Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lula critica sensacionalismo de operação da PF

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


************


O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 15 de julho de 2008


 


 


OPERAÇÃO DA PF
Vera Rosa


Lula condena uso de algemas e espetáculo


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou ontem o uso indiscriminado de algemas e o ‘sensacionalismo’ da Polícia Federal na Operação Satiagraha, que teve como principal alvo o banqueiro Daniel Dantas. Em reunião com os ministros que compõem a coordenação política do governo, Lula cobrou menos espetáculo nas investigações e manifestou preocupação com a legalidade das ações dos agentes federais.


‘Para que humilhar uma pessoa se ela se dispõe a prestar esclarecimento e tem endereço fixo?’, perguntou Lula, que retornou ontem ao Planalto após oito dias de viagem por Japão, Vietnã, Timor Leste e Indonésia. ‘Eu sou contra essa exposição desnecessária, antes de comprovada a culpa.’


Além de Dantas, o megainvestidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta saíram algemados por agentes da PF quando foram presos. Pitta chegou a ser filmado de pijamas quando recebeu a polícia em casa.


Escalado para falar sobre o tema na reunião, o ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que o único reparo a fazer dizia respeito à forma como a operação foi divulgada para uma emissora de TV. Ao contrário de Lula, Tarso defendeu o uso das algemas – sob a alegação de que não se sabe quando os suspeitos mostrarão resistência à prisão -, mas concordou que a operação deflagrada para combater crimes financeiros e desvio de recursos públicos poderia ter sido mais discreta.


Aborrecido com a divulgação das conversas grampeadas envolvendo seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, Lula disse ontem que a PF pode ter cometido abuso.


Embora ministros afirmem que ‘não teve nada demais’ a conversa telefônica interceptada entre o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) – advogado de Dantas – e Carvalho, o clima é de cautela.


Lula avalia que a Operação Satiagraha pode ter desdobramentos imprevisíveis. Além das ameaças do banqueiro de apontar a metralhadora para o Planalto e para o PT, os próprios petistas se enfalfinham em disputas.


Greenhalgh e o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu dizem que Tarso usa a PF para tirar dividendos políticos próprios. Ele, por sua vez, avisa que não vai proteger ninguém do PT nas investigações.


Na reunião com o núcleo de governo, Tarso afirmou que somente a aprovação do projeto de lei que estabelece regras para as escutas telefônicas, parado no Congresso, pode impor maior controle aos grampos, impedindo excessos. (leia texto ao lado).


A proposta, que prevê mais rigor na seleção de conversas pessoais, foi enviada pelo Ministério da Justiça à Câmara há sete meses e até hoje está em banho-maria. ‘Se esse projeto tivesse sido votado, possivelmente alguns erros não teriam sido cometidos’, disse Tarso ao Estado.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Patrícia Campos Mello


Caricatura de Obama como terrorista agita campanha


‘A capa da revista New Yorker desta semana mostra o candidato democrata Barack Obama e sua mulher, Michelle, vestidos de terroristas muçulmanos no Salão Oval. A ilustração revoltou a campanha democrata. Nela, Obama aparece vestido de árabe, enquanto Michelle usa um cabelo black power e um fuzil AK-47 no ombro. Na lareira, uma bandeira americana é queimada sob uma foto de Osama bin Laden.


Segundo a revista, o objetivo da ilustração era fazer uma sátira sobre os boatos que a direita espalha sobre Obama. ‘A capa satiriza as táticas do medo e desinformação usadas na eleição para desestabilizar a campanha de Barack Obama’, dizia um comunicado da direção da revista à imprensa.


A campanha de Obama, porém, não achou a menor graça. Bill Burton, porta-voz do democrata, disse que a caricatura era ‘ofensiva’ e de ‘mau gosto’. ‘A New Yorker pode até achar que essa capa é uma crítica humorística, mas a maioria dos leitores vai encará-la como uma coisa ofensiva e de mau gosto.’


A revista se dirige a um público sofisticado, que certamente entenderá a piada. Além disso, a New Yorker é uma publicação de esquerda, que apóia Obama. O medo dos democratas, porém, é da repercussão negativa nos rincões do país, onde a sátira pode ser interpretada como verdadeira.


Os estrategistas democratas também temem que a imagem seja massificada pela internet. A capa é uma compilação dos boatos sobre Obama e Michelle: o de que ele é muçulmano, não é patriota, e o de que ela é uma revolucionária raivosa.


‘A idéia de rotular Obama como antipatriótico e terrorista é absurda. Achei que ao retratar essa idéia mostraria o quão ridículos são esses boatos’, disse Barry Blitt, ilustrador, responsável por várias capas polêmicas da New Yorker.


Ano passado, uma de suas capas trouxe o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, sendo sexualmente assediado em um banheiro público – ela saiu depois que Ahmadinejad declarou, em visita a Nova York, que não existiam gays no Irã.


Os principais blogs de esquerda condenaram a revista. ‘Talvez valha a pena cancelar a assinatura’, disse o Daily Kos. A campanha do republicano John McCain também condenou a imagem. ‘Concordamos com a campanha de Obama. Foi de mau gosto e ofensivo.’


Alguns comentaristas, no entanto, acham que houve um exagero. Para eles, estaria havendo um patrulhamento das críticas ao democrata, imediatamente confundidas com racismo.


