Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mais que nunca, socialismo ou barbárie

Ao acompanhar as comemorações dos 40 anos da Rede Globo, e pensando no papel da imprensa na pós-modernidade, entendo que ela passa a ser, e cada vez mais, o que é descrito pelo saudoso Octávio Ianni como o ‘príncipe eletrônico’. Mas, embora uma ‘desconstrução’ do ‘moderno príncipe’ de Antônio Gramsci, tanto o príncipe de Ianni, como a imprensa atual, remetem-nos ao ‘enigma da pós-modernidade’, parodiando o título da obra deste autor.

De modo que, salvo honrosas exceções, a imprensa moderna no umbral do pós-moderno, como ‘príncipe eletrônico’ de um ‘espaço híbrido’, como diriam Hardt e Negri, aproxima-se das instituições fantásticas do Big Brother de George Orwell.

Mas – diferentemente do 1984 – a força não está com os Estados-nação, mas com o capital transnacional e financeiro. E a imprensa é dona de um poder corporativo e exorbitante, como alguns Estados neoliberais de fachada para a anarquia de mercado e o conseqüente relativismo dos costumes, para citar o papa Bento XVI. Mais do que nunca coloca-se a alternativa de Rosa Luxemburgo, ‘socialismo ou barbárie’, com tecnologia de ponta e, até mesmo por causa dela, sempre em núpcias com a globalização perversa e armada.

Extinção do planeta

À imprensa, tenho repetido à exaustão como julgo deva fazê-lo, convinha ser cúmplice do trabalho, e não do capital financeiro; optar pelo Estado-nação, e não pelos lucros transnacionais; aliar-se às cartas magnas das diversas repúblicas, e não aderir à anarquia de mercado e às ‘antileis’ das máfias e paraísos fiscais em rápida multiplicação. Observamos que, ao informar ela a sua realidade, insiste numa ficção, num ‘buraco da memória’.

E esta se desdobra em três dependências: 1) Dependência do petróleo; 2) Dependência das drogas; 3) Dependência das armas. Pudesse se fazer um plebiscito global sobre tais ‘necessidades’ e o povo do mundo inteiro diria: não! a tais dependências fantasiosas, escolhendo alternativas outras. A dependência do petróleo, por exemplo, provavelmente mais rendosa do que se imagina, poderia ser resolvida por uma diversificação de fontes de energia como a elétrica, a solar, a química etc., combustíveis inclusive menos poluentes.

Sem falar na criatividade de uma ciência muito desenvolvida que pode ter na gaveta algumas descobertas a serem aproveitadas. E não se abandonaria o comércio do petróleo e seus derivados, mas deixaríamos de estar amarrados a ele pela voracidade dos capitalistas em seus lucros. O mesmo se poderia dizer das drogas e das armas. Colocadas as diferenças inerentes a cada uma coisa, todas as três tão ‘orgânicas’ entre si. O enigmático horizonte da pós-modernidade não parece apontar-nos mais para o socialismo, mas para a barbárie e, mesmo, a extinção do planeta. Mészáros teme isso em seu livrinho O século XXI.

Boca famélica

De certo modo os primeiros sinais da pós – modernidade, caracterizada como tal , encontram-se no ataque às torres – gêmeas no 11 de Setembro. O socialista não se regozija com tal violência.O socialista não é anarquista ou terrorista. Não quer apenas ter razão quando a insanidade do liberalismo econômico e a sua ‘mão-invisível’ nos inclinam a tais perspectivas abissais.

O socialista como que se eclipsou, saiu de cena, tornou-se o personagem secundário de uma tragédia anunciada. Porque, quando nos adentramos demais no caminho dos erros, já não se pode voltar sem crises muito graves. Não foi assim no século passado antes das duas grandes guerras? Se o planeta está doente é porque o socialismo – um mal interpretado marxismo – murchou como a pétala ainda em botão. A sua derrocada na URSS e o seu desprestígio global frente à agressiva ‘tsunami’ do capital transnacional, que age nos misteriosos e invisíveis bastidores do chamado 4º poder, é sintomático do mau prognóstico. É mau sinal !

E, embora diante de um xeque-mate do racional e do moral, o capitalista resiste diante do seu vencedor e pode arrastar a humanidade à barbárie em um mundo cada vez menos socialista, não o notaram? As profecias não se realizam imediatamente, quando esperamos. Vêm de repente, nas horas as mais imprevistas. Como no 11 de Setembro, marco do início da pós-modernidade. Quando ela deixou de ser uma esfinge social para nos escancarar a sua boca famélica…

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Médico, Rio de Janeiro