Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Leila Reis

‘Pela segunda vez consecutiva, o jornalista Chico Pinheiro vai ancorar – com Renata Ceribelli – a transmissão do desfile das escolas de samba de São Paulo. Assim como as escolas, Chico e seus colegas se preparam para entrar na avenida sem atravessar o samba. Nesta entrevista, ele conta como é esse processo e diz que, às vezes, as mulheres peladas atrapalham a visão dos que estão interessados na riqueza do carnaval.

Estado – Há quantos carnavais você trabalha cobrindo a folia?

Chico Pinheiro – Com 33 anos de profissão, perdi a conta do número de carnavais em que eu trabalhei. Também já passei carnaval cobrindo retiro espiritual de gente que foge da folia quando trabalhava no Jornal do Brasil e na Globo de Minas Gerais.

Estado – Como a cobertura do carnaval é ensaiada?

Chico – Depende. Eu e a Renata Ceribelli vamos fazer a narração do carnaval de São Paulo pela segunda vez. Não existe propriamente ensaio, mas uma preparação. Nós visitamos os barracões das escolas de samba, nos aprofundamos nas informações sobre os enredos, alas, alegorias, comissão de frente, etc. para embasar a narração. A equipe de produção reúne todos os dados, incluindo a imagem de cada fantasia, em um caderno que levamos para a transmissão. Na verdade, reunimos mais informações do que podemos dar ao telespectador no tempo do desfile.

Estado – Dá para ser sóbrio na cobertura do carnaval?

Chico – A alegria não é incompatível com a seriedade. Ser sóbrio não é ser triste ou carrancudo. Nossa função é reportar para o telespectador o que estamos vendo.

Estado – Seriedade combina com mulher pelada?

Chico – Carnaval não é mulher nua. É uma festa popular. Às vezes, as mulheres peladas atrapalham a visão de quem quer ver com profundidade a riqueza dessa festa. Insistem na exibição dos corpos nus aqueles que não têm o que dizer ou mostrar. A transmissão da Globo não se prende tanto às mulheres peladas. O público quer ver a bela mulher e a celebridade. Maurício Kubrusly está lá para chamar a atenção para os detalhes da festa e Leci Brandão para comentar tecnicamente os desfiles.

Estado – O que você faz quando a transmissão atravessa o samba?

Chico – A cobertura não atravessa o samba porque é tudo muito bem organizado. Ficamos das 9 da noite às 8 da manhã no ar, temos repórteres na concentração, na dispersão.

Estado – O que não pode acontecer?

Chico – É o narrador deixar de ser repórter, não saber o que está fazendo.

Não é um trabalho complicado, porque a nossa função é descrever o que público está vendo, acrescentando informações. Quem vê as escolas de longe pode achá-las muito parecidas, mas na verdade elas não o são. Isso é o que temos obrigação de mostrar.

Estado – Preencher o tempo nessas transmissões com comentários acaba caindo no lugar comum, repetição de termos como magia, empolgação, etc…

Chico – O adjetivo é recurso usado por quem não tem informação. O desfile é factual. A narração é a legenda do que os olhos vêem. Tem a questão operacional: a gente narra em cima das imagens que surgem no monitor e chama a atenção para detalhes relevantes. Sou um contador de histórias, das histórias que estou vendo. A TV facilita porque mostra o que eu estou contando.

Estado – Em algum momento falta gás?

Chico – Acontece de, em algum momento, bater o cansaço. Mas alguém sempre alerta: ‘Ei, você está ficando para baixo’ e dá uma sacudida na gente. Mas isso é raro, porque o trabalho é dinâmico demais.’



Daniel Castro

‘Deputado questiona Carnaval na Cultura’, copyright Folha de S. Paulo, 21/02/04

‘O deputado estadual Alberto Hiar (PSDB-SP), o Turco Loco, protocolou na Assembléia Legislativa requerimento de informações sobre os gastos da cobertura do Carnaval que a TV Cultura, mantida pelo Estado (governado pelo PSDB), fará neste ano.