‘A capa está dentro dos limites do jornalismo’, disse Clarence Page, colunista negro do jornal Chicago Tribune. Outro comentarista negro, Shelley Wynter, também não viu nada demais. ‘Como é que vamos fazer uma sátira politicamente correta?’, ironizou.


Em entrevista ao site The Huffington Post, o editor da New Yorker, David Remnick, defendeu a idéia. ‘Já publicamos muitas capas satíricas. É só perguntar ao governo Bush quantas foram.’’


 


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Parlamentares anunciam Frente de Comunicação Social


‘Um grupo de 118 deputados federais e 38 senadores, de 17 diferentes partidos políticos, anunciaram ontem, durante jantar de abertura do IV Congresso Brasileiro de Publicidade, a criação da Frente Parlamentar de Comunicação Social. O assunto foi protocolado no Congresso Nacional na quinta-feira. Com a frente parlamentar, os políticos – entre os quais os senadores Álvaro Dias (PSDB), Aloizio Mercadante (PT) e Delcídio Amaral (PT), e deputados como Michel Temer (PMDB) e Rodrigo Maia (DEM) – se definem como porta-vozes dos interesses da comunicação no País.


Na prática, questões como os mais de 300 projetos que propõem restrições à propaganda em diversos níveis e estão no Legislativo passam a ter um canal mais efetivo de representação. O fato tem merecido queixas constantes do meio publicitário e, por isso mesmo, é um dos temas centrais nos debates do atual Congresso. ‘Não só eles, mas todas os assuntos relativos à comunicação social, que são, ou deveriam ser, relevantes para todos os brasileiros’, enfatiza o presidente do IV Congresso Brasileiro de Publicidade, o publicitário Dalton Pastore.


Um estudo preparado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para retratar a relevância do segmento para a economia nacional foi apresentado durante o congresso. O levantamento mostrou que o setor de serviços de comunicação movimentou R$ 57 bilhões e empregou mais de 640 mil pessoas em 2005. São dados defasados, mas os mais próximos já obtidos pelo mercado.


O legado do congresso de publicidade, que tem a tradição de produzir marcos para o setor – a última edição, há 30 anos, criou o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) -, será a defesa da liberdade de expressão, na opinião do presidente da agência Ogilvy, Sérgio Amado.


Os organizadores do evento, incluindo Amado, têm batido insistentemente nessa tecla nos últimos meses. Não só os profissionais das agências, mas executivos como o diretor-geral da Rede Globo de Televisão, Octávio Florisbal. ‘Há muitas leis no País querendo cercear a atividade publicitária, o que afeta o negócio da comunicação como um todo’, diz ele.


A tônica da liberdade de expressão fez com que ganhasse destaque a presença de palestrantes internacionais que se consagraram na defesa do tema. Para a abertura, o convidado foi o diplomata nascido em Gana Kofi Annan, ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e Prêmio Nobel da Paz em 2001.


Em um auditório lotado, Annan foi várias vezes aplaudido. Mostrou humor ao começar sua palestra pedindo à audiência sugestões de como deveria tratar a própria imagem. A pergunta foi feita depois de contar um episódio de suas férias em um vilarejo da Itália, onde resolveu se enclausurar após dez anos à frente da ONU. Em um passeio para comprar jornais, achou que tinha sido reconhecido por populares, mas, na verdade, estava sendo confundido com o astro hollywoodiano Morgan Freeman.


Sereno, Annan baseou sua fala no conhecido documento Global Compact, que criou na ONU e que já foi assinado por 4 mil empresas. Todas se comprometeram a usar práticas transparentes para cuidar do meio ambiente e assim garantir um futuro melhor para a humanidade. ‘A transparência é poderosa’, insistiu.


NOVO NOME


O IV Congresso de Publicidade deverá ser rebatizado para Congresso da Indústria da Comunicação, uma vez que 31 entidades do setor se mobilizaram para a realização das 15 comissões que discutem os mais diferentes temas.’


 


***


Comunicação integrada atrai mais interesse


‘Dentre as 15 comissões que debatem assuntos relativos à cadeia de prestação de serviços de comunicação, a que discute a comunicação integrada reuniu o maior número de inscritos. Uma das razões para esse interesse está no fato de, nos últimos anos, os especialistas do setor avaliarem que as mensagens publicitárias para atingir os consumidores precisam de diversos canais. A velha mídia – televisão, jornais, revistas e rádios – já não basta. O avanço da tecnologia móvel mudou o processo da comunicação. Há agora muitos pontos de contato com o consumidor.


Essa constatação tem feito com que as campanhas publicitárias mais bem-sucedidas sejam aquelas que conseguem orquestrar de anúncios na televisão aos displays nos pontos-de-venda, tudo com uma mesma linguagem. Para o presidente do Grupo Total, Eduardo Fischer, que presidiu a comissão, a prática da comunicação integrada tem de entrar nos currículos das universidades de comunicação. Por isso mesmo, entre as três propostas apresentadas pela comissão está justamente a criação, já a partir do próximo ano, de uma cadeira voltada para a comunicação integrada nas grades de ensino.


