Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Mario Vitor Santos

‘O texto jornalista Ricardo Kotscho, ‘No meio da semana, entre a liberdade e a solidão’, é um golaço que o iG tem, mas para o qual não chama atenção adequadamente. Kotscho comenta como foi para ele ficar um dia sem internet.

Trabalho inacabado (4/7/08)

Apesar do informe da Telefonica de que a conexão do Speedy já foi 100% reestabelecida no Estado de São Paulo, muitos usuários continuam com problemas. O iG noticia. Mas falta destaque para a voz do internauta (clique aqui).

O resgate da verdade (4/7/08)

Como Ingrid Betancourt foi libertada do cativeiro em que era mantida desde 2002 pelas Farc? As fontes oficiais, a começar pelo governo e as forças armadas da Colômbia, afirmam que uma operação de infiltração conseguiu enganar o comando dos seqüestradores atraídos por uma falsa operação humanitária.

O que foi divulgado dá conta de que a ex-senadora e ex-candidata a presidente Betancourt e os outros 14 reféns teriam sido reunidos depois que agentes infiltrados conseguiram simular algum tipo de ação de apoio, talvez médico, aos seqüestrados. Houve autorização para um pouso na selva, reféns e dois guerrilheiros subiram no helicóptero falsamente pertencente a uma organização do tipo da Cruz Vermelha. Quando o aparelho levantou, agentes disfarçados renderam os dois seqüestradores que acompanhavam o grupo e os reféns estavam afinal livres.

Hoje, o iG deu em sua capa uma chamada com título ‘Resgate foi armação’, remetendo para uma reportagem da Rádio Suíça Romanda mencionada em texto da agência France Presse, segundo a qual, com base em ‘fonte que se mostrou consistentemente confiável ao longo de 20 anos’, não houve um resgate feito pelos militares, mas a libertação dos presos em troca do pagamento de resgate às Farc, de cerca de 20 milhões de dólares. Os governos colombiano e francês negam, como o próprio iG divulgou.

Obviamente, não foi possível confirmar a verdade. Num caso, as Farc estariam em crise e à beira do aniquilamento. No outro, teriam obtido uma vitória. Talvez nas próximas horas e dias os detalhes da libertação ou do pagamento do resgate sejam revelados. Num caso e noutro são inúmeras as perguntas que ainda não foram respondidas, a começar pela real participação das forças de segurança norte-americanas.

Até agora, o noticiário está nas mãos de fontes oficiais do governo colombiano (contando com a discrição mais profissional dos americanos, que cedem todas as glórias ao presidente colombiano Álvaro Uribe) e a benevolência da mídia. Ainda assim é necessário fazer as perguntas incômodas e duvidar de todas as versões.

Há muitos buracos nas histórias a serem preenchidos com informação. Faltam detalhes sobre escutas, infiltrações, negociações, disfarces, autores da libertação, e sobre informação e contra-informação. Não há porque depender somente dos governos ou de agências internacionais. Se uma rádio suíça tenta – talvez precariamente não se sabe, fazer jornalismo – porque um portal brasileiro não pode também daqui farejá-la?

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O apagão da internet e o jornalismo do iG (3/7/08)

O que falta na cobertura do iG sobre os graves problemas ocorridos hoje na rede da internet operada pela Telefonica é um bom trabalho de reportagem. O iG tem título e chamada na capa, títulos e remissões para três textos. Tudo bem. O problema é que todos os textos são muito frios e distantes.

As pessoas afetadas não são ouvidas, não há reportagens mostrando o ambiente e a vida das pessoas sem internet. O problema parece estar ligado à falta de repórteres em campo, nas empresas, nas casas, falando com internautas e contando o que é a vida num dia de caos na internet. Falta transmitir a dramaticidade do dia de hoje.

O iG não dá voz à única razão para a existência do jornalismo: as pessoas e as suas experiências. Sem reportagens e depoimentos dos prejudicados, o resultado é apenas aparentemente informativo. Limita-se ao registro do que diz um lado, do que responde o outro lado, a partir de versões das assessorias de imprensa e porta-vozes. Falam a Telefonica, o governo (ambos sem informar muito) e entidades de defesa dos consumidores.

Um fato das dimensões da crise de hoje exige, porém, tratamento de emergência. Um grande portal como o iG tem obrigação de se superar e estar à altura dos acontecimentos importantes, ainda mais quando isso afeta a própria internet.

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A internet do leitor: o que deu certo? (2/7/08)

O ‘Minha Notícia’, canal de jornalismo cidadão do iG, completa dois anos hoje. Com um total de 25.438 notas publicadas e a participação de 10.563 internautas diferentes, desde 2 de julho de 2006, o canal é uma importante ferramenta de troca de informações e de colaboração dos internautas com o iG.

Dividido em editorias, o ‘Minha Notícia’ recebe, principalmente, notas de Celebridades e Cultura, segundo a coordenadora de Web 2.0 do iG, Marcela Tavares. ‘Como são os fatos mais comentados, são os que rendem mais interesse de participação do internauta’, diz. Quase todos os dias há pelo menos uma nota de celebridades, que acaba recebendo destaque freqüente no canal e na capa do iG.

