Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mara Gama

‘O internauta Ricardo questionou a lógica de duas enquetes lançadas no fim de agosto, numa semana de aguda crise no Senado. ‘Não compreendi a lógica do UOL ao fazer pesquisa sobre a seriedade dos partidos políticos brasileiros. Primeiro lançou uma perguntando qual seria o partido mais sério, cujo resultado já temos. Em seguida soltou outra com pergunta inversa, ou seja, qual o partido menos sério. Isso não faz sentido. Ou o portal quer lançar quantas pesquisas forem necessárias até chegar num resultado que lhe agrade ou o responsável por ela é inepto. De uma coisa tenho certeza: os internautas não são idiotas. De toda forma, gostaria de saber, afinal de contas, por que dessa segunda pesquisa com valores invertidos?’.

Pedi explicação para a Redação. Respondeu o editor-executivo de Notícias do UOL, Irineu Machado:

‘A enquete ‘Na sua opinião, qual é o partido político mais sério do Brasil?’ foi publicada em 20 de agosto. Por que foi feita? Integrantes do PMDB vinham se digladiando no plenário do Senado havia alguns dias, por conta da posição do partido a respeito da situação de José Sarney, alvo de uma série de denúncias de irregularidades.

A crise no Senado mostrou ao público como os parlamentares dos mais diferentes partidos lidam com denúncias graves: em vez de priorizar a investigação das irregularidades, passa-se a buscar os ‘podres’ dos adversários políticos para tentar mostrar que, de certa forma, estão todos ‘no mesmo barco’ e fazem as mesmas práticas. Surgiram pedidos de investigação contra o PSDB, contra o PT e contra cada senador que fosse publicamente exigir que as irregularidades do presidente do Senado fossem investigadas.

Como é nossa prática, sempre abrimos espaço para o público comentar essas notícias, em Grupos de Discussão. Foram vários. Nesses espaços, muitos internautas faziam comentários ressaltando que em política, ninguém se salva, que são todos iguais e que ninguém trata essas questões (as denúncias) com a devida seriedade.

Também, como sempre, apareceram comentários defendendo ou atacando este ou aquele político ou partido. Daí a ideia de, em meio ao fervor do noticiário sobre a ética na política, publicamos uma enquete com a questão da seriedade, para instigar o público a participar. A enquete foi publicada no meio de alguns textos de política ao longo da semana.

Alguns exemplos (os links foram colocados quando da publicação dessas reportagens, e lá permanecem):

Lula nega crise no PT e diz que partido ‘continua forte’

Atropelado por Marina, PSOL debate se lança já Heloísa Helena

Crise no Senado ajuda PMDB dos grotões a enterrar herança de Ulysses

Presidentes de PT e PMDB se reúnem por alianças para eleições de 2010

Já a enquete ‘Na sua opinião, qual é o partido político menos sério do Brasil?’ foi publicada em 25 de agosto, a título de curiosidade editorial, para verificar qual seria o comportamento do público com uma pergunta inversa à anterior. Esta enquete acabou não sendo linkada nos textos de política, pois o noticiário havia, de certo modo, arrefecido com o engavetamento das denúncias contra Sarney.’

Recebi também cópia de e-mails de campanha de partidos convocando a votação na enquete do partido mais sério do Brasil. ‘Vamos lá PESSOAL, vamos votar, não podemos perder a segunda colocação. Vote PTB!’

O leitor Everton perguntou à ombudsman por que razão a enquete não tinha link na listagem de enquetes do UOL:

‘Gostaria de entender o motivo da enquete ‘Na sua opinião, qual é o partido político mais sério do Brasil?’ ter sido retirada da lista de enquetes do UOL, que contém o registro de enquetes desde 2008.’, disse Everton.

A leitora Carmen diz ter lido na internet que a esquete estava escondida. ‘Fui procurar e realmente está escondida, só achei com a busca. A enquete ainda está colhendo votos, eu consegui votar, e os resultados, serão publicados?’

A Redação admite que houve falha em não colocar a primeira enquete no índice logo que foi lançada. ‘No dia 25, quando publicamos a segunda enquete, editamos a página para que aparecesse na lista de enquetes. Percebemos que a primeira não estava lá, e então, a publicamos manual e simultaneamente. Em nenhum momento nenhuma das duas esteve fora do ar. A primeira se manteve com link das matérias acima, ou seja, quem as viu nas reportagens teria como as encontrar novamente em qualquer momento. As duas enquetes continuam ativas.’, respondeu a Redação.

Acho que o episódio mostra que o UOL não sabe acompanhar bem algumas das boas idéias que lança no ar. Tratar de temas de política requer bem mais cuidado que o que foi mostrado neste caso.

Não custaria nada recolher os resultados e publicá-los todos os dias durante uma semana. Serviria de termômetro da avaliação dos internautas que visitam o UOL naquele período analisado.

Capturei o resultado da enquete sobre o mais sério no dia 31. Infelizmente não gravei o resultado do menos sério na mesma ocasião.