A Cultura não exibe desfiles desde 1988. Amanhã, transmitirá ao vivo as apresentações do Grupo de Acesso, a segunda divisão do Carnaval. Na sexta, mostrará o desfile das campeãs. Os direitos foram cedidos pela Globo. Segundo Hiar, por trás das transmissões estaria ‘uma aproximação’ da TV Cultura ‘com o PT’, que controla a Prefeitura de SP, promotora do Carnaval.

A ‘articulação’, de acordo com o deputado, teria como objetivo cooptar os votos dos dois representantes da prefeitura no conselho curador da Fundação Padre Anchieta (mantenedora da Cultura), que em maio elege presidente. O atual presidente, Jorge da Cunha Lima, deve ser candidato.

A Cultura diz que a cobertura envolverá 200 profissionais, oito câmeras e custará apenas R$ 50 mil. ‘A fundação considera importante para a sociedade a cobertura de todos os eventos relacionados aos 450 anos de São Paulo, assim como o Carnaval. É uma decisão sem nenhuma conotação político-partidária, até porque a história e o Carnaval são patrimônios culturais do povo e não pertencem a nenhum partido político’, afirmou a emissora.’

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‘Globo leva Carnaval ‘global’ para Rússia’, copyright Folha de S. Paulo, 20/02/04

‘O Carnaval carioca de 2004 vai passar em pelo menos 13 países (mais Brasil) e será exportado pela Globo em quatro versões: uma exclusiva para a Rússia, outra para a Argentina, um documentário para os EUA e um programa em espanhol. Até ontem, tinha sido vendido para Romênia, Ucrânia, Paraguai, Peru, Nicarágua, Guatemala e República Dominicana, Equador, Costa Rica e Panamá.

Será a primeira vez que o Carnaval do Rio irá passar na Rússia, onde acaba de estrear ‘O Clone’. ‘Está vindo um dos principais apresentadores da Rússia’, diz Flavio Rocha, diretor artístico da divisão internacional da Globo.

Até o ano passado, a Globo vendia o Carnaval para o exterior ‘in natura’, mais flashes ao vivo. Neste ano, a emissora está oferecendo pacotes de 52 minutos. ‘Ao invés de mandarmos quatro horas de desfiles, a gente está empacotando um programa, com reportagens e entrevistas [Xuxa por exemplo]’, afirma Rocha.

O foco não será apenas nos desfiles, mas, principalmente, ‘nas estrelas da Globo reconhecidas nos países que exibem novelas’ da emissora’. ‘Será um programa da Globo sobre o Carnaval da Globo’, define Rocha.

Esse será basicamente o conteúdo das versões argentina, russa e em espanhol. O quarto programa é uma segunda edição (a primeira foi em 2003) de documentário para o canal pago Travel Channel (Discovery) exibir nos EUA.’



CULTURA EM CRISE
Israel do Vale

‘Crise no MinC marca ‘fim do sonho’ e do ‘do-in atropológico’’, copyright Cultura e Mercado, 17/02/04

‘Demissão de Roberto Pinho, secretário de Projetos Culturais do Ministério da Cultura, gera ‘demissão solidária’ de outros três nomes de peso dentro do órgão; ‘o sonho acabou’, escreveram

A exoneração de Roberto Pinho do posto de secretário de Projetos Culturais do Ministério da Cultura, ontem, espalhou estilhaços para outra áreas do MinC. Em solidariedade a Pinho, três nomes de peso do segundo escalão do Ministério da Cultura demitiram-se hoje.

Em carta conjunta lavrada em tom de desencanto, com frases como ‘o sonho acabou’, o escritor Antônio Risério (amigo de longa data do ministro Gilberto Gil e criador de termos como ‘do-in antropológico’, enquanto autor dos principais discursos de Gil), a arquiteta Maria Elisa Costa (presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan) e o arquiteto Marcelo Ferraz (coordenador-geral do Programa Monumenta, principal canal de captação de verbas no exterior para preservação e restauro do patrimônio arquitetônico) manifestaram seu protesto em relação à decisão e anunciaram suas saídas.