Participação e comunicação

Outras editorias dentro do ‘Minha Notícia’, como Brasil, Cidadania e Cidades, têm menos destaque na página do canal e no espaço dedicado ao leitor na home do iG. A justificativa, segundo a coordenadora Marcela Tavares, é o número menor de contribuições dos leitores tratando desses assuntos. ‘Nessas editorias, recebemos mais notas quando ocorrem alguns fatos pontuais, como o terremoto em São Paulo ou um acidente em numa grande avenida. Não é freqüente. Em Mundo, recebemos ainda menos notícias, pois o colaborador deve estar fora do País’, diz.

Segundo Marcela, o canal de comunicação com o leitor, além do próprio canal, é o ‘Blog do Minha Notícia’. Mas o blog apresenta poucos posts – um por mês. A edição dos destaques na home do iG passa pela equipe do canal, que aponta o que julga merecer mais destaque. Nas tardes desta terça e quarta-feira, a foto destacada no box era de Celebridades.

Opções do canal

É evidente que a seleção e o destaque dado a estas notícias de ‘famosos’ resultam de decisões editoriais. Esse destaque acaba incentivando certo tipo de colaboração dos leitores, que vêem certas reportagens premiadas com o destaque na capa. São como disse acima, textos e fotos, sobre determinados assuntos. No caso, para variar, sobre celebridades. E o ciclo se perpetua, pois conteúdo chama conteúdo. A internet pode ser do leitor, mas quem decide o que ganha destaque é o editor, o jornalista do iG.

A partir do momento em que se convocar com clareza e firmeza o leitor para destacar no iG o flagrante na cidade, a notícia curiosa de fora do eixo Rio-São Paulo e outros temas de fato relevantes, o ‘Minha Notícia’ poderá exercer o papel da Web 2.0, o de complementar o conteúdo do portal pelo internauta e para o internauta.

O outro lado da Web 2.0

Além de festas, o jornalismo cidadão enfrenta críticas. Em seu livro ‘The Cult of the Amateur’ (O Culto do Amador, ainda não publicado no Brasil), o inglês Andrew Keen afirma que jornalismo social não tem futuro por ser carente de checagem, relevância e objetividade. Para Keen, nem todos deveriam ser autores, pois o leitor, além de não ser bem informado, não conhece os interesses de quem produz determinada notícia.

Trebor Scholz, professor da Universidade de Nova York em Buffalo, questiona a interferência da Web 2.0 sobre a privacidade e propriedade intelectual. Scholz mantém em seu site os slides de um curso chamado ‘The Social Web – Web 2.0 What Went Wrong?’ (‘A Web Social – Web 2.0 O Que Deu Errado?’, em inglês).

Outro cético é jornalista americano Russel Shaw, cujo blog traz o artigo ‘Web 2.0? It doesn´t exist’ (‘Web 2.0? Isso Não Existe’, em inglês).

Seleção

As tendências que afetam a credibilidade da internet do cidadão também afetam o ‘Minha Notícia’, que recebe de 30 a 40 notas por dia. Destas, só a metade vai para o ar. Segundo Marcela Tavares, algumas são descartadas por não atenderem à proposta de que o internauta produza sua própria notícia. O canal não destaca textos opinativos, pois ‘para isso existem outras ferramentas, como os comentários de blogs e das notícias’, lembra Marcela.

A coordenadora afirma que todos os textos recebidos são apurados pela equipe do canal para checar a veracidade da notícia. Na edição, os textos recebem forma jornalística e são corrigidos erros de português.

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Sensacionalismo sexual na capa do iG (2/7/08)

É totalmente sem sentido dar destaque a um assunto como ‘O tabu do fio terra’, publicado na capa do iG hoje entre 12h e 14h30 e destacado no canal Estilo. O título remete a um texto cujo conteúdo pode ofender, e muito, as pessoas mais sensíveis, além de poder ser lido por crianças e jovens, sem que tenha sido feito qualquer alerta aos pais. É tema adulto e assim deveria ser tratado, com os avisos e discrição necessários.

A única especialista ouvida na própria reportagem do iG foi Carmita Abdo, psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Ela declarou ser contra a ditadura do ‘experimentar tudo’ em matéria de práticas sexuais. Por que então o iG destaca o tema em sua capa num horário de grande audiência infanto-juvenil e com título provocador (‘O tabu do fio-terra – Por que virou assunto proibido entre os homens’). Como assim ‘virou assunto proibido’? Antes não era e agora é?

Sites de aconselhamento sexual sobrevivem numa zona cinzenta e podem ser usados para vender estímulos e faturar audiência de leitores intencionados ou apenas curiosos. O iG precisa decidir se deseja respeitar os costumes, culturas e opções familiares de seus leitores ou se vai se render à ditadura do sensacionalismo.’