As enquetes continuam no ar:

‘Na sua opinião, qual é o partido político mais sério do Brasil?’

‘Na sua opinião, qual é o partido político menos sério do Brasil?’

Como se sabe, os resultados não podem ser considerados científicos. É possível votar uma vez a cada sessão do navegador.

De qualquer forma, este é o sistema em uso e, com todas as suas imprecisões, parece despertar bastante o interesse dos internautas. A Redação pode trabalhar melhor esta participação.

Bom destaque para bom serviço

Informativo e eficaz o álbum sobre a grande mostra da obra de Henri Matisse (1869-1954) que começa no sábado 5 de setembro na Pinacoteca do Estado, região central de São Paulo.

As legendas trazem informações sobre cada uma das pinturas escolhidas para o álbum e também o serviço da mostra, com endereço e telefone.

Quem quiser saber mais, pode acessar o Guia da Folha, com link em todas as legendas. O modelo é simples, de fácil leitura e informa rapidamente.

A mostra é importante e a home page do UOL acerta em trazer já na manhã de quinta-feira informações úteis para o fim de semana cultural na cidade.

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Ranking das universidades mais expostas na internet (2/9/09)

O leitor Wagner questionou, com razão, reportagem que ganhou manchete do UOL na segunda-feira, 31 de Agosto: ‘‘USP é a 38ª melhor universidade do mundo, segundo ranking Webometrics.’’

‘Trata-se de uma nota curta com uma tabela dos primeiros lugares no ranking e a posição de algumas universidades brasileiras, oferecendo o link para o download da lista completa de instituições e para a página do ranking. Nesta página, contudo, a natureza da pesquisa é esclarecida – não se tratam aqui das melhores universidades, o que indicaria, à primeira vista, para o leitor, a qualidade de ensino, pesquisa e extensão, mas sim simplesmente da presença das universidades na Internet, isto é, a utilização da web como meio de divulgação e comunicação. Não somente a manchete é enganosa, ela ganha destaque indevido, considerando o esforço de reportagem nulo por trás da nota que a acompanha.’, disse Wagner

A Redação agradeceu a crítica, alterou texto e título e publicou errata.

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Leitores criticam destaque aos rodeios no UOL (31/8/09)

Internautas protestaram contra a aparição e o destaque que o UOL tem dado aos rodeios recentemente.

‘Acho que o UOL não deveria mais dar notícias sobre rodeios, Rodeios de Barretos, Peões de Barretos e assuntos afins, porque, afinal de contas, isso é uma coisa estúpida, cruel e inadmissível. Tenho o mesmo a dizer das Touradas, sangrentas e cruéis. Fiquei muito decepcionada ao ver uma notícia de rodeio estampada no UOL.’, protestou Morgana.

Dorival escreveu: ‘Vocês cobririam a Farra do Boi em Santa Catarina? Saibam se não for pior, a ‘‘Farra do Boi Paulista’’ tem o mesmo grau de crueldade para com os animais. Temos material, fotos, vídeos, pareceres e decisões jurídicas sobre os rodeios. Pergunto: o dinheiro é mais importante para o UOL que a ética?’

‘Rodeio no UOL. Triste viu? Ver o UOL, pioneiro na internet que conheço e uso desde que ganhei meu primeiro computador, envolvida em megacobertura sobre os rodeios. UOL não tem nada a ver com isso. É de ponta, é pioneiro, é jovem, é para frente, moderno, não tem nada a ver com esportes grotescos e medievais, onde o boi, uma criatura vivente como qualquer um de nós, é feito de palhaço como se não sentisse dor, como se fosse de plástico. Queimou o filme. Nota zero’, escreveu Suzi.

Eduardo fez coro: ‘Vim aqui apenas para manifestar meu descontentamento profundo com o fato de o UOL patrocinar rodeios. Esse pseudo-esporte é um absurdo, uma violência. Aos poucos, na opinião pública, vem se formando uma reação a essa cultura fascista em relação aos animais. Por fim, anuncio que vou boicotar todos os serviços do UOL e conscientizar meus amigos, até que a empresa pare de patrocinar a violência contra os animais’.

Pedi um comentário para a Redação. Respondeu o gerente geral da home page, Alexandre Gimenez:

‘As raízes do rodeio estão na cultura sertaneja voltada para a pecuária. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de carne bovina, e a lida do gado em nosso país teve início há séculos.

Os norte-americanos estruturaram o modelo de evento em que Barretos se baseia, mas lembro que há manifestações semelhantes em praticamente todo o país – a vaquejada nordestina é um dos exemplos.

Tivemos a preocupação de conversar com a organização da Festa do Peão de Barretos para entender como os animais são tratados. Em Barretos, os touros e cavalos recebem atenção especial. São animais com alto valor de mercado, atingindo centenas de milhares de reais em leilões. Os proprietários têm nos touros e cavalos a sua fonte de renda, seu principal ativo, e são exigentes quanto ao manejo. Eles ficam em campos exclusivos, sob o cuidado de veterinários e zootecnistas. Dou outro exemplo: diferentemente dos rodeios americanos, as esporas dos peões em Barretos são arredondadas, para que o animal não seja ferido.

