Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O novo Brasil aceita dialogar

O jornalista Luis Nassif, o escritor Sérgio Vaz e o cineasta Maurício Eça, participantes do 2º Jornalirismo Debate: ‘Como se forma a opinião pública no Brasil’, concordaram que é preciso buscar novas formas de representação, análise e, principalmente, de integração no país. O Brasil que a gente quer e precisa vai surgir do diálogo franco entre os mais diversos representantes da sociedade. O jornalista Pedro Doria, o quarto elemento do debate, marcou ‘presença’ em vídeo gravado.

O acesso à tecnologia e a democratização da internet abalaram o papel da imprensa como formadora de opinião. Mas até quando os grandes grupos de mídia tradicional continuarão noticiando conforme o interesse de suas agendas? É possível que os canais da web alcancem todo o seu potencial e se formem fontes primárias de informação? E, acima de tudo, para quem é feita a notícia no Brasil?

Essas foram as principais questões discutidas no segundo debate promovido pelo Jornalirismo, sob o tema ‘Como se forma a opinião pública no Brasil, hoje’, realizado na noite de terça-feira (27/5), na livraria Fnac, em São Paulo. O grupo convidado foi composto do poeta Sérgio Vaz, do cineasta Maurício Eça e dos jornalistas Luis Nassif e Pedro Doria, com mediação do ‘jornalirista’ Guilherme Azevedo.

Luis Nassif abriu a discussão com um panorama. Abordou o impacto da tecnologia no jornalismo, criticou o estilo e as intenções da grande mídia, representada por veículos como a revista Veja (alvo de uma série de denúncias no seu blog), e explicou como a manipulação da opinião pública exerce influência no cenário político nacional desde o fim da ditadura. ‘Essa notícia em forma de catarse, como movimento de massa, não ajuda em nada. Houve uma aproximação do jornalismo com o show bizz, no final da década de oitenta, e algumas empresas passaram a utilizar o valor da opinião como jogada comercial’, afirmou Nassif.

A situação de comunidades onde o acesso à internet é ainda recente, ou escasso, foi levantada pelo escritor Sérgio Vaz, idealizador e organizador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), que tem como objetivo levar informação e literatura aos moradores pobres da zona sul paulistana, com saraus e ações de cidadania.

Periferia 2.0

Segundo Sérgio, o surgimento de lan houses na periferia tirou as pessoas de uma ilha de isolamento, criando um público com poder de opinião, resultando em uma nova situação para o mercado de comunicação, exemplificada assim por Nassif: ‘Os jornais, antes, tinham um círculo restrito de opinião, que era ampliado e atingia apenas as camadas mais intelectuais. Mas essa nova geração não é mais atingida por isso, como no caso do Lula [o presidente Luiz Inácio Lula da Silva], que foi atacado pela mídia e continua no poder’.

Para Maurício Eça, diretor do videoclipe Diário de um Detento, do grupo de rap Racionais MCs, e do documentário Universo Paralelo, sobre moradores da periferia paulistana, além de criar um núcleo pensante, o novo ciclo de notícias também deu representatividade a uma parcela da população até então ignorada, trazendo à tona movimentos como o hip-hop. ‘O hip-hop expressava uma situação, uma realidade da periferia, na qual as pessoas podiam se identificar. Movimentos como este e a Cooperifa trouxeram um aumento enorme na auto-estima das pessoas da comunidade’.

Nassif também falou sobre o jogo de interesses de grandes grupos de mídia e o uso do poder de opinião a favor de uma agenda pessoal: ‘É praticamente uma formação de quadrilha, de manipulação de informação. Quando falamos da Veja, não se trata de conservadorismo, se trata de esgoto, de ataques gratuitos. Não é uma questão ideológica, mas, sim, de princípios jornalísticos. A imprensa pode ser conservadora, mas de bom nível’.

