalmente faziam parte de um grupo de 10 jornalistas convidados a acompanhar um julgamento militar durante a semana. O grupo deveria chegar no sábado, mas após os suicídios o julgamento foi adiado e os jornalistas, que viajariam em um vôo militar, foram avisados de que a visita estava cancelada. As duas repórteres, entretanto, viajaram em vôos comerciais e acabaram chegando na ilha. O jornalista Michael Gordon estava na prisão para fazer um perfil do comandante do campo militar. Os profissionais, então, receberam permissão para ficar. ‘Nós não gostamos, não achamos que era apropriado. Mas era algo cabível’, explica o porta-voz.


Anthony D. Romero, diretor-executivo da União Americana pelas Liberdades Civis, divulgou declaração afirmando que ‘se os EUA querem restaurar sua credibilidade como uma democracia aos olhos do mundo, deveriam convidar jornalistas a entrar, não expulsá-los. Nosso governo insiste que não tem nada a esconder, mas suas ações mostram algo diferente’.