Há o mito de que os animais pulam porque levam choque ou porque são golpeados quando estão no brete. Isso não é verdade – pelo menos não em Barretos. Os animais são cuidadosamente selecionados pelos criadores para nascerem com o instinto para pular. Por serem poucos e raros, são tratados como superestrelas. E a seleção por temperamento é comum na criação de animais. Podemos traçar um paralelo com os criadores de Pastores Alemães, que valorizam o temperamento obediente no momento de selecionar exemplares para a reprodução. Lembro que isso se refere a eventos de primeira linha como a Festa do Peão de Barretos. Há pessoas inescrupulosas em qualquer tipo de atividade. Em rodeios de menor expressão há sim registros de maus tratos. Problemas semelhantes podem ser vistos em circos pequenos e zoológicos menores, por exemplo. Aproveito para reforçar que o UOL tem uma preocupação constante com questões ambientais e dos direitos dos animais. Tanto que temos a estação UOL Bichos, além de parceria firmada recentemente com o Greenpeace.’

Mas reportagem no próprio UOL aponta que os animais ainda são manobrados com socos e choques. Segundo o texto, durante as competições é usado o sedém, uma tira de lã de cordeiro amarrada à virilha que estimula saltos. E não há dados conclusivos para se afirmar se o utensílio causa dor ou não.

A home page do UOL deu chamada para a reportagem sobre este aspecto. Acho que o assunto não se esgotou.

Lula, Deus e a Polícia

O leitor Vitor escreveu para a ombudsman criticando título da reportagem de cobertura da Conferência Nacional de Segurança Pública, realizada em Brasília no último dia 27.

‘Tenho percebido uma certa influência negativa ao escrever certos títulos de notícias políticas, como por exemplo, a notícia: ‘Lula compara policiais a Deus durante conferência de segurança pública’. Eu, que sou extremamente patriota, mesmo gostando do nosso presidente Lula, sempre confiro se as notícias negativas sobre ele são verdade. Ao ler o título da notícia não gostei nada dessa comparação que ele fez, acessei a notícia para conferir e acabei ficando chateado mesmo é com o repórter e com o UOL. Um jornalista precisa ser neutro ao escrever uma reportagem, mas não adianta nada se ele não for neutro também ao escrever um título, senão o repórter acaba influenciando muitas pessoas de cabeça fraca. O título é suficiente para que a pessoa aumente sua raiva de um fato que não merece. A notícia tem de ser verdadeira, ruim ou não para o presidente ou qualquer outra pessoa, empresa, ou cidade. Um site de notícias como o UOL é responsável pela formação de conceitos no Brasil inteiro. Nesse caso o UOL tem a chance de fazer a sua parte na formação de uma cultura brasileira muito mais inteligente. Por favor, façam isso pelo nosso país. Se conseguirem isso, e vocês conseguem, vocês estariam fazendo muito mais do que qualquer presidente, por melhor que seja, conseguiria fazer. Eu ouso dizer, que a imprensa é muito mais importante para o crescimento do Brasil do que o próprio presidente. Pensem nisso.’

Considero a crítica pertinente. Na minha leitura, o título tira do contexto a frase e remete ao endeusamento dos policiais. Ao ler o texto, me parece que o título não resume a idéia. A frase, segundo o vídeo disponível, é:

‘Eu digo sempre que Polícia e Deus é tratado (sic) como a mesma coisa. Tem muita gente que é ateu, mas só (sic) fala em Deus quando está em perigo. A Polícia também. As pessoas só gostam da Polícia quando percebem que vão entrar numa enrascada em qualquer lugar. Eles ficam pedindo ‘ai que bom se tivesse um policial aqui para me socorrer’.’

Uma busca pelo título na internet mostra que a idéia colou e o texto foi republicado em vários blogs e sites de notícias.

Mas é imprecisão replicada. O título não resume a reportagem e nem a fala do presidente.

O leitor Daniel também questionou o título e propôs que fosse aberto espaço para que os internautas também pudessem interpretar a fala presidencial:

‘A internet é a mais dinâmica forma de mídia. Dada essa característica, é esperado que haja uma interação dos leitores, principalmente para que todos possam expor seus pontos de vista e não ficarmos presos à opinião unilateral do repórter. Por que não utilizar os recursos possíveis e permitir que os leitores façam comentário em todas as reportagens? Me refiro especialmente à reportagem de Piero Locatelli em 27/08/2009: ‘Lula compara policiais a Deus durante conferência…’. Realmente não concordo com a afirmativa, que é de dupla interpretação. Não acredito que o presidente quis comparar os policiais a Deus no sentido de sua onipotência ou outros atributos divinos, mas sim na relação de busca que as pessoas fazem quando se veem numa situação crítica.’’