Os outros pontos apresentados na tese defendida pela comissão dizem respeito à forma de remuneração e de mensuração dessa forma de se fazer comunicação. Para Fischer, esse trabalho deve ser medido por uma nova ótica. ‘Temos de criar e aperfeiçoar as atuais ferramentas’, diz. E isso deverá acarretar em aumento de custos para o anunciante, o que vai gerar resistência. Daí a proposta de pagamento dos serviços considerando os resultados de toda a ação, não apenas os anúncios veiculados na mídia tradicional.’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Não houve ultimato ao Yahoo, diz Microsoft


‘A Microsoft contestou a versão apresentada pelo Yahoo a respeito das negociações sobre uma possível divisão da companhia, envolvendo o investidor Carl Icahn. Em comunicado, a gigante do software desmentiu que tenha dado apenas 24 horas para o Yahoo aceitar a oferta. A proposta não foi um ‘ultimato’, mas uma tentativa de ver se a oferta da Microsoft era suficiente para ‘que as partes entrassem em negociações ao longo do fim de semana acerca de acordos de investimento mais detalhados’, segundo o documento. Na sexta-feira, Microsoft e Icahn fizeram uma proposta pela qual a Microsoft compraria o negócio de busca do Yahoo e deixaria Icahn controlar o restante da companhia.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Mulher de bandido, mulher de todos, o mito Helena Ignez


‘Ela foi um assombro, a jovem Helena Ignez. Glamour Girl da Bahia e candidata a Miss Bahia, era linda, com certeza. Sua inquietação levou-a a fazer teatro e cinema. Casou-se com Glauber Rocha, com quem teve a filha Paloma, estrelou o curta O Pátio. E há uma versão segundo a qual era Glauber, o marido, quem redigia as notas da coluna social que Helena, sob o pseudônimo de Krista, publicava no Diário de Notícias de Salvador.


Helena Ignez casou-se depois com Rogério Sganzerla, com quem teve outra filha, Djin, também atriz. Com Júlio Bressane e ele, fundou a Bel-Air, uma produtora de filmes experimentais que teve curta duração, mas deixou sua marca no cinema brasileiro dos anos 70. O CineSesc abriga esta semana uma retrospectiva dedicada a Helena. Chama-se A Mulher do Bandido, pegando carona no fato de que ela estrelou – seu primeiro filme com Sganzerla – O Bandido da Luz Vermelha. Mas o filme de abertura – ontem, para convidados – foi A Mulher de Todos, o segundo com Sganzerla.


Em Paulínia, durante o festival encerrado no domingo, Rubens Ewald Filho, participando de um encontro da crítica com estudantes da Escola Magia do Cinema, lembrou uma história do fim dos anos 60. Ele era um jovem crítico no Jornal da Tarde e o que escreveu sobre A Mulher de Todos desagradou tanto ao diretor que Ewald Filho foi agredido por ele. O caso foi para a capa do jornal. Houve réplica e tréplica. Hoje, tudo isso é passado – Ewald Filho e Sganzerla reconciliaram-se – e o filme pede revisão. Depois da Janete Jane do Bandido, a Ângela Carne e Osso de A Mulher de Todos, sempre com seu charuto na boca, não apenas sacramentou a investigação de linguagem de Sganzerla como estabeleceu o mito da ex-glamour girl como musa do udigrúdi.


Musa, ela já havia sido do cinema baiano, já que, depois de O Pátio, interpretou também A Grande Feira, de Roberto Pires. No Rio, com Roberto Farias, fez O Assalto ao Trem Pagador, no papel da mulher de Reginaldo Faria, o Grilo, que representava o mundo do asfalto, em oposição ao morro, personificado por Tião Medonho (Eliezer Gomes). O Assalto não era um filme do Cinema Novo, mas seu sucesso de público tornou oportuno agregá-lo ao movimento, para sugerir que dialogava com as massas. Helena fez um clássico de Minas – O Padre e a Moça, que Joaquim Pedro de Andrade adaptou do poema de Drummond, com magnífica fotografia de Mário Carneiro. O negro amor de rendas brancas era vivido por Paulo José e ela.


Grandes filmes, e além de todos esses podem ser citados, porque também serão exibidos, os que ela fez com Bressane (Cara a Cara, Barão Olavo, o Horrível, Cuidado Madame e São Jerônimo), Elyseu Visconti (Os Monstros de Babaloo), Olney São Paulo (O Grito da Terra) e os restantes com Sganzerla (Copacabana Mon Amour, Sem Essa, Aranha, Nem Tudo É Verdade, O Signo do Kaos). E existem os curtas – O Pátio, naturalmente; Almas Passantes, de Ilana Feldman e Cléber Eduardo; Helena Zero, de Joel Pizzini; Elogio da Luz, de Pizzini e Paloma Duarte; mais os curtas e médias que a própria Helena assinou, obras como A Miss e o Dinossauro e Reinvenção da Rua.


Helena foi – e é -, vivíssima nos seus 67 anos (nasceu em 1941), a mulher de todos, todos os formatos, todas as mídias, todas as bitolas (do super-8 ao 35 mm), todas as estéticas (da comercial à vanguarda), todos os autores, de diferentes regiões do Brasil. Uma atriz que criou uma persona e, por si só, encarna uma história do cinema brasileiro. Nem tudo o que fez foi brilhante – no teatro, foi ‘engolida’ pela trágica Glauce Rocha, quando ambas fizeram Electra -, mas poucos artistas ousaram tanto. E Helena, no atual debate de Manoel Carlos com os atores, que acha que eles não têm muito o que dizer, pode ser considerada uma saudável exceção (embora não seja a única).