Necessidade de um novo jornalismo

O segundo bloco do debate contou com o jornalista Pedro Doria, especialista em mídia digital e tecnologia, que participou da discussão com um vídeo gravado no dia (assista aqui), no qual questionou o real potencial da internet na comunicação atual: ‘Os grandes veículos e agências [de notícias] ainda são os grandes formadores de opinião. A produção de informação ainda continua nas mãos dos mesmos grupos’. Doria questionou ainda a qualidade do jornalismo online nas duas pontas da notícia: a de quem produz e a de quem lê: ‘O jornalismo na internet tende a ser preguiçoso tanto do lado do leitor como de quem produz a notícia’.

A opinião de Doria encontrou seu contraponto em Nassif, que declarou que, na verdade, a comunicação na internet precisa apenas achar um formato, se organizar, mas supera a mídia tradicional em valor por conta do seu caráter colaborativo. ‘A colaboração muda tudo. A imprensa continua com o mesmo modelo de dez anos atrás. Quando se usa o modelo de web 2.0, a coisa muda. Agiliza e desburocratiza o processo. No blog, você é muito mais jornalista.’

Na visão de Sérgio Vaz e Maurício Eça, a principal questão é se existe um público de massa para uma informação mais inteligente e profunda, pois revistas que tentam desenvolver essa proposta possuem um perfil de leitor bem restrito, como é o caso da revista Caros Amigos, uma das principais publicações independentes do Brasil.

Na opinião do escritor, os blogs poderão ser uma boa solução para esse impasse, principalmente para comunidades da periferia, devido à possibilidade de segmentação e contato direto com quem se interessa pela informação disponibilizada. ‘O blog é uma ferramenta monstruosa em núcleos de comunidades menores. As pessoas querem ler quem está lá, [gente] que fica de fora da grande mídia’, revela.

Novas formas de diálogo

Mas, depois de colocadas na mesa as dúvidas e contextos que envolvem a questão, quais são os novos meios de se comunicar, rumo a um futuro ético e democrático?

A necessidade de um canal e de uma forma de comunicação universal foi observada por todos os participantes do debate, que ressaltaram a importância de inclusão de núcleos hoje ignorados pela mídia brasileira.

Vaz acredita ser preciso a criação de uma linguagem na qual setores esquecidos pela sociedade se identifiquem, que os represente, contextualizando a realidade de núcleos fechados com o mundo externo. Embora concorde com a idéia, Maurício diz ser necessário ir além, tornando essa comunicação uma via de duas mãos e colocando a classe média em contato com a periferia, por exemplo.

Nassif destacou a necessidade da pluralidade do Brasil funcionando num sistema que englobe os interesses de todos, de modo integrado. ‘É preciso criar uma ferramenta que organize as várias facetas do Brasil. O mercado financeiro pauta a política, hoje. Manifestações grandes de ruralistas não são noticiadas na grande mídia, como as financeiras, por exemplo. É um desafio criar algo que traduza tudo isso’.

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Como você forma sua opinião

A convite do Jornalirismo, dezessete líderes de comunicação do Brasil aceitaram discutir sobre como se forma a opinião pública no Brasil, hoje, e revelar a forma com que tiram sua próprias conclusões sobre o mundo.

Saiba o que profissionais experimentados como Xico Sá, Ricardo Kotscho, Carlos Eduardo Lins da Silva, Audálio Dantas, Moacir Japiassu, Carlos Castilho, Julio Hungria, Luiz Alberto Marinho e muitos mais disseram e, depois, dê a sua própria opinião.

1. Como se forma a opinião pública no Brasil, hoje?

2. Como você forma a sua própria opinião?

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Xico Sá, jornalista (colunista da Folha de S.Paulo)

1. – Creio que os jornalões e as revistas perderam muito das suas forças como formadores de opinião – basta ver o índice de popularidade do governo Lula depois de anos e anos de porrada –, mas continuam com um forte papel de confortar a classe média, numa espécie de cafuné ideológico, reforçando o que ela tem de pior: o preconceito e a mesquinhez.

