Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mesmo com bola nas costas categoria mostra que defende regulamentação

Sob o pretexto democrático de abrir espaço para o debate sobre o PLC 079/04, que atualiza a regulamentação profissional dos jornalistas e sobre a criação do Conselho Federal dos Jornalistas, o site do Observatório da Imprensa está convidando os interessados a expor suas posições a respeito dos dois temas. É exatamente o que a Fenaj defende: o debate público, democrático, sem a manipulação da grande mídia. Porém, no texto da abertura, a parcialidade dos Observadores é denunciada: ‘Oriundo da Câmara dos Deputados, o projeto é assinado pelo Pastor Amarildo (PSC-TO), um dos parlamentares acusados de pertencer à máfia dos sanguessugas’.


A inclinação é coerente com a postura de um dos seus editores, o jornalista Alberto Dines, que publicou artigo marcado por uma virulência desmedida e confusa contra a Fenaj, o Congresso Nacional, o Governo e as Empresas. E quase nenhum argumento em relação ao conteúdo do Projeto.


O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, enviou mensagem ao site em protesto. Eis a íntegra do texto: ‘Muito interessante a `imparcialidade´ deste Observatório. `Oriundo da Câmara dos Deputados, o projeto é assinado pelo Pastor Amarildo (PSC-TO), um dos parlamentares acusados de pertencer à máfia dos sanguessugas´. Sem dúvida, é uma informação crucial para formar uma opinião isenta sobre o conteúdo do projeto, apresentado originalmente na Câmara em 1989, assinado pela ex-deputada e jornalista Cristina Tavares – um símbolo na luta pelos direitos humanos no Brasil. Nota 10 em dirigismo. Tamanha parcialidade é no mínimo contraditória com a ‘missão’ deste espaço. Eu `nunca mais vou ler o Observatório do mesmo jeito´’.


Na mesma linha, esta sim sem qualquer surpresa, tem andado a Rede Globo em relação ao PL de regulamentação dos jornalistas. Depois de conceder espaço, dia 20, no Jornal Nacional, para a Fitert defender seu controle sobre as ‘mais de 90 funções de radialistas’, a direção de jornalismo da Globo, após gestões da Diretoria da Fenaj, decidiu abrir-se também para o contraditório.


No dia seguinte, sexta-feira, 21, às 19h40min, um funcionário da Globo Brasília ligou para a sede da Fenaj: ‘É para gravar ou pegar uma nota sobre uma lei do governo contra a imprensa’, disse ele. Mas para o Jornal Nacional de hoje?. ‘É não dá mais né? O senhor pode mandar uma nota?’. O texto foi feito e enviado às 19h50min. A nota deixava claro que a Federação dos Radialistas mentiu. Os diretores da Fenaj Sérgio Murillo, Fred Ghedini e Valci Zuculoto reuniram-se no dia 19 de maio último com a direção da Federação dos radialistas em São Paulo. Propuseram um acordo. A Fitert pediu tempo para responder. A resposta veio através do Jornal Nacional que, ‘democraticamente’, ignorou a nota da Fenaj.


A virada


Já o portal da revista Imprensa, que também vem dedicando espaço considerável para a cobertura da polêmica criada pelas empresas, promove há dias uma enquete sobre o Projeto da Fenaj, baseado na aspiração expressa dos jornalistas em espaços democráticos de deliberação e debates. Durante dias, o resultado manteve-se praticamente inalterado, com pouca participação, e com larga vantagem aos contrários. Nas últimas 48 horas, o quadro inverteu-se completamente: 84% defendem a sanção do PLC 079/04, contra 16% favoráveis ao veto. Até às 12h deste sábado, 22/07, havia 6597 votos.


A verdade é que independente do resultado deste processo – que confiamos será a vitória da categoria – a Fenaj deu, mais uma vez, uma enorme contribuição para o debate público da mídia, suas mazelas, responsabilidades, grandezas, perversidades, interesses públicos e escusos.


***


Nota do OI: Não há por que a Fenaj fazer malabarismos para identificar ‘parcialidade’ deste Observatório na menção à presença do deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) na lista da máfia dos sanguessugas. É uma informação relevante. Trata-se do mesmo parlamentar que travou o seguinte diálogo com o repórter James Cimino, da revista Imprensa (21/7), em entrevista reproduzida na seção Entre Aspas, desta edição do OI:




IMPRENSA – A FENAJ é a principal entidade entusiasta do projeto. Eles entraram em contato com o senhor para a elaboração da nova lei?


Pastor Amarildo – O que é FENAJ?


IMPRENSA – Federação Nacional dos Jornalistas…


Pastor Amarildo – Não, não. Conforme eu já disse, não recebi a colaboração de ninguém dessas entidades.


Na nota em que comentou essa entrevista, a entidade máxima dos jornalistas brasileiros referiu-se ao deputado nos seguintes termos: ‘Está enganado, ou foi mal informado, ou mente’. Gente fina. Mas a questão não é esta: em que pese a posição de editores e articulistas deste site a respeito do PLC 079/04 e do CFJ, importa reiterar que o Observatório tem sido radicalmente democrático ao garantir todo o espaço a esse debate. Isso a Fenaj não pode negar. Por fim, a mensagem que o presidente da Fenaj diz ter enviado ao OI, acima reproduzida, até às 9h15 de terça-feira (25/7) não havia chegado ao Canal do Leitor e nem à área de comentários da nota que convidava os interessados a se manifestarem sobre as propostas da entidade. (Luiz Egypto)


Nota do OI – 2 [incluída às 17h36 de 25/7] — O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, enviou a este editor cópia de mensagem por ele postada no sábado (22/7), às 11h41, dirigida a canaldoleitor@ig.com.br (com cópia para fenaj@fenaj.org.br), trazendo a linha de assunto ‘Parabéns’, com o exato teor da nota que afirmei não haver chegado a nós. Os endereços dos destinatários estão corretos, mas, por algum mistério misterioso da internet, esta correspondência de fato não chegou ao OI. Se a tivéssemos recebido seria publicada, como aliás é praxe neste Observatório. (L.E.)