Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O roteirista e a mulher-melancia

‘Gente, que coisa mais pobre e constrangedora é aquela? Tudo o que se tem ali é uma moça gordinha, a um passo de se tornar obesa’, disparou, depois de ter conhecido a dançarina durante a gravação do Casseta e Planeta.

‘E aquele jeito dela de ficar sempre de costas e mostrar o traseirão para a câmera. Meu Deus, se aquilo é ser sensual, então não resta outro caminho às mulheres todas senão entrar num convento e virar freiras!’

Amigos, é de lascar o cano…

O comentário acima foi publicado no site do Click 21 e veio ao encontro de minha mais recente ansiedade que é decifrar esse problema chamado mulher-melancia. Eu disse problema porque isso não é um mistério, tampouco um enigma; é coisa de louco.

Vocês viram a foto de capa da revista Playboy, na edição que a moça em foco saiu?

Não me levem a mal, mas aquilo é um absurdo.

Movimento automático

Acredito que se trata de um grande desafio para um neófito das letras como eu falar de assuntos assim sem cair na vulgaridade. Falar de sexo e de mulher pelada hoje em dia já não choca mais ninguém. Há um ambiente generalizado de Sodoma.

Mas essa mulher-melancia é um pouco diferente, daí merecer nossa atenção pegando carona no comentário do ilustre roteirista. Já não foi suficiente a tal de dança do créu, ventre que a gerou, coqueluche da periferia. Ela tem um hábito, já quase um vício, de virar-se de costas e mostrar o traseiro. A moça não pode ver uma câmera, ou melhor, qualquer coisa que ilumine. Ela se vira e exibe o traseiro.

A tal foto de capa que mencionei é algo assustador. Não pela imagem em si, mas há algo de estranho. A moça está encostada numa espécie de parede, de costas para nós e em posição de realçar a lordose carnuda. Mas é algo tão evidente que se torna de profundo mau gosto. Já vi entrevistas dela. É um movimento automático. Mãos nos joelhos e empina o traseiro para trás.

Machismo retrógrado

Penso que se essas coisas têm que ser apresentadas, que o sejam com um mínimo de discrição.

Já não aprovei o apelido. Melancia é uma delícia. Mas do ponto de vista estético, não é uma fruta que se possa chamar de bonita. Um esferóide grandão e pesado… Tanto é que nas situações em que alguém perde a esportiva fala-se que o sujeito ‘virou o caminhão de melancia’. O engraçado da coisa é que o apelido de mulher-melancia ficaria mais adequado a alguma mulher que fosse gorda. Atribuir características de melancia a uma parte anatômica que ainda por cima é dividida ao meio me parece equivocado.

A não ser, só para lembrar a observação do Aguinaldo lá em cima, que seja algo que esteja antecipando o futuro.

Eu bem que poderia terminar aqui, porém, a contragosto, e em nome de um machismo retrógrado que poderia acusar-me de não apreciar a fruta, esclareço que gosto sim, das duas.

A crítica vai apenas para a forma de apresentação.

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Estudante, Nova Iguaçu, RJ