A força dos grandes veículos foi muito diluída pela multiplicação punk de blogs e páginas na internet, com muita gente passando a ter o seu próprio ‘jornal’, digamos assim. A tevê, também, creio, perdeu muita força nesse capítulo, assumindo cada vez mais o papel de máquina de entretenimento e cultura trash do que veículo jornalístico formador de opinião. Nesse apurado de perdas e danos, acredito que o rádio ainda mantenha uma certa força, ajudado, inclusive, pelo engavetamento do trânsito das grandes metrópoles. A falta de pluralidade nos grandes meios, que, cada vez mais, dá lugar a uma opinião única e padronizada, também ajudou a consolidar esse quadro de desimportância dos veículos como formadores de opinião. Graças a Deus. O bom é que vingue o ditado dos anarquistas espanhóis: não compre jornal, minta você mesmo.

2. – Como a realidade é apenas uma opinião (palavras de Thimothy Leary, o guru do LSD), eu prefiro o meu data-boteco, o meu data-rua, o meu data-busão, o data-Maracanã ou data-Morumbi: fico ligado no que dizem as pessoas, basta ouvi-las, até nos seus absurdos e desabafos, para saber o que se passa no país. Como diria o velho Chico, ‘a dor da gente não sai no jornal’.

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Luiz Alberto Marinho, publicitário (consultoria BrandWorks)

1. – Como costuma dizer o Roberto DaMatta, nosso país foi construído com base em uma noção de hierarquia muito forte. O povo, como conseqüência, acredita que algumas pessoas são mais capazes do que outras para distinguir o certo do errado e explicar o que acontece no Brasil e no mundo. Em resumo, precisamos de gurus, patriarcas, caudilhos travestidos de democratas e, é claro, celebridades pretensamente eruditas, para nos ensinar o caminho. A mídia exerce um papel determinante nesse processo, ela própria assumindo a identidade de um desses gurus. Creio que esse fenômeno ajuda a entender a formação da opinião pública brasileira.

2. – Procuro ler, ouvir e conversar com diferentes fontes, para contrapor novas visões às minhas próprias convicções, construídas ao longo de uma vida de observações e análises.

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Ricardo Kotscho, jornalista (revista Brasileiros e portal iG)

1. – A opinião pública brasileira é formada pelas conversas que os brasileiros têm com outros brasileiros, dispensando antigos intermediários da mídia.

2. – E a minha opinião é formada pelas conversas que tenho com outros brasileiros, dispensando antigos intermediários da mídia.

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Mílton Jung, jornalista (rádio CBN)

1. – Na realidade, o que conhecemos como opinião pública representa pequena parcela que tem acesso às informações, seja na busca dela, seja para influenciá-la. No entanto, fatos recentes – a reeleição do presidente Lula, por exemplo – mostram que as empresas que desenvolvem conteúdo e veiculam informação não são capazes de compreender o que boa parcela da sociedade pensa e deseja.

2. – No balcão da padaria, no blog da esquina e ouvindo a opinião daqueles que entendo serem fontes importantes de informação (no rádio, também).

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Moacir Japiassu, jornalista e escritor (portal Comunique-se)

1. – Quando se fala em ‘opinião pública’, nos referimos, é claro, à classe média, essa multidão formada pelo casamento entre a ignorância e a burrice. Um legítimo representante forma sua ‘opinião’ a partir das manchetes dos jornais e das notícias da tevê, pois esse jornalismo fast-food não exige mergulhos mais profundos. A classe média simplesmente não pensa, apenas absorve a opinião alheia no que esta tem de mais superficial. E não é só no Brasil que se agita esta massa formidável; o mundo globalizado multiplicou todas as besteiras.

2. – Formo minha opinião a partir da análise do conteúdo da mídia e procuro, principalmente, contestá-lo. Como velho jornalista, quero saber por quê, sempre e sempre. O tempo de serviço e os hábitos desenvolvidos pela leitura diária me dão (quase) a certeza de que não irei para onde vai a maioria. Não admito verdades estabelecidas e desconfio de pessoas e documentos, os quais, a meu juízo, são sempre falsos, até prova em contrário.

