Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os tagarelas do SporTV

Há dois comentaristas no SporTV que são verdadeiros teste de paciência para o mais tolerante telespectador. Ter que ouvir, ao mesmo tempo, Paulo César Vasconcelos, que passo a tratá-lo de Tagarela 1, e João Carlos Assumpção, o Tagarela 2, é dose para leão. Vasconcelos e Assumpção são tagarelas de mão-cheia.


Seus comentários tomam a maior parte do tempo dedicado aos programas de que participam. Tagarela 1 é mais irritante por não deixar seus colegas de bancada falarem. É o primeiro a responder perguntas que partam dos âncoras do SporTV. Tagarela 2, além de querer opinar sobre tudo, irrita pelo tom de voz, alto e grave, que tira do sério qualquer monge tibetano (confesso que minha voz não é lá essas coisas, por isso não a empresto para esse fim).


Na terça-feira (27/6), logo após a vitória do Brasil contra Gana, fiz uma verificação antes de escrever sobre os tagarelas. Mudava de canal assim que Tagarela 1 começava a falar. Esperava alguns segundos, retornava ao SporTV e lá estava o comentarista tagarelando. Repetia os mesmos passos, e não dava outra: o dono do vídeo, do áudio, era Vasconcelos.


Na noite do mesmo dia, no Seleção SporTV, Tagarela 1 passou dos limites. Mesmo com a presença de três jornalistas esportivos gabaritados (Alberto Helena Jr, Telmo Zanini e Renato Maurício Prado), só se ouvia a voz de Vasconcelos. O mesmo pode ser dito de Assumpção, que não pára de falar um minuto sequer. Não sei como agüentam, pois não se vê nem um deles tomar um gole de água que seja. Falam tanto que não dá tempo de ‘molhar o bico’.


Lembranças de Rauzito


Neste mesmo Seleção SporTV, Zanini bateu boca com Tagarela 1. Ele criticou a falta de treinos da seleção de Parreira, o que não foi aceito por Vasconcelos. Entre Zanini e Tagarela 1, claro, fico com o menos falante. Não dá nem para discutir. Até porque fizemos tal advertência na semana passada, em texto publicado neste Observatório (‘O que a mídia não viu em 20 dias de Alemanha‘).


Parreira passou 20 dias em Weggis brincando de treinar o time. Esqueceu-se de que tinha um elenco com 23 jogadores. Tanto isso é verdade que Juninho, Cicinho e Gilberto Silva não treinaram uma vez sequer entre os titulares. E Robinho só teve essa oportunidade devido às ausências de Ronaldo, com suas bolhas e mal-estares. Mas acho que Zanini estava irritado era mesmo com a falação de Vasconcelos.


Com seu ar professoral, Tagarela 1 pensa estar numa sala de aula, dando ensinamentos sobre futebol. Esquece o jornalista que não há segredo para comentar esse esporte, o preferido de nove entre cada dez brasileiros. Tagarela 2, por sua vez, irrita o telespectador por querer opinar sobre tudo. Calma! Não é assim. Lembre-se de Raul Seixas: não é preciso ter opinião formada sobre tudo.


Mais pano


Por incrível que pareça, entre os dois tagarelas o mais chato é Vasconcelos. O leitor deste Observatório pode fazer seu próprio teste: sintonize no SporTV, num programa em que o comentarista esteja participando, e troque de canal tão logo ele comece a falar. Espere 20 segundos (que em televisão é tempo pra chuchu) e retorne ao SporTV. Lá estará Vasconcelos falando, falando, falando. Repita esses passos num espaço de uma hora e verá o quanto o homem fala.


Dia desses, circulou pela internet mensagem com anexo de uma faixa colocada num dos estádios em que o Brasil jogou na Alemanha. Dizia o seguinte: ‘Cala a boca, Galvão’. Claro, uma súplica ao narrador global Galvão Bueno, que fala pelos cotovelos. Sugiro ao autor ampliar o pedido, incluindo os dois comentaristas do SporTV? Ficaria assim: ‘Calem a boca, Galvão, Vasconcelos e Assumpção!’.


Com mais um metro de pano, a faixa ficaria completa.

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Jornalista em Brasília