Pinho foi demitido sob alegação de ‘quebra de confiança’ após a constatação, nas esferas técnicas do MinC e do ministério da Justiça, de irregularidades na contratação da empresa que coordenaria a implantação de 16 unidades das Bases de Apoio à Cultura -ou BACs, como o governo tem chamado o projeto de instalação de centros culturais na periferia das cidades. As BACs são tidas como uma das meninas dos olhos desta gestão.

Abaixo, a íntegra da carta assinada pelos demissionários e endereçada ao ministro.

Brasília, 17 de fevereiro de 2004.

Senhor ministro:

Mais uma vez, infelizmente, o sonho acabou. No caso, o sonho ou a utopia de realizar, em nosso país e para o nosso povo, uma intervenção cultural realmente densa, rigorosa, democrática e criativa, através do Ministério da Cultura. Uma intervenção que, preservando o nosso passado, fosse também uma aposta no futuro. E que estivesse, acima de tudo, à altura da generosidade e do poder de invenção da nossa gente.

Mas é que o cotidiano rasteiro da politicagem e da intriga faz as suas cobranças. E pode investir para tentar destruir pessoas grandiosas. Pessoas preciosas, como é, para nós, o companheiro Roberto Pinho. O que está sendo feito com ele nos deixa perplexos. Estarrecidos. A mediocridade é sempre muito pequena – e não dura no tempo. Mas a sua capacidade destrutiva pode ser, às vezes, muito grande. Não podemos, no entanto, aceitar o que está acontecendo. E o nosso gesto, neste momento, é da mais genuína solidariedade.

A deslealdade, a mesquinharia na disputa pelo poder, a ignorância, o descaso por tudo aquilo que é social e culturalmente mais importante e profundo, nos afastam agora deste Ministério. Não se trata de pedir demissão. Nós nunca nos demitimos de nada. Nós nunca conjugamos o verbo ‘desistir’. Nós nunca optamos pelo silêncio e a omissão. Estamos, apenas, nos retirando de uma estrutura que permitiu e permite manipulações perversas. Estamos nos recusando a pactuar com o que estão lamentavelmente fazendo nesta casa. Estamos nos despedindo de tudo isso. Estamos anunciando a nossa saída.

Antonio Risério, poeta e escritor

Assessor Especial do Ministro da Cultura

Maria Elisa Costa, arquiteta

Presidenta do IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Marcelo Ferraz, arquiteto

Coordenador Geral do Programa Monumenta do Ministério da Cultura’



COMPRA DA DISNEY
Cibele Santos

‘Comcast perde primeiro round na briga pela Disney’, copyright Meio & Mensagem (www.mmonline.com.br), 17/02/04

‘Em assembléia extraordinária na noite desta segunda-feira, dia 16, o board da Walt Disney Co. rejeitou por unanimidade a proposta não-solicitada de compra da Comcast Corp., maior operadora de cabo dos EUA, que na semana passada ofereceu um total de US$ 66 bilhões pela gigante da mídia e do entretenimento.

A decisão da diretoria foi um voto de confiança a Michael Eisner, chairman-ceo da Disney, cuja administração tem sido duramente criticada pelos acionistas do grupo – entre eles Roy Disney, sobrinho do fundador Walt Disney, que no final do ano passado deixou o board para se dedicar a uma ferrenha campanha de substituição de Eisner.

O veto de ontem está longe de representar uma derrota para Brian Roberts, presidente-ceo da Comcast, que provavelmente contará com o apoio de Roy e seus aliados para convencer os acionistas das vantagens da fusão com a Comcast na próxima assembléia anual da Disney, no dia 3 de março. Ironicamente, a reunião acontecerá na Filadélfia (Estado da Pensilvânia), QG da Comcast Corp.’



Gazeta Mercantil

‘Disney rejeita Comcast e diz que oferta foi baixa’, copyright Gazeta Mercantil, 18/02/04

‘Os membros do conselho da Walt Disney, a segunda maior empresa de mídia dos Estados Unidos, rejeitaram por unanimidade, como muito baixa, a oferta de aquisição de US$ 54,1 bilhões da Comcast e disseram que os diretores vão examinar ofertas mais altas. As ações da Disney subiram 12% desde o anúncio da proposta, fechando em US$ 26,92 na sexta-feira e indicando que os investidores prevêem um lance maior. ‘A Comcast estará relutante em elevar sua proposta materialmente’, diz Vinson Walden, analista da Thornburg Investment Management. A Thornburg detinha 3,4 milhões de ações da Comcast a contar de dezembro. ‘Mas é exatamente isso que a Disney tentará ganhar.’

