Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Levantes no Magrebe e a conferência sobre a Líbia

‘A comunicação é a mensagem’ (McLuhan, 1962). Com esta frase, Marshall McLuhan vem revolucionando o mundo há quase 50 anos. Na sua concepção, qualquer tecnologia cria gradualmente um meio ambiente humano inteiramente novo. Se observarmos de uma perspectiva contemporânea, esta premissa vem sendo comprovada desde o dia 25 de janeiro, quando a população da Tunísia saiu às ruas pedindo liberdade de expressão, novas estruturas governamentais e a saída imediata do presidente da República, Zine El Abidine Ben Ali. De acordo com o ministro do Exterior britânico, William Hague, ‘as demonstrações e as derrubadas de ditadores nos países árabes mostram que as redes sociais como blogs, Facebook, YouTube e Twitter são de grande valia quando o seu interesse é a mobilização de uma massa’ (ver aqui).

Para Hans Kleinsteuber, pesquisador e professor de Novas Mídias da Universidade de Hamburgo, Alemanha, ‘a tecnologia 2.0 e 3G não são importantes apenas para movimentar massa com sua respectiva comunicação, porém também são importantes para conhecimento de informações que estão do outro lado de nossas fronteiras’ (Die Zeit, 25.03.2011). Esta mesma força de que fala McLuhan, e que é defendida pelo professor Kleinsteuber, destituiu o presidente da Tunísia, contagiou o povo egípcio durante 18 dias contra o sistema autocrático de Mubarak, ameaça o poder do presidente Muammar el Gaddafi da Líbia e espalha movimentações em massa no mundo árabe (Omã, Síria, Argélia, Iêmen, Arábia Saudita e Jordânia), sem contar com recentes movimentações na China e na Coreia do Norte.

Uma singular ajuda técnico-cientifica

Após 10 dias do início dos bombardeios das tropas aliadas da ONU sobre o território líbio em defesa da população civil, se reuniram na capital inglesa aproximadamente 40 conselheiros de diversas nações para discutir sobre uma futura solução política na Líbia. Na noite anterior ao encontro na cidade de Londres (28/3), o canal francês-alemão Arte mostrou uma entrevista com os quatros representantes das nações interessadas, os quais também fazem parte das tropas aliadas (Alemanha, França, Inglaterra e EUA). Segundo os ministros dos respectivos países, eles iriam a Londres com uma pré-proposta: ‘O tema central da conferência deve permear uma resolução política do conflito, para a qual a transição da Líbia poderia desempenhar um papel primordial’ (ver aqui).

As grandes perguntas lançadas pela comunidade de jornalistas representada por vários países foram taxativas: ‘Como poderá ser a Líbia democrática?’; ‘Qual modelo de democracia é mais sustentável em uma nação islâmica?’; ‘Quais critérios democráticos podem ser implantados em um país que não conheceu a revolução industrial?’ A resolução da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é clara. ‘A Otan não apoiará rebeldes em conflitos internos.’ Qual a posição da Otan caso os rebeldes atirem na população civil? (ver aqui). A posição do governo alemão em relação ao conflito na região Magrebe é clara. A resposta saiu da conferência ‘Islamismo na Alemanha’ (29/3), na qual foi discutida a posição do Estado alemão em relação à comunidade islâmica em território germânico. Segundo o ministro do interior alemão, Hans Peter Friederich (CDU), ‘Islam nicht zu Deutschland gehoert‘, ou seja, o islamismo não pertence à Alemanha (ver aqui). Com esta frase, o ministro do exterior alemão Guido Westerwelle defendeu os interesses germânicos em Londres e ofereceu uma singular ajuda técnico-cientifica.

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Doutorando em comunicação Política pela UPF – Universitat Pompeu Fabra/ Barcelona e integrante do Núcleo de Estudos e Ações sobre Democracia e Direitos Humanos (NEADDH), da Universidade Federal de Pernambuco