Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O problema de ouvir apenas um lado da história

Recentemente, o Washington Post publicou uma matéria sobre Brian Brown, diretor-executivo da Organização Nacional Pró-casamento (NOM, sigla em inglês), grupo americano que lidera a luta contra a legalização de casamento entre pessoas de mesmo sexo. De autoria da repórter Monica Hesse, o texto traçava um perfil de Brown, e foi publicado quando a jornalista estava de férias. Ao voltar, Monica deparou-se com sua caixa de entrada de e-mails lotada de reclamações e críticas.

A repórter ficou surpresa, pois havia considerado que o perfil tinha um tom ‘satírico’ e, por conta disso, esperava receber queixas de conservadores anti-casamentos gay. Mas, em vez destas críticas, a grande maioria das mensagens vinha de liberais que apoiam o casamento gay, acusando-a de escrever sobre alguém que eles acreditam estimular o preconceito e a intolerância. Para os liberais, a matéria errou ao ouviu apenas um ponto de vista – o de Brown. Na blogosfera, as críticas foram ainda mais fervorosas.

Para o ombudsman Andrew Alexander, que tratou do assunto em sua coluna de domingo [6/9/09], três fatores contribuíram para as críticas: o estilo da narrativa, a técnica de escrita e uma má escolha de título. Monica deixou Brown contar sua história em vez de citar outras pessoas expressando suas opiniões sobre ele. Os editores da repórter não se opuseram a esta técnica. ‘Deixando Brown contar a história com sua própria voz, os leitores teriam mais acesso a seus argumentos’, alega ela. Na teoria, isto pode até funcionar, mas impedir leitores de ouvir outras opiniões contra Brown representa injustiça, diz o ombudsman. ‘Em um perfil de uma pessoa tão polêmica, é preciso ouvir outras opiniões’, afirma Fred Karger, presidente de um grupo chamado Californianos Contra o Ódio.

Em retrospecto, a editora de estilo, Lynn Medford, concorda. ‘A lição é, sempre, de algum modo, mostrar o outro lado’, reconheceu. E, finalmente, o título: ‘Opondo-se a uniões gays com sanidade e um sorriso’. Para muitos, o Post estava dizendo que os pontos de vista de Brown eram sãos.

A repórter defende-se. ‘Meu parceiro atual é homem. Mas, antes dele, era uma mulher, com quem eu discutia sobre seguro de saúde, filhos, casa e casamento. Você pode apostar que eu acho o fato de nosso casamento não ter sido considerado legal muito errado. Isto não significa que não é importante ouvir o que a NOM está tentando fazer’.