A proposta do principal executivo da Comcast, Brian Roberts, chega no momento em que o principal executivo da Disney, Michael Eisner, enfrenta tentativas de demovê-lo do cargo pelos ex-diretores Roy Disney e Stanley Gold. Uma associação das duas empresas casaria os estúdios da Disney, a rede de TV ABC e o canal a cabo ESPN com sistemas que conectam 21,5 milhões de assinantes da Comcast.

O conselho da Disney diz que vai considerar ofertas da Comcast ou de outros interessados, e disse que apoia Eisner. ‘O conselho confia na direção empresarial, financeira e criativa da Disney sob a liderança de Michael Eisner e sua equipe administrativa’, comentaram os diretores da Disney.

A Comcast, sediada em Filadélfia, reagiu à rejeição informando que ‘a oferta representa uma proposta sólida e convincente para os dois grupos de acionistas’. A Disney vale US$ 32 a ação, excluindo as potenciais economias de custo da associação com a Comcast, disse Jessica Relf Cohen, analista. Os acionistas da Disney deteriam 42% da nova empresa. A Disney poderia contribuir com 60% da receita da nova empresa, baseado nas vendas do ano passado. Alguns investidores afirmaram que a nova empresa seria atraente porque permitiria à Disney distribuir seus produtos para um número maior de consumidores.

A News Corp., de Rupert Murdoch, conclui uma estratégia similar no último trimestre, ganhando controle da transmissora de TV via satélite Directv para ajudar a distribuir os filmes dos estúdios Fox e shows nas redes de TV a cabo e aberta Fox. A Disney não precisa de um novo canal de distribuição para seus filmes e shows de televisão em razão da sua popularidade, disse Eisner.’



O Globo

‘Disney recusa oferta de US$ 66 bi da Comcast’, copyright O Globo, 18/02/04

‘NOVA YORK. O Conselho de Administração da Disney recusou, segunda-feira à noite, a oferta de US$ 66 bilhões feita pela Comcast, a principal operadora de transmissões a cabo dos Estados Unidos. Ontem, a Comcast informou que não vai aumentar sua proposta.

A oferta da operadora de cabo foi feita em 11 de fevereiro passado, quando cada ação da Disney valia cerca de US$ 24. Mas os papéis da empresa se valorizaram mais de 10% em quatro pregões, fechando a sessão de ontem a US$ 26,90.

Gigante do setor de mídia e entretenimento, a Disney disse que está aberta a outras propostas. A Comcast, por sua vez, reagiu garantindo que sua oferta é irresistível para os acionistas de ambos os grupos e que refletiria uma avaliação ‘bastante generosa’.

O presidente da Comcast, Brian Roberts, disse ao ‘Wall Street Journal’ que sua lendária agressividade para convencer os investidores das operações de fusão poderia chegar ao limite, caso a Disney pedisse um preço alto demais.

– Nós precisávamos da ATT. Mas não creio que precisamos tanto de fazer esta transação com a Disney – disse Roberts, referindo-se à compra da grande operadora de telefonia americana, em 2002.

Especulações sobre futuro da Disney voltam à tona

A Disney conseguiu chamar a atenção para novas propostas e especulações sobre seu futuro.

– Como já tínhamos dito, a divisão NBC da General Electric e o grupo de mídia Liberty Media são candidatos potenciais (à compra da Disney) – afirmou ontem Jordan Rohan, analista da corretora Schwab Soundview Capital Markets. – E outro concorrente da Comcast no setor de cabo, a Cox Communications, também pode ficar com vontade de apresentar-se como comprador, seja isoladamente ou em sociedade com outro grupo.

Já o grupo Viacom, também de mídia e entretenimento, deixou claro ontem que – pelo menos por enquanto – não há fundamento nas especulações a respeito de seu interesse pela Disney.’