Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O agente provocador

Elder, um estudante negro, é ameaçado de morte porque denunciou a arbitrariedade policial que sofreu da Brigada Militar de Jaguarão, RS. A promotora de cidade, defendendo os PMs, responsabiliza o estudante pelo ocorrido. Tairone, jovem boxeador negro, é morto por brigadiano no Rio Grande do Sul. Adolescente negro é fuzilado à queima-roupa em Belém, PA, por sete soldados da PM. Dois motoboys negros são assassinados por PMs paulistas, um espancado até a morte dentro de quartel, o outro sufocado com um mata-leão em frente à mãe, no prazo de uma semana. Soldados do exército entregam três jovens negros para traficantes de morro rival, para serem mortos, no Rio.

Jair Bolsonaro é ventríloquo da ideologia doutrinária de direita racista que ensinam nos quartéis (ele justifica que ‘em sã consciência não diria aquilo’). Como ele, há muitos pelo Brasil afora tentando justificar o financiamento de seus mandatos aos empresários, a uma categoria de oficiais saudosos da ditadura que imperou no Brasil até 1985. Prestam contas à Rede Globo e aos ruralistas. Tem que ser cassado pelas barbaridades que diz e faz, como exemplo de que o Brasil não vai tolerar esse tipo de gente, nem deixar se criarem estas práticas…

Não se iluda o leitor. Há muito vimos denunciando que, como ele, as elites (neo)racistas; os deputados de direita Onix Lorenzoni, Valdir Collato, o pastor Marco Feliciano, do PSC – mais novo racista que diz ‘os africanos descendem de ancestrais amaldiçoados’; os senadores Demóstenes Torres e Kátia Abreu; os intelectuais neo-racistas como Ivone Maggie, Ali Kamel e Demétrio Magnoli, como outros de menor porte e visibilidade, como o vereador Tonhão da Rapadura ‘O Politizador’ de Campinas, que, em pronunciamento na Câmara, diz que a cidade está ‘suja, negra…’, correlacionado ao que pensa em paralelismo à concepção ideológica racista de seu grupo político; além dos línguas de aluguel de esquerda, do MNS socialista e, lamentavelmente, o dr. Militão, em silêncio, devem seguir essa gente.

A polícia está acima da nação

Bolsonaro é só a ponta do iceberg, é a micro-expressão de algo muito maior: uma confraria que reúne a direitona militar e policial, saudosos da ditadura; os ruralistas da UDR/DEM; empresários oportunistas rapinadores dos recursos da nação; muitos pastores evangélicos, as classes médias (beneficiárias do ‘progresso’ dos últimos oito anos), de direita e de esquerda (com medo de concorrência às suas carreiras), os bons empregos no setor privado e nos governos de vários partidos. Há milhares por ai, enrustidos, espalhando sua doutrina racista, incluindo nos quartéis.

A polícia, o braço armado do Estado, faz o serviço sujo que os políticos apoiam, lavando as mãos, pois não se dão ao trabalho de propor e construir projetos de investimentos em políticas de saúde, educação, emprego e renda, esporte e lazer para todos os cidadãos.

A mídia e os políticos, todos tentando taxar os agressores e assassinos como exceção, como ‘bandidos que se infiltram na farda’, querendo inocentar a instituição da Polícia Militar. O comando, conivente, e contadas as vezes que isentam e acobertam os crimes dos subordinados, pois em quase todos os casos só se posicionam quando os crimes viram notícia na grande mídia.

Os policiais responsáveis pelos atos de violência, em geral, voltam às ruas, tendo abrandadas as suas punições, voltando a cometer os mesmos crimes e acabando inocentados. São raros os casos de expulsão, condenação e prisão dos assassinos. O oficialato é corporativista; protegem seus membros delinquentes; os políticos calam ou apoiam explicitamente com o discurso que é erro de alguns, não ideologia da instituição. Os governos e o judiciário silenciam e se calam, quando não apoiam explicitamente. Estão todos mancomunados. A polícia está acima da nação e da sociedade, estão descontrolados.

Temos que reagir

Juntam-se em senso comum a mídia branca burguesa e racista, que apóia incondicionalmente a violência e as ações dos agentes do Estado, julgando e condenando as vítimas por antecipação, para a opinião pública, especialmente em se tratando de negros, com o argumento de que ‘…algo errado deve haver para a polícia agir assim… Só podem ser bandidos…’ etc., lavrando fraudulentos atos de resistência para justificar muitos assassinatos. Implementam uma guerra não declarada aos inimigos da nação: os negros e os pobres.

Policiais são funcionários públicos, pagos com o seu e o meu dinheirinho, caro leitor, assim como os deputados, os governadores, os juízes, os senadores e a presidente. Nenhum deles é mais que você ou eu. Todos deveriam respeitar os direitos constitucionais dos cidadãos, mas, por portar mandato, togas, um distintivo e uma arma, julgam-se ‘os caras’, livres para cometer todo tipo de atrocidade, como se estivessem imunes a seus crimes e acima da lei.

Mostramos as estatísticas sociais, econômicas, políticas, a ausência de visibilidade: Durante as recepções de Barack Obama, só as autoridades brancas participaram, escondendo os 50% de negros no Brasil. Mostramos os números dos assassinatos: 550.000 em onze anos, contra 540.000 no Iraque, em guerra. As vítimas, 80% negras, 90% sem passagem na policia. É ou não o genocídio moral e físico de um povo?

Os últimos acontecimentos envolvendo milicos, PMs, deputados, senadores, pastores evangélicos, membros do Ministério Público, políticos, intelectuais e ruralistas, só provam aquilo que diz um comentário na internet: ‘E depois aparecem um monte de cretinos dizendo que no Brasil não tem racismo!’ Temos que reagir a isso!

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Coordenador nacional de Organização do MNU