Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O jornalismo, seu tempo e as pautas vencidas

As histórias e o folclore jornalístico vêm de muito, desde Gutenberg e seus linotipos móveis. Algumas valem ser lembradas desde que, no parlamento inglês, um deputado, vendo um jornalista tomando nota do discurso de um parlamentar em plena crise política nas terras bretãs, confidenciou a um amigo ser aquele o nascimento de um grande inimigo para a política: a opinião pública.

Alguns acreditam ser a opinião pública a filha bastarda do jornalismo. Outros, a filha educada pelo jornalismo. Nos dois casos, a paternidade não declarada é uma só.

De lá para cá, a consciência das possibilidades do jornalismo se dinamizaram, se ampliaram, e tornaram-se, para alguns, um inimigo; para outros, um servo e fiel amigo de todas as horas. Hoje podemos dizer que a grande imprensa, nestas terras de Cabral, é a assessoria de imprensa do poder vigente, do statu quo arregimentado e empossado como o poder paralelo, o poder das sombras, ou, verdadeiramente, o quarto e decisivo poder. A grande imprensa está aí, fazendo muralha e deixando vazar pelas suas frestas apenas as imagens que devem ser vistas pela opinião pública, entidade mediada pela grande mídia.

Páginas em branco

Há, junto ao jornalismo, uma prática suspeita de cunho moral, ditatorial, pautando apenas os interesses das empresas, e não os da imprensa. É este interesse que paira sobre a cabeça dos jornalistas e suas editorias, seus editoriais, pois uma vírgula além dos caracteres previamente definidos pode tornar-se fina adaga e degolar sua cabeça. Muitas cabeças foram vendidas, outras vencidas por esta triste história, e nunca se tornaram notícia.

Este é o silêncio pesado que domina as grandes redações, que são lamentados nos tragos dos cigarros que, metaforicamente, se esvaem no ar, deixando sua culpa dentro de cada um.

E qual a missão ética do jornalista diante de todo este cenário? Calar-se, revoltar-se, denunciar? Bom, atrás de todo jornalista há o pai de família, o homem com seus medos e suas incertezas, o empregado que troca o seu suor, sua faculdade, pelo salário mensal. A urgência da vida moderna chegou a tal tempo real que mal fecha-se a última edição e já se foi o último salário.

O deadline não espera ninguém, e aí, todos os argumentos e alguns ensinamentos, lapidados nos bancos das faculdades, tornam-se pautas vencidas, notícias velhas, de ontem, de um tempo distante, que se vai longe na memória, no coração.

Aí talvez esteja o grande furo de toda esta crônica da nossa vida diária: destroem-se os homens e todo o cenário que os cerca. Assim, com o que resta deles, pauta-se um mundo publicável livremente nas páginas em branco da história.

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Jornalista e escritor