Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

O que ainda falta acontecer neste Ano Murphy?

“Tudo o que pode dar errado, dará errado”. A Lei de Murphy, uma das mais celebradas expressões de uma civilização autoqualificada como infalível, tende a ser o moto do interminável 2015, aliás iniciado junto com a sucessão presidencial, meados de 2014 e condenado a ser esticado até 2018. Nunca na história deste país se conseguiu fabricar um ano tão duradouro.

O incêndio que destruiu parte do magnífico Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, dez dias antes da data em que entraria em vigor o Acordo Ortográfico, é o mais recente infortúnio que os fados, astros, bruxas ou o desconhecido Murphy nos obrigaram a compartilhar.

Simbolicamente, o início do segundo mandato da presidente Dilma, nada teve de triunfal: o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, depois da longa hesitação no palácio do Planalto tomou posse no dia 1º de janeiro e defenestrado suavemente sem completar um ano (em 18/12).

Exatamente um mês depois da posse da presidente (a 1º de Fevereiro) a Câmara Federal escolhia para presidi-la a vingativa nêmese, Eduardo Cunha, imposto pelo partido que o fidelíssimo vice, Michel Temer, preside com excepcional lealdade e rara transparência.

A hipótese do impeachment foi aventada logo em seguida em desastrado improviso da “Folha de São Paulo” para atender à vaidade do jurista Ives Gandra Martins. A malícia foi finalmente reparada dez meses depois, em Dezembro, quando num contundente editorial de primeira página o jornalão teve a ousadia de afirmar que o pedido de impedimento da presidente, orquestrado através da chantagem de um malfeitor, não tinha validade moral.

Dias depois, o Aedes fluminensii (o Coisa Ruim eleito pelo Rio) era denunciado pelo Procurador Geral da República, ameaçado de cassação do mandato e perda do cargo.

O maligno Inseto do Ano poderia ser erradicado imediatamente não fossem as férias coletivas dos meritíssimos membros do STF estafados pelo  continuado esforço de bater o martelo. É o preço da judicialização da vida política.

O aedes original, este do Egito, foi banido há mais de um século pela determinação do sanitarista vencedor da batalha da vacina obrigatória e do saneamento urbano. Entre as justas homenagens, a utilização do seu nome para batizar um desinfetante escuro batizado de Osvaldina que os mata-mosquitos derramavam nos ralos e sarjetas do Rio e assim ajudaram a controlar a famigerada febre amarela.

Incrivelmente astuto, obstinado, pérfido — tal como o seu heterônimo fluminense – frustrado o aedes egípcio  preferiu servir de vetor para a transmissão das imbatíveis dengue, chicungunha e finalmente da febre Zika que nas gestantes produz fetos microcefálicos e em ambos os sexos (preferencialmente  em crianças e idosos), a síndrome neurológica Guillain-Barré. Nestas condições procriar será uma temeridade, em compensação teremos em 2050 um número menor de aposentados. É a prometida reforma da previdência já em operação.

Uma imprensa absolutamente desnorteada, ansiosa em pegar carona em qualquer bonde, empurrada pelas desgraças, sem muito a informar serve-se de infográficos hieroglíficos para fingir sapiência e disfarçar perplexidades.

Em redações esvaziadas e não-tripuladas lembrar a catástrofe de Mariana é de péssimo gosto.  Tanto assim que ninguém puxa pela memória para rever como foi a escolha do ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para presidir a Petrobrás.  Em fevereiro de 2015, o nome inicialmente sugerido e felizmente recusado foi o de  Murilo Ferreira, presidente da Vale, hoje coveiro do Rio Doce.

O que mais nos reserva este Annus Horribilis ? Aguarde, ele não terminou. 

As apocalípticas 12 horas sem whatsapp  

Desassossego virtual, solidão, desespero – o whatsapp não é uma ferramenta de comunicação, é uma forma de existir. Mas em S.Paulo, os assinantes do “Globo” ficaram três dias sem receber o jornal (de sexta, 19/12, a segunda, 21/12). Se ligassem antes das nove da manhã para uma central telefônica receberiam o seu exemplar horas depois. Mas que gênero assinatura é esta que só funciona quando acionada? Modernidades.

Pior sorte tiveram os assinantes do serviço Combo da Net paulista. Na noite de sexta e sábado o serviço foi suspenso até a madrugada. Significa que os coitadinhos ficaram sem TV, telefone fixo, serviço de web, Netflix, Now, Philo, etc.etc.  Por que não passaram numa locadora? Não há mais locadoras, só DVDs piratas. Os dois dias sequestrados não serão repostos quando mandarem o novo boleto. Além disso, a pizza veio fria.

Então vamos suspender a assinatura? A atendente robotizada não vacila: tem um plano muito mais barato praticamente, a metade, para oferecer aos indignados. Viva a indignação.