Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O dinheiro ignora a política

O noticiário de economia e negócios revela muito mais sobre o Brasil contemporâneo do que faz crer a confusão de declarações e vazamentos que preenche as páginas dos jornais e revistas em torno da atual campanha eleitoral.


O alinhamento da imprensa, de forma majoritária, com um grupo partidário específico, é mais evidente e menos disfarçado nas eleições deste ano do que foi nas eleições presidenciais de 2002 e 2006.


O leitor, ouvinte e telespectador precisará de muito discernimento para entender o Brasil que se manifesta sob a algaravia da campanha.


Um bom resumo do que acontece está publicado na quarta-feira (15/9), na coluna do jornalista Vinicius Torres Freire, da Folha de S.Paulo: ‘Dinheiro ignora tumulto eleitoral’, diz o título do artigo.


Segundo o jornalista, os investidores estrangeiros continuam desembarcando festivamente na economia brasileira e o capital não dá a mínima para a barafunda eleitoral. Mas, espere aí: não era este um governo de esquerda, e aqueles que são a oposição não seriam os defensores do capitalismo?


Voz tímida


Essa aparente contradição, na qual uma oposição supostamente alinhada com o chamado neoliberalismo ataca um governo chamado de populista de esquerda e não consegue ser ouvida pelo mercado, tem um motivo muito claro: a mobilidade social produzida pela combinação da estabilidade com as políticas de inclusão estimula a economia de baixo para cima, criando um ambiente positivo em toda a pirâmide social.


Aliás, os analistas já não falam em pirâmide social, pois até essa figura geométrica foi subvertida no Brasil. A configuração das classes de renda tem agora uma base muito menor, com a redução da pobreza, e uma geometria mais para o formato de um balão, um octaedro estendido, com o centro do espectro social inflado pela nova classe média.


Nesse cenário em que a sensação de bem-estar e de otimismo se consolida em bases reais, percebidas pelos cidadãos, o discurso oposicionista tradicional se torna inócuo. Não adianta falar em déficit externo e juros da dívida se esses detalhes se perdem no cenário geral de crescimento.


No meio da barafunda de campanha, apenas uma vozinha, tímida e trêmula, poderia lançar um argumento relevante: é a voz da candidata Marina Silva, a questionar a sustentabilidade desse crescimento. Mas nem a chamada oposição, nem sua aliada, a grande imprensa, parecem entender do que se trata.