Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os mais velhos não têm vez

Larry Nager, popular crítico de música do Cincinnati Enquirer, foi demitido em 9/1/04 sob alegações de que não era agressivo o suficiente em suas matérias. Nager, profundo conhecedor de blues, rock, R&B, entre outros gêneros, ganhou vários prêmios de jornalismo e criou e produziu o Pop Music Awards, um evento anual com músicos locais que levanta milhares de dólares para bolsas de estudo em música.

As informações parecem discrepantes e, para Nager, de fato, o motivo de sua demissão é outro. ‘Meu 50o aniversário era meu prazo de validade’, diz Nager. ‘Tenho reputação de bom repórter. Dizer de uma hora para a outra que sou incapaz de fazer esse trabalho é ultrajante’. Nager está agora processando o Enquirer, alegando ter sido demitido por causa de sua idade, sexo e em retaliação por protestar contra a recontratação de John Kiesewetter, crítico veterano de TV e rádio, por um veículo de notícias suburbano. No processo, o crítico pede seu emprego de volta, bem como ressarcimento por danos morais.

De acordo com Shawn Moynihan [Editor & Publisher, 12/4/04], a história de Nager levanta uma série de questões importantes. Quando um crítico de música deve pendurar as chuteiras? Os jornais têm exagerado na preferência por críticos mais jovens? Um crítico de jornal diário falou que há ‘limpeza étnica de pessoas mais velhas’ nas seções de artes de jornais, enquanto outro afirmou que se enfrenta fortes pressões demográficas nas redações.

O Enquirer, diz Nager, achou que ele não valia mais a pena por não se enquadrar no perfil de crítico que escreve sobre as Britneys e os Justins que pipocam nos EUA. O crítico acusa o jornal e outros veículos de restringir o público-alvo a mulheres de 18 a 24 anos, atitude que chama de ‘uma resposta à ‘MTVzação’ da sociedade’.

Bumerangues

Experiência semelhante teve Joel Selvin, crítico de música do San Francisco Chronicle. Após mais de 30 anos no jornal, escrevendo sobre música, Selvin perdeu seu título para se tornar redator comum. Extensivas renegociações com a administração do jornal fizeram-no recuperar o título. ‘Hoje’, diz, ‘estou fazendo o melhor trabalho de minha carreira’.

Outro caso parecido ocorreu na redação do Washington Post, quando, em agosto de 2000, o crítico de música pop Richard Harrington processou o jornal por discriminação de idade. Em fevereiro de 2000, aos 53 anos, Harrington, foi demovido de seu cargo para trabalhar por meio período, enquanto seu espaço como crítico foi concedido a um redator 17 anos mais jovem. Hoje, Harrington ainda é crítico de música no Post.

Steve Morse, crítico de música pop sênior do Boston Globe, concorda que haja um apelo maior aos jovens, considerados leitores ‘de risco’, mais ligados à internet e à TV. Morse, que tem 55 anos, não entende todo o rebuliço em torno da idade dos críticos de música. ‘Críticos de cinema não passam por esse preconceito de idade, por isso não entendo por que críticos de música tem de passar’, diz. Mas ‘se chegar o momento em que você achar toda música teen ruim, ou todo hip hop fraco, e se ativer aos velhos discos de Hendrix, então é hora de sair’.