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Mariana Cogswell, publicitária (agência Talent)

1. – Num país que tem uma diversidade cultural tão grande, me arrisco a dizer que opinião pública, mesmo, é formada pelos meios eletrônicos. A tevê tem um papel violento, seguido pelo rádio. A internet ainda é tratada como meio de socialização e busca pela grande maioria. Alguns poucos já conseguem se organizar para discutir e difundir novas formas de ver o mundo. E os meios impressos, com seus grandes editores e pensadores, ainda são a chave da velha economia.

2. – Escutando economistas, cientistas políticos, sociólogos, antropólogos e psicólogos mais que nada. A mídia é muito cheia de opinião (acho um pouco cansativo). Tem muito ópio, palavrinhas de moda e deuses efêmeros por aí. Estes outros profissionais também têm opinião, mas têm um olhar mais afastado, que eu julgo como sendo mais lúcido e refletido de tudo aquilo que chamamos de realidade. Além de tudo, a realidade real-time me assoberba, tenho dificuldade de digerir.

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Carlos Eduardo Lins da Silva, jornalista (ombudsman da Folha de S.Paulo)

1. – A opinião pública se forma por meio de uma complexa e variada rede de agentes, que incluem: família, igrejas, escola, sindicatos, amigos, meios de comunicação, partidos políticos.

2. – A minha opinião também se forma assim.

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Adonis Alonso, jornalista (Blog do Alonso)

1. – A opinião pública se forma a partir dos meios de comunicação. A informação é tão intensa, e tão disponível, que nenhuma pessoa, hoje, está isolada ou distante do noticiário. Com isso, ela pode chegar à sua própria conclusão sobre fatos, baseada numa avalanche de notícias e comentários via tevê, rádio, jornal, revistas e internet.

2. – Também formo minha própria opinião juntando todas essas informações e analisando prós e contras. Sem dúvida, atualmente, busco muito mais informação na internet do que em qualquer outro meio.

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Eduardo Ribeiro, jornalista (portal MegaBrasil e portal Comunique-se)

1. – Na minha opinião, a opinião pública no Brasil de hoje se cria pela imprensa, sobretudo mídia impressa, nas camadas mais altas da sociedade, e pelos líderes comunitários e naturais, nas camadas mais humildes da população. O maior exemplo dessa segunda parte de minha opinião é a eleição do presidente Lula, para o segundo mandato, mesmo tendo praticamente toda a mídia contra si. Falou mais forte os programas sociais e o que dele se falou pelos líderes comunitários.

2. – Formo minha opinião mesclando o que leio com o que vejo e ouço nas ruas. Ao ver menos mendicância nas ruas e mais caminhões nas estradas, deduzo que Brasília pode ser o centro do mundo, para os políticos e para uma parcela da população que só acredita no que lê nos jornais, mas não é ela que move o país.

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Carlos Castilho, jornalista (blog Código Aberto)

1. – O processo é hoje muito mais complexo do que antes, por isso não dá para dar uma resposta definitiva. O surgimento do mundo digital, da blogosfera, das comunidades online, da Web 2.0 e de tantos outros sistemas de interação social, está modificando consideravelmente o modelo anterior, em que o processo de formação de opiniões passava obrigatoriamente pela imprensa. Agora há novos canais sobre os quais nosso conhecimento ainda é muito reduzido. O que eu me arrisco a dizer é que hoje existem dois sistemas de formação de opinião: o que nós conhecemos, e que passa pela imprensa convencional; e o que desconhecemos e que se desenvolve no mundo digital. O sistema convencional ainda não se deu conta de que ele não é mais o único. Hoje existem processos, como as bolsas de previsões (prediction markets), que, de alguma forma, tentam identificar processos de formação de opinião, baseando-se em procedimentos estatísticos e probabilísticos. São duas formas bem diferentes de estudar a formação de opiniões. Por isso não se pode falar de um processo, mas de vários.

2. – Resumindo, formo minha opinião por meio de duas ferramentas: a internet e as recomendações. Na internet, consulto mais weblogs do que órgãos da imprensa convencional. As recomendações são sugestões de amigos e das comunidades de informação (formais e informais) das quais faço parte.

