Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O conselho necessário

Médicos, dentistas, advogados, contabilistas, arquitetos, engenheiros (só para citar alguns) são contra os seus conselhos federais? Não. Pelo contrário, procuram manter-se afinados com eles, pois têm certeza de que estas entidades atuam em defesa das suas atividades, zelando pela ética e pela garantia do mercado de trabalho para aqueles que têm formação na área, que têm registro profissional e que atuam com responsabilidade na sua profissão.

É de estranhar, portanto, que vozes se levantem entre os jornalistas para atacar a criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). O que será que faz uma pessoa que lida com a notícia, com a opinião, ser contrária à criação de um organismo que defenda a sua profissão, o seu mercado de trabalho? Que interesses terá uma pessoa que entende que qualquer um pode exercer o jornalismo, mesmo que não tenha habilitação para tal? Por que será que alguns jornalistas atacam o governo e o Partido dos Trabalhadores pela criação da entidade – quando todos sabem que o CFJ não é uma iniciativa do Planalto, de nenhum partido político, e sim uma antiga reivindicação dos profissionais de imprensa, definida por seus sindicatos e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)?

Por que será que o primeiro jornal a publicar um editorial contra a criação do Conselho é justamente aquele que defende, com unhas e dentes, que o jornalismo não é profissão, que não precisa qualificação especial para seu exercício e que pode ser feito por qualquer pessoa?

Na sua atividade em redações de jornais e revistas, principalmente, é difícil encontrar um profissional que nunca tenha divulgado ou lido um dia uma notícia sobre a prisão ou cassação de registro de um médico, dentista, advogado ou outro profissional, por falsidade ideológica (exercício ilegal da profissão – atuar sem ter formação adequada, sem diploma, por exemplo).

Por outro lado, nunca um jornalista divulgou uma notícia sobre a prisão ou cassação de um falso jornalista por exercício ilegal da profissão. E não é porque eles não existam: não há uma só redação neste país em que você não encontre uma pessoa atuando irregularmente, sem a formação necessária, ocupando o lugar de alguém que passou anos preparando-se para exercer o jornalismo. E, é claro, aviltando o mercado de trabalho.

Conversa fiada

Quantos cargos você encontra em governos estaduais, municipais, e até mesmo no governo federal, de atividades essencialmente jornalísticas, que estão ocupados por pessoas que nada têm a ver com a nossa profissão?

Com um Conselho atuante, todas estas aberrações deverão ser eliminadas.

Se não houvesse outros argumentos para a defesa da criação do Conselho Federal de Jornalismo, estes só já me bastariam. Não sou um dos que pensam que o jornalista é uma pessoa que deva viver acima das leis e da ordem vigentes. E que sua liberdade não deva ter limites, mesmo que prejudique os outros que com eles ousam conviver neste planeta.

Idêntica discussão sobre a nossa profissão aconteceu quando da criação do Código de Ética para os jornalistas. E, coincidentemente, as mesmas vozes que se levantaram contra o código hoje se levantam contra o conselho. Inconscientes – no que não acredito –, estas vozes atuam contra o aperfeiçoamento da nossa atuação profissional e a favor dos picaretas.

Toda esta balela sobre ameaça à liberdade de imprensa, que estão tentando infundir na cabeça dos leitores, ouvintes e telespectadores brasileiros, é conversa fiada. Se o texto tiver algum verbo a mais, desnecessário, vamos copidescá-lo. Os jornalistas querem apenas o Conselho Necessário.

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Jornalista, Porto Alegre