Esta mulher múltipla se revelou, de repente, de um só. Helena e Sganzerla ficaram juntos desde os anos 60 até a morte dele, em janeiro de 2004. Tiveram filhos, fizeram filmes, compartilharam sonhos, o exílio. Em outubro de 2003, ela subiu ao palco do Cine Odeon para receber a homenagem do Festival do Rio ao marido. O prêmio honorário lhe foi entregue por Ivan Cardoso, ele próprio investigador da linguagem, transcodificador – que busca fazer a ponte entre o erudito e o popular no cinema – e tiete assumido de Bressane e Sganzerla. Cardoso fez um discurso comovido, dizendo que Sganzerla, como criador, havia superado seu mestre Orson Welles e, como homem, dava (na época, estava nas últimas) uma lição de vida ao enfrentar a adversidade da doença. Helena foi sintética. ‘Eu amo este homem.’ A retrospectiva que a homenageia não deixa de resgatar também seu amor por Rogério.


Serviço


A Mulher do Bandido. Hoje, 15 h, A Grande Feira; 17 h, O Padre e a Moça; 19 h, Cara a Cara; 21 h, O Bandido da Luz Vermelha. Cinesesc (329 lug.). Rua Augusta, 2.075, 3087-0500. Grátis (retirar ingressos 1 h antes). Até 17/7′


 


 


 


************


Folha de S. Paulo


Terça-feira, 15 de julho de 2008


 


OPERAÇÃO DA PF
Carlos Heitor Cony


Refresco de memória


‘RIO DE JANEIRO – Até agora, a mais espetacular operação da Polícia Federal atirou contra o banqueiro Daniel Dantas. Mas atingiu também o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, que está levando as sobras com o levantamento de sua polêmica passagem no judiciário nacional.


Em matéria de ontem, publicada aqui na Folha, a repórter Ana Flor lembrou que o ministro foi trazido à vida pública por Fernando Collor, mas atingiu um raio de ação mais substancioso durante os dois governos de FHC, quando foi advogado-geral da União. ‘O próprio Mendes tinha contra ele ações de improbidade administrativa movidas, em 2002, por um procurador da República que o acusava de enriquecimento ilícito.’


É certo que o futuro ministro teve decidida atuação no caso das privatizações -daí, talvez, a ‘tranqüilidade’ de Daniel Dantas quanto à decisão do seu caso no Supremo presidido por Mendes.


Outro jornalista, Mauro Santayana, em sua coluna no ‘Jornal do Brasil’ de ontem, diz que ‘Gilmar excluiu-se eticamente do direito de pertencer ao Judiciário’. E lembra: ‘O mais grave é que ele se encontrava sub judice, processado por improbidade administrativa -conforme denúncia de Dalmo Dallari- quando seu nome foi levado à Comissão de Justiça do Senado para ocupar a vaga no Supremo’ -a indicação fora feita por FHC, em paga de seus serviços como advogado da União.


Santayana continua: ‘O rolo compressor do governo quebrou a resistência da maioria dos senadores. Ainda assim, seu nome foi recusado por 15 parlamentares. A Associação dos Magistrados Brasileiros também se opôs à sua nomeação. Mais ainda: o Ministério Público questionara, antes, a presença de Gilmar, que pertencia a seus quadros, na Advocacia Geral da União’.’


 


 


Kennedy Alencar e Valdo Cruz


Presidente diz a ministros ver excessos em operação policial


‘Em reunião ontem com seus principais ministros, o presidente Lula avaliou a Operação Satiagraha como ‘consistente do ponto de vista investigatório’ e ‘positiva’ para a imagem do governo, segundo relatos obtidos pela Folha.


Lula fez dois reparos à operação. Disse que o vazamento da prisão do ex-prefeito Celso Pitta para a TV Globo é um excesso e pediu que o ministro Tarso Genro (Justiça) tome providências disciplinares. Também julgou excessivo o uso de algemas. Disse, porém, que deve haver um critério único.


O presidente defendeu o chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, que apareceu em um grampo conversando com Luiz Eduardo Greenhalgh (PT). Disse em conversa reservada que ele, Carvalho e o ministros devem redobrar cuidados com pleitos de amigos e de partidários sem cargo público em audiências e telefonemas.’


 


 


Roberto Machado


Defesa critica Tarso e diz que Abin é ‘SNI’


‘O advogado Nélio Machado, que defende Daniel Dantas, acusou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de estar agindo de forma ilegal e paralela à investigação da Polícia Federal e criticou o comportamento do ministro da Justiça, Tarso Genro, no episódio da prisão do dono do Opportunity.


Preso duas vezes na semana passada e beneficiado por habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Dantas é acusado de chefiar uma quadrilha responsável por diversos crimes financeiros e fiscais a partir das empresas do grupo Opportunity.


O advogado afirmou que existem indícios de que agentes da Abin interceptaram ilegalmente conversas telefônicas. ‘Eu constatei interceptação da conversa de advogados, o que é uma barbaridade. Tem inclusive interceptação de conversa do meu cliente com um advogado dele nos Estados Unidos.’


Segundo Machado, há indícios de que a Abin tenha monitorado a comunicação entre os advogados de Dantas, no Rio e em Brasília. ‘Incluindo troca de e-mails entre o meu escritório e o do Pedro Gordilho e Alberto Pavie. Também com o de Luiz Carlos Madeira, em Brasília. São todos advogados da maior seriedade. É uma audácia interferir mediante grampo, que eu acredito que seja ilegal.’