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Julio Hungria, jornalista (site BlueBus)

1. – Como a esmagadora maioria dos veículos da grande mídia serve aos mais variados interesses de empresas e grupos, a opinião pública (não só no Brasil) se forma de modo deturpado. Pior é que o consumidor da informação não percebe o engano, porque a postura editorial desses veículos é dissimulada sob um rótulo de suposta imparcialidade, o que garantiria isenção à sua informação.

2. – A minha opinião? Eu formo, acredito, desconfiando de tudo o que me está sendo dito, única defesa possível que tenho contra a falta de sinceridade – para não falar na crônica incompetência da apuração. É só acrescentar uma perguntinha àquelas famosas ‘quem, quando, onde’ etc. Seria: A quem interessa?

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Eduardo Guimarães, jornalista-cidadão (MSM, Movimento dos Sem-Mídia)

1. – É uma questão simples e interessantíssima, sobre a qual pouco tem-se falado.
Não subestimo, como podem pensar os que conhecem minhas opiniões, que a grande mídia tenha um papel preponderante na formação da opinião pública. Contudo, acredito que essa influência passou a se limitar a algumas áreas de interesse bem específicas.

Há casos recentes em que a mídia conseguiu impor suas opiniões à sociedade, ou, ao menos, à maior parte dela. Há o alarmismo na questão da febre amarela – que, inclusive, fez com que a ONG que presido, o Movimento dos Sem-Mídia, encaminhasse uma representação ao Ministério Público Federal, para que julgue se não houve, por parte dos meios de comunicação, crime de alarma social, previsto no Código Penal. E há, por exemplo, essa questão da Isabella Nardoni. A mídia conseguiu estabelecer uma catarse coletiva poucas vezes vista na história recente.

Há, por outro lado, a questão política. Desde que me conheço por gente, nunca vi uma campanha tão longa para desmoralizar um político como a que fez a mídia para desmoralizar Lula. Nesse ponto, a sociedade ignorou solenemente a mídia, que, em última instância, deveria ter, na questão política, o mesmo poder que tem em formar opiniões em outras questões.

Acredito que o acesso à informação, por assim dizer, ‘alternativa’, ou seja, à informação produzida por gente como eu, um blogueiro, quando é difundida com o empenho e defendida com o ardor que gente como eu lhe dispensa, há possibilidade de se estabelecer uma contraposição ao rolo compressor midiático. E é claro – e isso é extraordinário – que as pessoas, por compararem a percepção sobre suas vidas com o noticiário, conseguem intuir que, em termos de política, a mídia tem interesses particulares e, assim, despreza-lhe a opinião.

Ontem, a opinião pública era formada pela imprensa, e só por ela. Hoje, acho que as pessoas dispõem de meios para confrontar informações e, dessa confrontação, extraírem uma média.

2. – Se eu disser que formo minha opinião em oposição ao que divulga a mídia, estarei sendo xiita. Na verdade, meu processo de formação de opinião se dá através de pesquisa, sobretudo pela internet, e só tomo uma decisão sobre algum assunto depois de muita reflexão e pesquisa. Há muito tempo que parei de comprar a opinião que, à primeira vista, me parece mais plausível.

Em questões políticas, é mais fácil, por razões óbvias. Mas, num caso como a da Isabella Nardoni, por exemplo, procuro formular perguntas a mim mesmo e, assim, iniciar um processo de busca de respostas.

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Juvenal Azevedo, publicitário e jornalista (JAC Assessoria de Comunicação)]

1. – A tevê aberta ainda é a grande formadora de opinião no Brasil, por uma soma de fatores que inclui o alto custo dos livros, devido a baixas tiragens, a falta conseqüente dos hábitos de leitura e até um certo desprezo da maioria da população aos ‘esquisitos’ que cultivam esse hábito, agravado também por um presidente que se jacta de ‘ter chegado lá’ apesar de seu despreparo formal. A baixa escolaridade do grosso da população – e que chega até, é só verificar as respostas dadas por vestibulandos, aos extratos mais ‘intelectualizados’ – também colabora. Daí que a tevê aberta e seus abortos, como o BBB, os programas policialescos etc. etc. predomina. A internet vem ganhando espaço, mas é doloroso reconhecer que começa a se exercer um predomínio das bobagens internáuticas, como o incremento à pedofilia, os blogs idiotas, a boataria institucionalizada e a manipulação da opinião pública, como se viu e se vê no caso da menina atirada pela janela.

