Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Massacre escancara várias lacunas

Após o massacre no Realengo, muito tem se questionado sobre por qual razão e qual o problema para Wellington Menezes de Oliveira realizar aquele ato inominável. Problemas mentais ficam à parte do exame criminológico. Independente do diagnóstico psiquiátrico, ele pode ser considerado como um suicida midiático. Semelhante às intenções de Mateus da Costa Meira, mais conhecido por ‘O atirador do cinema’, ou ‘O atirador do shopping’, que com uma metralhadora portátil disparou conta uma plateia de um cinema em São Paulo em 1999. E semelhante também aos homens-bombas, provável inspiração de Wellington.

Ele, como uma triste parcela da humanidade, ceifa a própria vida. Porém, infelizmente, ele o fez causando comoção internacional. Diante dos poucos fatos apresentados até agora, será que sua intenção era aparecer? Ser e ser visto? É fácil pensar assim de alguém que viveu a vida inteira na sombra. Dentro de sua mentalidade, talvez, ele tentou fazer um protesto contra o bullying (violência escolar). Alguém pode querer taxar ele como ‘coitado, é doidinho’. Mas creio que no caso de Wellington foi mesmo o espetáculo midiático visto e inspirado no 11 de setembro.

Mas tentar classificar Wellington é apenas a ponta do iceberg. Agora, esse trágico fato ocorrido em uma escola brasileira deve ser discutido com exaustão e são necessárias mudanças políticas e na conduta da sociedade. No caso dele, todos os fatores devem ser levados em consideração. Até o que foi dito, tinha uma mãe esquizofrênica, fazia uso de medicamentos e era massacrado mentalmente na escola. Ele não foi o único do mundo e nem será o último. Porém, a escola é responsável pela integridade física e mental de seus alunos. Não pode deixar alguém ser arremessado na lata de lixo. Foi dito que, além do combate ao bullying, deve haver preparo por parte dos educadores para identificar potenciais mentes agressivas e deve haver por parte do governo federal, estadual e municipal programas sociais para tratar de causadores e vítimas de violências.

Interrogações em questão

Sobre a segurança das escolas contra agentes externos, é da doutrina da educação brasileira não isolar as escolas, por considerar uma escola com livre trânsito de a comunidade ser mais segura. Assim, transparece que esta chacina não teria como ser impedida. Depois dos tiros em Columbine, todas as escolas estadunidenses instalaram detectores de metais em suas entradas. Seria essa uma solução para o Brasil? Há inúmeros exemplos de alunos entrarem armados contra o fato de a revista pessoal possa ser interpretada como uma forma de violência. Neste debate não me atrevo a adentrar e nem tenho propriedade para falar sobre o Batalhão Escolar da Polícia Militar.

Outra questão mal resolvida é o desarmamento. É fato que Wellington poderia fazer um massacre com um facão. Mas também é fato que a indústria bélica age como qualquer outra pelo lucro, em detrimento a qualquer outra coisa, e tira sua culpa quando ocorrem fatos como esse. Também é fato que a maioria dos homicídios ocorridos no Brasil é praticada por armas de fogo (registradas ou não).

E contra aquele argumento que desarmamento irá desarmar os cidadãos de bens e deixar armados os bandidos. Muitos dos alvos dos ladrões e dos latrocidas são as armas dos cidadãos de bens, na contramão do mantra ‘é para a minha segurança pessoal’. E se aquela pessoa se auto-denomina cidadão de bem, por que não limita o posse de sua arma apenas ao ambiente do clube de tiro? É a lei da ressonância: violência atrai violência ou gentileza atrai gentileza. Essa discussão é mais complexa porque no meio rural a realidade é diferente da cidade. Nas fazendas você está isolado e sem tempo hábil para a chegada de um socorro. O que não impede que as mesmas armas (legais e ilegais) sejam utilizadas para cometer crimes hediondos.

Ao fim do artigo é difícil chegar a conclusões, mas abrem-se interrogações. Ainda mais diante do ‘talvez’, que foi o principal advérbio nas narrativas jornalísticas.

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Jornalista, Brasília, DF