Disse ter indícios de que a ida de Pavie ao STF, na última terça, horas após a prisão de Dantas, foi monitorada pela Abin: ‘Essa investigação é muito estranha porque revela, de maneira chapada e indisfarçável, a presença de uma entidade que não tem nenhuma atribuição de atuar em investigação de natureza penal, que eu chamo de SNI [Serviço Nacional de Informações, antigo nome da Abin].’


O advogado de Dantas afirmou que Tarso teria interesses políticos no episódio. ‘Vê-se que o presidente da República lançou, ou pelo menos prestigiou, a ministra Dilma [Rousseff]. Subitamente vê-se o ministro Tarso ocupar espaço. Ele integra o Executivo e está agindo meio à solta. O próprio presidente deu declarações posteriores muito mais comedidas.’


Machado disse que a avaliação de Tarso, em entrevista à Folha publicada no domingo, de que seria ‘muito difícil’ para Dantas provar inocência é ‘reprovável’. ‘Ele está agindo como o algoz. Faz juízo de valor.’


Sobre o depoimento de Hugo Chicaroni, que disse ter recebido dinheiro para tentar subornar um delegado da PF em benefício de Dantas, Machado afirmou tratar-se de ação ‘isolada’. ‘Não há envolvimento do meu cliente com aquela ação.’


Ao criticar a atuação do juiz da 6ª Vara Criminal de São Paulo Fausto De Sanctis, que ordenou as prisões de Dantas, Machado antecipou uma das linhas que utilizará na defesa. ‘Um juiz tem que se preocupar com o julgamento técnico. Esse caso está viciado desde o início porque violaram o HD [disco rígido] do banco [Opportunity] contra uma ordem judicial do STF. Juiz de primeira instância não pode ir contra o Supremo.’


 


 


Lucas Ferraz e Valdo Cruz


Agência admite atuação, mas nega ‘clandestinidade’


‘A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) confirmou que agentes secretos, a pedido do delegado Protógenes Queiroz, participaram da Operação Satiagraha. O órgão negou ter atuado ‘clandestinamente’, mas sua atuação foi considerada irregular pelo governo.


Ontem, durante reunião de coordenação, o ministro Tarso Genro (Justiça) confirmou a participação de agentes da Abin na operação e afirmou que esse foi um dos erros cometidos por Queiroz. Tarso disse ao presidente Lula que o delegado não adotou o procedimento normal -fazer o pedido à Abin pela diretoria de operações da PF.


Em nota, a Abin afirmou ontem que o diretor-geral do órgão, Paulo Lacerda, ‘não tem e não teve nenhuma participação ou iniciativa, muito menos ingerência, nos fatos que resultaram’ na ação, mas que é comum a ‘cooperação com os demais órgãos públicos’. ‘[A Abin] não realiza quaisquer atividades para as quais não possua respaldo na legislação.’


A Folha revelou, no dia 10, que agentes da Abin atuaram no caso à revelia da direção da PF. Em maio, agentes seguiram o carro de Humberto Braz, assessor de Dantas, pelas ruas do Rio.’


 


 


Janio de Freitas


Escuta aqui


‘AS ESCUTAS telefônicas autorizadas por juízes, no total desatinado de 407 mil só em 2007, aparecem na confusão jurídico-policial do caso Dantas/Nahas como uma balbúrdia à parte, na qual nem o próprio Judiciário e a Polícia Federal sabem onde foram parar as suas responsabilidades e a que serviram, de fato. Às reações que estão motivando, inclusive no Judiciário, opõe-se, porém, uma evidência: é da liberalidade dessa invasão descontrolada das privacidades que os resultados policiais eficientes têm dependido, e não de investigações propriamente.


O descontrole desse método, tão pouco policial no sentido, digamos, sherlockiano da palavra, sequer precisaria da demonstração numérica no inquérito em moda, ou dos seus antecessores. É uma desembargadora, Maria Cecília de Mello, que quer providências para saber como aparecem, no inquérito, palavras que lhe são atribuídas, em diálogos gravados do advogado Nélio Machado. E o juiz a quem coube autorizar escutas da PF no inquérito, Fausto De Sanctis, nega que as autorizasse em telefones da desembargadora e do advogado.


A CPI das Escutas Telefônicas afinal mereceu, também graças ao escândalo em moda, atenção de jornais&cia. [Eis leitor, um mistério interessante: por que essa CPI foi boicotada pelo noticiário? Palpite, para suas especulações: porque a TV Globo e demais Globos não a reportaram). A recente descoberta deve-se, no entanto, a um mau motivo.


O PSDB, por intermédio do deputado Gustavo Fruet, decidiu usar a CPI das Escutas como trampolim para explorar como assunto de política oposicionista o caso Dantas/Nahas. Seria o desvio de um assunto repleto de aspectos importantes para o nível do oportunismo aturdido. O debate, ontem, entre a investida de Fruet e a reação do presidente da CPI, Marcelo Itagiba, resultou na permanência do sentido original da comissão. Mas a gravidade do ali investigado coincide com as inquietações que as escutas desregradas voltam a suscitar, e ali está o cenário aberto para discussão do problema e possíveis correções.


A proposta do PSDB, apresentada pelo deputado fluminense Otavio Leite, contém um risco. Auditagem nos grampos aplicados pelas telefônicas, para conferir a legitimidade dada por autorizações judiciais, expõe à quebra de sigilo dos telefones postos sob escuta judicial. Talvez haja precauções possíveis e ainda à espera de exame. Em outra linha, a legal, a proposta do presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Mozart Valadares Pires, tem todo sentido: alterar a lei que permite escutas para incluir a exigência, à polícia, aos procuradores e aos promotores, de fundamentação comprovadora da necessidade de escuta.