2. – Pela tevê por assinatura, o mal menor, e pelos sites noticiosos da internet, além, é claro, dos jornais (leio pelo menos quatro deles por dia), das revistas de informação e dos livros. Enfim, é uma dieta básica.

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Edney Souza, blogueiro (Blog do InterNey)

1. – Eu prefiro pular a primeira pergunta, simplesmente porque existe uma diversidade tão grande de brasileiros, e com níveis educacionais tão diferentes, que simplesmente meu cérebro trava em qualquer tentativa de reduzir a explicação de como se forma a opinião pública no Brasil em uma quantidade de caracteres publicáveis…

2. – Quanto à minha opinião, é outra pergunta bem complexa, porém possível de resumir aqui 🙂 A complexidade vem do fato de que parte dela é construída de forma consciente, lendo diversos artigos e conversando com diversas pessoas, e parte de forma inconsciente, tomando como base minha experiência de vida e conhecimentos previamente adquiridos. Aliás, se há alguma riqueza na minha opinião, certamente vem da diversidade de situações que vivi e da grande variedade de pessoas que conheço e com quem mantenho contato. Não leio veículos nem mídias, leio pessoas, me importa saber quem emite uma opinião ou análise técnica de algo para decidir se agrego ou não aquilo à minha opinião e qual o peso que devo dar ao considerar o que ela escreveu.

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Luiz Egypto, jornalista (portal Observatório da Imprensa)

1. – Pela televisão.

2. – Pelas leituras.

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Rafael Bravo Bucco, jornalista (revista ResultsON)

1. – Não sei o que é opinião pública. Sempre que paro para pensar nesse termo, duvido de que exista uma massa de gente com opinião que dá voz ao que a maioria pensa. Acho improvável. Acredito que exista senso comum, convenções comportamentais que levam as pessoas a reagir a fatos de um mesmo jeito. Não seria, então, uma opinião, seria mais uma reação condicionada. E essa reação é educação pura, meio agindo sobre o indivíduo. Quanto mais políticos aparecerem como ladrões em vez de benfeitores, mais o condicionamento será de nos fazer duvidar de sua idoneidade, por exemplo. Enfim, opinião só é opinião se for individual. Coletivo não tem opinião, tem comportamento massificado.

2. – Leio, converso, discuto, resmungo, não ouço algo na hora para somente depois entender o que a pessoa estava me dizendo. Não é o melhor método! Queria poder analisar as coisas com mais calma, e deixar as reações menos ativas e imediatas. Também procuro opiniões de outras pessoas para formar a minha – aliás, só mesmo sabendo o que outra pessoa acha de algo posso ter opinião. Caso contrário, é um pensamento sem função imediata, não é mesmo?

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Audálio Dantas, jornalista (ABI, Associação Brasileira de Imprensa)

1. – Não se tem uma resposta precisa, mas é fácil concluir que a opinião pública resulta mais de desinformação do que de informação. As grandes revistas, como Veja, editorializam até legenda. E a televisão, que atinge o grosso da população, pratica sem nenhum pudor o jornalismo de entretenimento ou, quando não é isso, faz show da violência. Desse jeito, que tipo de opinião pública se forma no país?

2. – Nos veículos impressos ainda resta, nos espaços cedidos para ‘debate’, alguma discussão. E restam, ainda, umas poucas publicações independentes com visão crítica. E a internet, apesar da enxurrada de asneiras, é o grande espaço democrático de informação e opinião. Há milhões de blogs, mas é preciso ter cuidado com eles. Há blogs pra tudo…

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Jornalista