Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O limite entre notícia e opinião

O jornalista Dana Milbank, um dos três setoristas do Washinton Post na Casa Branca, é polêmico entre leitores e não muito querido pela equipe do governo Bush. Apesar de a ombudsman Deborah Howell fazer parte do time de fãs de Milbank, ela não aprovou sua participação em um programa do canal a cabo MSNBC na semana passada, como relata na coluna desta semana [19/2/06]. No programa de Keith Olbermann, Milbank – que usava trajes de caça – fez diversos comentários supostamente cômicos sobre o tiro do vice-presidente Dick Cheney que atingiu acidentalmente um advogado durante uma caçada a codornas.

Deborah transcreve um trecho da entrevista em que Milbank responde a Olbermann se caçaria com Cheney, caso fosse convidado. O repórter do Post brinca que [o promotor] Patrick Fitzgerald já o havia convidado para a próxima viagem de caça com o vice-presidente. A ombudsman relembra que Fitzgerald é o promotor especial responsável pela investigação do vazamento da identidade secreta da agente da CIA Valerie Plame – na qual Lewis Libby, ex-chefe de gabinete do vice-presidente, é acusado de perjúrio.

Depois do programa, Deborah recebeu diversos e-mails criticando a atitude do repórter. ‘Milbank ultrapassou os limites. O que pretendia ser uma piada foi visto por muitos como falta de profissionalismo e respeito’, opinou o leitor Eric Welch. Outros questionavam se, no fim das contas, ele era um repórter ou um colunista. A ombudsman revela que a pergunta é realmente um pouco complicada de ser respondida, pois ele é um repórter de política nacional que escreve a coluna ‘Washington Sketch’ e também algumas matérias esporádicas.

Repórter na redação, colunista no sítio

Na redação, no entanto, Milbank não é considerado um colunista de opinião pelos editores. Liz Spayd, editora administrativa assistente para a seção de notícias nacionais, afirmou que a coluna de Milbank espelha-se em colunas semelhantes publicadas em jornais britânicos, na qual ele tem a função de ‘observar e relatar o teatro da política’. Para Liz, a coluna do jornalista não é ideológica, mas ele tem um pouco mais de liberdade do que um repórter convencional.

Já o sítio do jornal, que não é administrado pela mesma equipe da versão impressa, classifica Milbank como um colunista de opinião. Deborah concorda com esta classificação e acredita que estaria aí a solução para as críticas em relação a seus comentários – opinião compartilhada pelo repórter. ‘Eu entendo que há uma linha tênue entre fazer julgamentos observacionais e expressar uma opinião’, argumenta Milbank.