(Alô. Alô. Que interrupções chatas, hein. Pô, caiu outra vez, não sei o que é isso. Vou desligar).’


 


 


IMPRENSA NOS EUA
Folha de S. Paulo


Saem editores do ‘Chicago Tribune’ e do ‘LA Times’


‘O publisher do ‘Los Angeles Times’ e a editora-chefe do ‘Chicago Tribune’ anunciaram ontem em um intervalo de poucas horas seus pedidos de demissão, expondo a crise pela qual passa uma das maiores empresas de mídia dos EUA, a Tribune Company, desde sua recente compra pelo bilionário do setor imobiliário Sam Zell.


Ao negócio de US$ 8,2 bilhões, fechado em dezembro último, seguiu-se a adoção de uma política de corte dos quadros e revisão da linha editorial no grupo que publica alguns dos principais jornais do país.


Ann Marie Lipinski, há sete anos editora-chefe do ‘Chicago Tribune’, será substituída nesta quinta pelo editor-associado Gerould W. Kern. Há uma semana, o jornal informara que eliminaria 80 postos para cortar custos diante da queda do faturamento com publicidade e circulação -a economia esperada é de US$ 8,8 milhões.


Em comunicado, Lipinski disse apenas que seu cargo ‘não é mais o mesmo’. ‘Há muito a se fazer, e os novos proprietários deveriam ter o seu próprio editor, compatível com seu estilo e com seus objetivo.’


Também ontem, David Hiller, publisher do ‘LA Times’, o principal veículo da Tribune Co., deixou o jornal após apenas 21 meses na sua direção com uma nota seca, na qual diz que ‘Sam [Zell] tinha outras idéias’. ‘Sam é o chefe e ele escolhe seu capitão’, escreveu.


Há duas semanas, o jornal revelara plano de cortar 250 vagas. Em janeiro, James O’Shea, editor-chefe do ‘LA Times’, já havia deixado o periódico devido a disputas sobre cortes orçamentários e desavenças com o próprio Hiller.


Entre as mudanças a serem aplicadas nos 14 jornais da marca estão a redução de 12% das páginas noticiosas, a priorização de textos mais curtos e a incorporação de mais elementos visuais.


Além disso, o ‘Baltimore Sun’, também do grupo, vai parar de publicar notícias de negócios em um caderno separado. Randy Michaels, executivo da Tribune Co., disse em junho que a produtividade de cada jornalista está sob avaliação com vistas a novos cortes.


Com Associated Press e o ‘New York Times’’


 


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Apple vende 1 milhão de novos iPhones


‘A Apple informou que vendeu ontem seu milionésimo iPhone 3G, que chegou às lojas de mais de 20 países na última sexta-feira. ‘O iPhone 3G teve um primeiro fim de semana brilhante’, afirmou Steve Jobs, presidente-executivo da Apple. De acordo com ele, a primeira versão do aparelho demorou 74 dias para atingir essa mesma marca.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Afiliado acusa Globo de forçar venda de TV


‘Sócio da TV Leste, afiliada da TV Globo em Governador Valladares (MG) nos últimos 21 anos, Edson Gualberto está acusando a parceira de forçá-lo a vender parte da emissora para outro empresário como condição para renovar contrato de afiliação, a vencer dia 31.


O contrato não foi renovado, e a TV Leste passará a ter a bandeira da Record. Na região, a Globo será coberta pela TV dos Vales, de Coronel Fabriciano, atualmente afiliada à Record. ‘A Globo disse que só renovaria se fizéssemos parceria com a InterTV, de Fernando Camargo’, diz Edson Gualberto. A InterTV controla afiliadas da Globo no interior do Rio de Janeiro e em Natal (RN).


Segundo Gualberto, essa ‘parceria’ seria a venda de 60% das cotas da TV Leste. Ele diz que não aceitou e optou por mudar para a Record. ‘Não é por causa da Globo que a gente vai morrer. A Globo não é mais a única rede’, afirma.


Gualberto relata ainda que a Globo impunha os diretores comercial e de jornalismo.


Procurada, a Globo emitiu a seguinte nota: ‘A gestão das empresas afiliadas é totalmente independente. A TV Globo busca ter alinhamento de políticas em diferentes áreas para homogeneizar a ação da rede. No caso da TV Leste, avaliamos que a gestão estava aquém de nossos padrões de qualidade e informamos que, por isso, o contrato não seria renovado quando expirasse seu prazo’.


COLETIVO 1


Globo e Record anunciaram, domingo, como exclusivo de cada uma delas, um material que ambas tinham: os segundos finais do áudio da cabine do avião da TAM que se acidentou em Congonhas há um ano.


COLETIVO 2


O ‘Domingo Espetacular’ exibiu reportagem com as falas a partir das 20h37. O ‘Fantástico’ iniciou a apresentação às 21h49. Ontem de manhã, ignorando a concorrência, o ‘Bom Dia Brasil’ reafirmou que o áudio era exclusivo da Globo.


GUERRA


Mesmo apelando para a ‘sensualidade’ do depilado Marcos Pasquim, ‘Guerra e Paz’, da Globo, perdeu para a Record no Ibope da Grande SP. Marcou 15,3 pontos, contra 16,1 da Record (‘Câmera Record’).


