Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalistas investigados são afastados da cobertura

A invasão de privacidade da Hewlett Packard na vida de 10 jornalistas americanos provocou um dilema ético para seus chefes, que tiveram que decidir se repórteres experientes e com muitas fontes deveriam cobrir o escândalo ou se isso levaria a um conflito de interesses.

As reações entre as cinco organizações de notícias que tiveram profissionais “investigados” pela empresa de computação e impressão foram variadas. Alguns dos repórteres foram completamente proibidos de escrever sobre a história.

“O principal ponto em algo desse tipo é que há um conflito de interesse e os jornalistas não deveriam cobrir a história”, defende o diretor do programa Knight Fellowships for Professional Journalists, James Bettinger. “Mas há também um grande valor em se chegar à história completa e levá-la ao leitor. E se você pega alguns destes repórteres e os tira da apuração, você perde o conhecimento institucional deles”, completa. Para complicar ainda mais a situação, alguns dos jornalistas podem vir a prestar queixa contra a HP pela intrusão em seus assuntos pessoais.

Proibições e contribuições

Tanto a CNet Networks quanto a Associated Press retiraram temporariamente os profissionais envolvidos no escândalo da cobertura, com a justificativa de que sua objetividade poderia ser comprometida. A decisão da CNet afeta três repórteres – Dawn Kawamoto, Tom Krazit e Stephen Shankland. Na AP, foi transferida para outra editoria Rachel Konrad, que é casada com Shankland e chegou a cobrir a história antes de saber que também havia tido seu telefone grampeado pelos investigadores da HP.

Segundo a porta-voz do New York Times, o jornalão proibiu que o jornalista John Markoff escreva sobre o escândalo, mas ele poderá continuar a cobrir outros assuntos que tenham relação com a empresa.

O Wall Street Journal proibiu a repórter Pui-Wang Tam de escrever sobre o escândalo, mas não eliminou completamente a possibilidade de que o jornalista George Anders contribua com a cobertura. Já a revista BusinessWeek escalou um de seus principais repórteres de tecnologia, o também investigado Peter Burrows, para escrever sobre a confusão. Burrows e Anders já escreveram livros sobre a HP, e têm profundo conhecimento sobre a companhia.

Junto com artigo de Burrows sobre o assunto, a BusinessWeek publicou uma nota dos editores expondo o envolvimento do jornalista no caso. Segundo a porta-voz da revista, outros dois repórteres, Ben Elgin e Roger Crockett, também foram investigados, ainda que escrevam raramente sobre a companhia. Se algum dia eles vierem a escrever novamente sobre a HP, assegurou ela, suas ligações com o escândalo também serão expostas. Informações de Michael Liedtke [AP, 3/10/06].