Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nóis deve di iscrevê tudo errado

O volume Por uma vida melhor, da Coleção Viver, aprender, distribuído pelo MEC a 4.236 escolas do país, pôs mais fogo na polêmica da questão de como registrar diferenças entre o discurso oral e o discurso escrito sem resvalar em preconceito, mediante o ensino da norma culta da língua. Pela nova regra autorizada pelo MEC, ou seja, de o aluno poder errar concordância, qualquer pessoa estará rigorosamente correta se disser e escrever “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, como se lê na cartilha oficial. Ou “nós pega o peixe.”

O argumento do MEC é que essa variação linguística, além de correta é procedente, pois deriva da língua viva falada, da oralidade praticada pelo povo, e perfeitamente de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, de 2000. Para o MEC, portanto, falar e escrever errado “é certo porque dá ao cidadão a capacidade de usar a língua com flexibilidade, de acordo com as exigências da vida e da sociedade”, lê-se também na cartilha.

Há controvérsias. E não são poucas. Segundo texto online do Movimento Ordem Vigília Contra Corrupção, é certo que o livro aprovado pelo MEC é de autoria do “professor” Lulopetismo de Dilmês, mas, pilhéria à parte em nome do ex-presidente, que passou à História também como o rei dos erros de concordância, a coisa é muito séria. Tornar o erro regra oficial, para combater o certo a fim de se evitar o preconceito linguístico, pode provocar muitos outros precedentes daninhos ao já questionável e ineficiente sistema educacional brasileiro. É, no mínimo, correr o risco de o país se expor ao ridículo. Ainda que o português tenha se originado do latim vulgar, para permitir que o povo tivesse uma língua própria, livre do cultismo não raro arrogante do ambiente reinol, ensinar o errado como regra é retrocesso. É muito mais: é incentivo à mediocridade, afronta às faculdades de Letras, agressão aos estudiosos da Linguística e da Gramática, apologia à ignorância, manipulação ideológica pela educação oficial.

Aberrações livrescas

Em um país que já deu fim ao sistema de repetência, que tem alto índice de analfabetos, que ocupa uma humilhante 88ª posição no ranking mundial da Educação, atrás de nações como Paraguai, México, Cuba e Cazaquistão; que impõe a progressão continuada e não encontra solução para ao menos minimizar a cada vez maior evasão escolar; que repassa a crianças merenda com produtos com prazo de validade vencido; que mantém a desmoralização dos professores com salários de biscateiros e que vê o bullying se tornando cotidiana demonstração de violência a partir da sala de aula – institucionalizar o erro linguístico ou gramatical é preocupante. Há o perigo iminente de o governo tornar oficial virem os estudantes a escrever até em portunet. A primeira impressão que se tem é de que no Brasil, para vencer na vida, só é preciso mal e porcamente saber ler e escrever. E o espelho da nova realidade educacional e cultural são Lula, doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra, e Tiririca, o palhaço eleito com sufrágios acima de 1 milhão de votos.

Para aprender errado não é preciso ir à escola e, por este viés, as escolas deveriam ser fechadas e o MEC, extinto. Preconceito linguístico é impor, de modo fascista, regras erradas para justificar a incompetência da cúpula da Educação do Brasil. O aprendizado linguístico de modo errado justificará no futuro o aluno fazer redação de vestibular cheia de erros e ainda assim obter nota máxima. E como será em concursos públicos? Em leituras analíticas de textos científicos? Magda Soares, há décadas, defendia a importância da oralidade na aquisição da escrita. Daí, porém, admitir o erro como regra é um abismo.

Fernando Haddad, seu staff ministerial e seus colaboradores deveriam ler Ferdinand de Saussure, Marcos Bagno, Luís Carlos Cagliari, J. Mattoso Câmara Jr., Stela Maris Bertoni, Sírio Possenti, Evanildo Bechara, entre outros linguistas e gramáticos, antes de produzir e liberar aberrações livrescas para um leitorado discente com grandes dificuldades até para discernir conteúdos básicos de português, matemática e textos com teor científico. Escrever e falar errado não farão melhor o cidadão brasileiro em nada. Nem tirarão o Brasil da falsa projeção de ser de Primeiro Mundo.