SEM VOZ


A Globo esclarece que não foi por desleixo que Rosana Jatobá apresentou quase sem voz o ‘Jornal Hoje’ de sábado. Segundo a emissora, a jornalista foi avaliada, e liberada, por fonoaudiólogo. Mas o ar condicionado do estúdio piorou sua voz quando já não havia mais tempo de substituí-la.


IMPRÓPRIO


O Ministério da Justiça discordou do SBT e classificou o ‘Programa Silvio Santos’ como impróprio para menores de 10 anos, o que não afeta seu horário de exibição, por conter ‘agressão física e verbal, linguagem obscena e metáforas’.


PRÓPRIO


Anteontem, o ‘Programa Silvio Santos’ bateu a Record (‘Tudo É Possível’, de Eliana), por 8,8 a 7,8 pontos, e foi vice.’


 


 


Cristina Fibe


‘Elevado 3.5’ busca poesia no Minhocão


‘Um elevado feio, em meio a uma das partes mais horrendas de São Paulo, observado por apartamentos velhos, malcuidados e tristes, deteriorados pela construção do viaduto. As lentes dos diretores João Sodré, Maíra Bühler e Paulo Pastorelo tentam adicionar alguma poesia à ‘maior obra de concreto armado da América Latina’, como se vangloriava o prefeito que a inaugurou, Paulo Maluf, em 1971, nas imagens de arquivo que abrem o filme ‘Elevado 3.5’.


O ‘3.5’ do título refere-se à extensão, em quilômetros, do elevado Costa e Silva, o Minhocão, no centro da cidade. É nessa distância que o documentário busca seus personagens -zelador, sapateiro, comerciante, fotógrafo…-, visivelmente influenciado por Eduardo Coutinho e seu ‘Edifício Master’ (2002).


Como seu precursor, este documentário lembra o voyeurismo à la ‘Big Brother’ e fuça as entranhas da pobreza que corrói a vida dos moradores do entorno do Minhocão. Até personagem cantando há, como na célebre cena do filme de Coutinho em que um dos moradores do prédio de Copacabana entoa ‘My Way’. A aproximação entre os filmes deu resultado, e ‘Elevado 3.5’, exibido hoje pelo SescTV, ganhou o prêmio de documentário brasileiro no 12º É Tudo Verdade.


ELEVADO 3.5


Quando: hoje, às 22h


Onde: no SescTV; 12 anos’


 


 


INTERNET
Marco Aurélio Canônico


Campeões do download


‘Se você tem o hábito de baixar filmes e séries de TV, certamente já passou pelo site holandês Mininova.org -afinal, uma média de 2 milhões de visitantes únicos passa ali por dia (cerca de 35 milhões por mês).


É o maior site de downloads do mundo, com quase 800 mil arquivos (filmes, séries, músicas, jogos, todos colocados no ar pelos usuários) disponíveis, gratuitamente, no formato de torrent.


‘Somos o 60º maior site da internet, mas se você comparar com o Google ou o Yahoo, ainda somos bem pequenos’, diz, por e-mail, Erik Dubbelboer, presidente da empresa.


Criado (e mantido desde então) por cinco amigos universitários, o Mininova seguiu uma rota conhecida na web: viu sua popularidade crescer na base do boca-a-boca, passou a vender espaço para anúncios e, em pouco tempo, virou empresa.


O crescimento do site desde sua criação, em janeiro de 2005 (sucedendo ao popular Suprno va.org, tirado do ar por questões legais), é notável: em 2006, ‘mininova’ foi a nona palavra mais pesquisada do ano, no Google; em janeiro de 2007, chegou à marca de 1 bilhão de downloads e, há pouco mais de um mês, ultrapassou os 5 bilhões (mesmo sem material pornô, vetado no site).


O Brasil participa dessa audiência desde o começo -um dos cinco primeiros arquivos do site foi o do disco ‘Compact Jazz’, de Astrud Gilberto.


‘Seu país é a sexta maior fonte de tráfego para o site. São cerca de 3,8 milhões de visitantes brasileiros por mês, principalmente São Paulo e Rio.’


Uma olhada na lista de mais baixados do site dá uma dimensão do que atrai o público: em 2007, o campeão dos filmes foi ‘Transformers’ (569.259 downloads), e o das séries, ‘Heroes’ (2.439.154 downloads).


O mais baixado atualmente é uma coletânea dos 125 principais artistas de hip hop e R&B da Billboard.


Lei


Mesmo sendo a maior referência para os downloads que tanto preocupam a indústria, o Mininova não sofre a feroz perseguição -com ataques na Justiça e na internet- de similares como o piratebay.org.


Isso porque o site é bem mais amigável às instituições -ele, por exemplo, tira do ar links para material com direito autoral protegido, quando os donos da obra pedem (o Pirate Bay, além de não tirar, ainda ridiculariza as ameaças recebidas).


Há dois meses, no entanto, o site foi processado pela organização holandesa anti-pirataria Brein, que representa diversas empresas afetadas. ‘Estávamos negociando com eles, mas não chegamos a um acordo. É a primeira vez que o Mininova é processado, mas vamos à corte com plena confiança, pois operamos dentro da lei, retiramos material ilegal quando pedido.’


A Brein responsabiliza o site por disponibilizar material com direito autoral protegido e exige a instalação de um filtro para prevenir esse tipo de infração dos usuários.


