Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Não dá para acreditar em nenhum dos dois

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o polêmico projeto de Lei 79/2004 de autoria do deputado federal Pastor Amarildo (PSC-TO), que restringia o exercício do jornalismo e exigia o diploma para uma série de atividades na imprensa. Ao pesquisar sobre esse projeto que, por sinal, afrontava o direito à informação e à liberdade de expressão, é impossível não fazer um questionamento. Tendo Fernando Gabeira (PV), Miro Teixeira (PDT) e outros deputados federais que entendem de jornalismo, por que esse projeto foi apresentado pelo pastor Amarildo, que em entrevista, já reconheceu que não entende nada do assunto?

Na verdade, o pastor Amarildo entende mesmo é de ambulâncias. Segundo reportagem publicada no jornal O Globo, o pastor teria exigido da máfia das sanguessugas o pagamento adiantado de 50 mil reais antes da apresentação das emendas.

Concordo plenamente com o jornalista Alberto Dines quando ele diz que a Fenaj se preocupa principalmente com questões corporativas que dificilmente produzirão melhorias no processo de obter e apresentar informações corretas e completas à sociedade. Em vez de defenderem melhores salários e mais decentes condições de trabalho eles se preocupam com coisas inúteis.

Conhece, não conhece

Uma coisa é defender a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, outra coisa é endossar projetos delirantes como esse do suposto deputado-sanguessuga. Para completar a falta de comunicação entre o pastor Amarildo e os representantes da Fenaj, recentemente, ao ser perguntado sobre a Fenaj, o pastor respondeu: ‘O que é Fenaj?’. E os representanets da Fenaj não gostaram nada disso. Em matéria postada no site da entidade, a federação desmente as afirmações do deputado e confirma que esteve em contato com ele:

‘Em respeito aos jornalistas e à sociedade, e pautada pela postura de privilegiar a verdade, a Fenaj esclarece que o deputado ou está enganado, ou foi mal-interpretado ou mente. Como já foi divulgado, há quase 20 anos os jornalistas, em seus fóruns democráticos e entidades sindicais, discutem a necessidade de atualização da regulamentação profissional. No final dos anos 80, em nome da Fenaj, a deputada e jornalista, já falecida, Cristina Tavares (PMDB/PE) apresentou projeto nesse sentido. (…) O texto entregue pela direção da Fenaj ao deputado Pastor Amarildo, depois de várias conversas com ele e sua assessoria, é praticamente o mesmo de 1989’, explica a Fenaj.

Ou seja, o deputado que recebia para apresentar emendas recebeu o projeto das mãos da Fenaj. Agora, o jeito é acreditar no pastor Amarildo, que diz não conhecer a Fenaj, ou na Fenaj, que diz conhecer o pastor Amarildo. Sinceramente, não dá para acreditar em nenhum dos dois.

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Estudante de Direito, Campos dos Goytacazes, RJ