Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O serial killer e o perigo de um mito na mídia

Sete de abril de 2011, por volta de 9 horas, a Rádio BandNews dava as primeiras notícias da ação do serial killer de Realengo no ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira, na cidade do Rio de Janeiro. Depois, vieram as manchetes dos principais jornais, telejornais, sites, rádios e das revistas nacionais informando que o ex-aluno da escola Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, matou doze adolescentes e feriu outros doze alunos. A notícia ganhou ainda destaque na mídia internacional. Num primeiro momento, a foto e a carta deixada pelo matador em série e suicida ganharam espaço perigosamente nos meios de comunicação, exatamente como ele planejou antes de morrer – ser notícia mundial, embora de manchete negativa.

O perigo é tornar esse serial killer um mártir, nos moldes dos homens-bomba que promovem atentados pelo mundo afora, como o fatídico 11 de setembro, ou endeusar ações perversas de personagens negativos da história, como Jack, o estripador, assassino que aterrorizou Londres no século 19, ou Adolf Hitler que, com o nazismo, fez as incontáveis vítimas do Holocausto, sendo cerca de 1,5 milhão somente no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa lembrou, no programa de televisão Domingão do Faustão, no domingo (10/11) após a tragédia de Realengo, o perigo de se criar um mito em torno do homem que matou friamente e de forma sádica os doze alunos da escola onde estudou. Ela atacou a glamourização do atirador de Realengo, cuja conduta doentia – assim como a conduta dos homens-bomba, dos terroristas responsáveis pelos atentados de 11 de setembro, dos nazistas, e de Jack, o estripador – só muda o CID (Classificação Internacional de Doenças), isto é, o diagnóstico da doença mental, que vai da esquizofrenia a outros delírios mentais e surtos psicóticos.

Muito cuidado ao noticiar fatos como esse

Por outro lado, a boa escola de jornalismo ensina que a morte por suicídio não é notícia porque ela pode incentivar a ação de outros potenciais suicidas e encorajar alguém a atentar contra a própria vida ao se identificar com o fato negativo.

Assim, a mídia pode tirar algumas lições da tragédia de Realengo, como alertar à sociedade que um jovem arredio, fechado, disposto a cometer atos insanos, deve receber ajuda e tratamento médico antes do pior acontecer. Também é bom prestar atenção e investigar mais o que circula na internet e nas redes sociais sobre atentados terroristas, preconceito e outras ações negativas que buscam captar adeptos, seguidores e simpatizantes.

Não é por acaso que o serial killer Wellington Menezes de Oliveira postou alguns dias antes na internet (Orkut) uma prévia do que aconteceu em Realengo, mas isso só veio à tona depois da morte dos doze inocentes, de ferir outros doze anjos e de assustar a população brasileira. Por isso é preciso muito cuidado para noticiar fatos como esse. Idolatrar o matador e o transformar num mártir talvez fosse a sua intenção, pois ele se dizia muçulmano fundamentalista nos últimos meses.

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Advogado, jornalista e especialista em Ciência Política