O Mininova se defende dizendo que não mantém os arquivos (diferentemente do YouTube, por exemplo): eles ficam nos computadores dos usuários, que trocam entre si. O site é apenas para busca.


Além disso, nem todo material tem direito autoral protegido e nem todo país criminaliza este tipo de download (a Holanda, por exemplo, autoriza).


No caso do Brasil, há um projeto de lei no Senado que prevê a criminalização de quem baixa e troca arquivos sem autorização do titular. Pela legislação atual (não específica sobre internet), o download já pode ser enquadrado como desrespeito ao direito autoral, mas as ações contra os internautas não são comuns.’


 


 


CELEBRIDADES
João Pereira Coutinho


Santa Angelina


‘LEITORES, ESCREVO-VOS de uma cama. Gripe sazonal. Nada de grave, espero. E então contemplo, com tédio e leve dor corporal, as imagens televisivas do momento. Angelina Jolie é mãe de gêmeos. E eu, por estranha associação de idéias, lembro a princesa Diana. Estive em Londres quando Diana morreu em acidente de automóvel. Recordo o filme: acordei cedo nessa manhã; tomei o café em silêncio; saí para a rua e uma multidão de gente chorava sem explicação racional.


Havia flores, muitas flores, em esquinas e bancos de jardim. Fotos de Diana nas janelas das lojas, das casas, dos carros. E velas ardendo nas calçadas. Alguns adolescentes dormitavam nas soleiras das portas, e muitos soluçavam como as crianças órfãs nos contos de Dickens. E às portas do Palácio de Buckingham, milhares de súditos, indignados com a indiferença da família real ante a tragédia, conspiravam entre si para derrubar a monarquia.


Era um regresso a 1688, pensei, e o novo tirano não era mais James 2º, mas Elizabeth 2ª.


E os jornais? Os jornais falavam na força da comoção nacional. Não duvido. Mas prefiro pensar em tudo aquilo como a força da comoção religiosa. Uso o termo no sentido preciso. A religião não é apenas um conjunto de dogmas e ritos destinados a celebrar a transcendência; a religião é, como diria Durkheim, um fato social. Ela permite ‘ligar’ uma comunidade de estranhos num propósito comum.


Diana foi esse propósito. A comunidade cristã pode estar em declínio nas nossas sociedades; o número de fiéis diminui drasticamente no Ocidente ‘rico’ e ‘pós-moderno’; e, para sermos honestos, quem observa as recomendações do Vaticano em matéria sexual?


Mas o recuo da comunidade cristã, com seus dogmas e ritos, não aboliu a necessidade de crença: a necessidade que temos de acreditar em algo que é maior do que nós e que redime a nossa precária condição.


E se as pessoas já não adoram figuras de madeira ou pedra, como em Fátima ou Lourdes, são os grandes mitos pop, na música ou no cinema, que servem a esse propósito: eles congregam ‘romarias’, inspiram momentos de ‘transcendência’, permitem que o ‘crente’, convertido em ‘fã’, possa assim encontrar um caminho e um exemplo.


Os santos morreram. Mas ninguém sobrevive sem o seu.


Para os ingleses, a santa era Diana. Para o mundo de hoje, a santa é Angelina Jolie. Mas quem é Angelina Jolie?


Atriz, sim. Atriz mediana, sem dúvida. Mas Angelina, com inteligência imaculada, entendeu o ar do seu tempo e agiu em conformidade: antigamente, os diamantes eram os melhores amigos das mulheres. Mas hoje, num mundo democratizado, em que qualquer milionário anônimo pode entrar em loja da Quinta Avenida e torrar uma pequena fortuna em joalheria fina, a verdadeira marca distintiva não é mais material; é espiritual.


Um diamante é fácil. Um órfão cambojano não é fácil, nem está à venda na Quinta Avenida: exige esforço, disponibilidade e, finalmente, o triunfo pio que a estrela de Hollywood gosta de exibir perante as lentes fotográficas. O caçador e o seu troféu.


Angelina não tem jóias para mostrar. Mas tem um filho cambojano, um vietnamita e uma etíope, além de uma biológica. E, agora, o Altíssimo concedeu a santa Angelina não mais um filho, e sim dois: um par de gêmeos nascidos em hospital francês, em clima de sacralidade absoluta. Cá fora, hordas de jornalistas e alienados procuravam uma imagem do milagre. Ver, sentir e eventualmente tocar os ungidos sempre consolou os crentes.


O milagre será mostrado, sim, mas por meio de revista americana que já conseguiu os direitos da ‘revelação’ por US$ 11 milhões. A cifra será distribuída por obras de caridade.


E se os leitores ficam impressionados com os contornos religiosos do fenômeno, aviso que estamos apenas no início. Com o fim das religiões tradicionais, as celebridades pop ocuparão o lugar dos velhos santos, espalhando a palavra redentora e, quem sabe, curando os cegos, os loucos e os paralíticos.


A palavra tem sido espalhada por atores de Hollywood que, ‘embaixadores’ das mais diversas instituições, lutam pela salvação do Tibete (são Richard Gere), do Sudão (são George Clooney), da Somália (santa Mia Farrow) e até do planeta inteiro (são Al Gore).


Mas a consagração só será absoluta quando o santo usar as próprias mãos (e, no caso de Angelina Jolie, os próprios lábios) para curar milagrosamente os enfermos deste mundo. Eu, que vos escrevo de uma cama, não me importava em ser o primeiro.’


 


 


 


************