Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O macartismo mainardiano em ação

Estão abertas as inscrições para a crítica da imprensa. O número de vagas é ilimitado. Não se exige diploma nem treinamento especial. Como ferramenta, basta um tacape; como atributos, ressentimento e vontade de aparecer. Todos os candidatos são automaticamente aceitos.


Mais complicada é a função do observador da imprensa. A observação de um fenômeno é uma forma de intervenção a distância. Exige, antes de tudo, conhecimento da matéria. Sem credibilidade, o observador torna-se uma nulidade. Sem disposição para a difícil busca do equilíbrio, emaranha-se nos preconceitos. Sem vocação para a marginalidade, torna-se atração circense.


Diogo Mainardi é, na feliz expressão de Luís Nassif, um parajornalista. Um dos muitos revelados nestes seis meses de crise. Ouviram falar em Carlos Lacerda e imaginaram que basta indignação e nenhum senso de responsabilidade para ganhar o respeito dos leitores. Seus colegas na direção de Veja ofereceram-lhe uma isca e ele, faminto de reconhecimento, a abocanhou com voracidade.


Quanto mais se entrega ao delírio mais se enreda na armadilha. Há poucos meses puxava o cordão dos colunistas que mais mensagens recebia, agora nem aparece no esfarrapado Oscar semanal. O leitor de Veja (que já foi mais exigente) já não agüenta tanta fanfarronada.


Para escapar deste célere ostracismo, na última edição do semanário (nº 1934, de 7/12/05, pág.181) Diogo Mainardi resolveu apresentar-se como um media-watcher (em inglês certamente se sentirá um Gore Vidal botocudo). Não conseguiu sequer alçar-se à condição de crítico. Ficou a anos-luz da observação da mídia.


Um bravo


Diogo Mainardi apenas assumiu-se como representante nativo do macartismo. A classificação é do próprio. Macartismo mainardiano não passa de uma combinação da ancestral caça às bruxas com um despudorado narcisismo. Estes tipos de ‘dedo-durismo’ e delação não existem apenas em ditaduras e tiranias. Estão em toda parte, das gôndolas de Veneza aos bares da moda. Trata-se de um vírus mutante que pode manifestar-se ora como palhaçada, ora como megalomania ou, na sua versão mais recente, como furor inquisitorial.


Se Diogo Mainardi pretende acabar com o lulismo das redações precisa antes acabar com o macartismo da linha Opus Dei que começa a ocupar espaços importantes nas páginas de opinião dos grandes jornais – e no comando das grandes empresas jornalísticas. O perigo está aí. Este perigo não sensibiliza os parajornalistas. Ao contrário, só os favorece.


O perigo está nas máfias como aquela que durante mais de 20 anos tornou Veja um veículo a serviço do senador Antonio Carlos Magalhães e hoje dissemina-se no eixo Rio-São Paulo controlando quem pode aparecer e qual livro pode ser divulgado. Esta máfia continua vicejando no próprio semanário onde acaba de ser parido o macartismo mainardiano – já não mais pactuada com o desdentado político, agora apenas ocupada com a própria sobrevivência. A qualquer preço.


Diogo Mainardi acaba de prestar um enorme serviço à observação da mídia. Mostrou como pode ser deformada e aviltada.


Mas é um bravo: conseguiu tirar este Observatório e este observador da abjeta lista negra que vige na redação de Veja há algumas décadas. Mais algumas façanhas como esta e poderá regenerar-se. [Postado às 17h01 de 5/12/2005]