Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os ex-permitidos

Ex significa alguém que já foi e deixou de ser. Por vários motivos. Aposentou-se, deixou o cargo, ou mudou de opinião. Em termos religiosos, no Islã, os moderados condenam à morte aquele que, uma vez confesso, abandone a fé. Passa a ser uma fé imposta. Isto que ela já o é no nascimento das crianças. É uma boa estratégia, pois quem vai querer perder a vida pensando. A pena é capital. Isto não é feito de modo algum por fanáticos, terroristas, fundamentalistas. Isto está na lei dos estados teocráticos do Islã. O indivíduo é submetido a um processo legal e depois executado pelo crime de apostasia. As leis e os costumes afegãos exigem uma filiação religiosa. O ateísmo é considerado apostasia, crime passível de morte. Por princípio, todos os afegãos são considerados muçulmanos e as conversões são ilegais. Os convertidos podem ser condenados à morte por apostasia. Os não muçulmanos residentes no país podem praticar a sua fé, mas não podem evangelizar.

A definição de apostasia é ‘afastamento deliberado das doutrinas e crenças que antes eram mantidas e defendidas com firmeza’. Veja o que diz a escritura:

‘Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus’ [2 Tessalonicenses 2:1-4].

A luta dos puritanos

O que passa disto é apostasia, doutrina de demônios e espírito de engano. Um discurso cristão inicial de intolerância eterna. Atualíssimo. Isto escrito pelos mansos de coração. Pelos ‘filósofos’ de Deus.

Você pode se converter para o Islã sendo de qualquer religião. Só não pode mais readquirir a liberdade, o livre arbítrio. Na verdade, você pode se converter de qualquer coisa, espiritismo, budismo, ateísmo, bruxaria. Menos do Islã. E no OI, do cristianismo.

Cristo morre na lenda bíblica pelo crime de apostasia. Funda uma nova religião sob os ombros de Pedro, o intolerante. O Novo Povo Escolhido. E Paulo de Tarso condena a morte os primeiros seguidores por este crime. Até sofrer a crise histérica, e inverte o alvo de seus delírios para os judeus, o que o leva a prisão e finalmente a morte.

Pois o OI aceitou um artigo na seção Mosaico sobre o crime de apostasia: ‘LEITURAS DE ÉPOCA Mais um ataque de um ex-cristão’ (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=537MOS006). Ex-cristão é aquele que deixou de ser cristão usando a sua liberdade civil garantida por paises que defendem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Que resultou da luta pelos puritanos americanos fugindo do cristianismo europeu, inspirados por idéias iluministas do renascimento greco-romano, condenados e perseguidos pela Igreja, que resultaram finalmente na Revolução Francesa e estes ideais de sociedade e liberdade destruídas totalmente anteriormente pelo cristianismo.

Ninguém sabe ler

‘Mais um ataque’, entende-se que ocorreram outros antes. Mas o autor não esclarece, decerto referindo-se para as pessoas que já estão informadas da sua cruzada.

Michelson Borges, 37 anos, de Tatuí, SP, que escreveu o artigo acima em 12/5/2009, não declarou seu conflito de interesses com o assunto abordado. Um fundamentalista bíblico declarado em artigos passados, aquele que se move por fundamento na Bíblia, nos diz, e que combate o livre pensamento e a ciência em geral que se oponha a visão bíblica. Isto devia ter sido importante informação para o leitor desavisado ao considerar a entrevista como um ‘ataque’:

substantivo masculino

ação ou efeito de atacar; investida, acometimento

1 – ação de causar dano moral a alguém; ofensa, injúria

2 – acusação veemente; altercação, discussão, disputa

Toda vez que alguma revista analisa a Bíblia, nosso jornalista fundamentalista vem reclamar das ‘liberdades’ indevidas que a imprensa está tomando com este livro de mitologia judáica. Isto só é admissível com o Alcorão, com o Livro dos Espíritos de Kardec, como a literatura budista, com o Mahabaratha, Bagavad-Gita, como com o pensamento científico… Com a Bíblia, é proibido. Apenas adventistas estão autorizados por Deus. Deus inspiriou estas revelações há mais de três mil anos, mas só após a vinda na terra dos adventistas, há 100 anos, as escrituras encontraram para quem Ele estava pregando.

O que o advogado/professor João Alfredo Beltrão Vieira de Melo Filho, de Caruaru, PE, refere à comunidade do jornalista Michelson Borges e do teólogo Douglas Reis, os agora autorizados e únicos capacitados do mundo em leitura. Ninguém mais sabe ler. Querem nos convencer de que o que está escrito, na realidade não está. É ilusão nossa.

A outra revelação

Já em ‘SUPERINTERESSANTE & GALILEU Festival de parcialidade’, por Michelson Borges em 9/12/2008

(http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=515OFC002), foi um artigo no OI reclamando da Super por fazer uma matéria sobre a Bíblia que a Galileu deveria fazer com o espiritismo, e a Galileu, por não ter feito uma matéria que a Super fez da Bíblia. Crítica, apenas nos outros. Claro que como o nosso jornalista é fundamentalista cofesso, não usa de nenhuma parcialidade na vida profissional e privada. Apenas quer que nós usemos a sua visão ‘abalizada’.

Então devemos procurar na revista e no entrevistado esta intenção acusada pelo jornalista no OI. No espaço ‘mente aberta’, o sr. José Antonio Lima, 27 anos, repórter de Época online, entrevista o americano Bart Ehrman. Ele cresceu em uma família religiosa e, quando adolescente, havia se tornado um evangélico fervoroso. O interesse pela Bíblia e por sua história o acompanhou a vida toda e hoje, após 35 anos de estudos (Michelson tem apenas 37 de vida), diz ter abandonado o cristianismo por não acreditar que Deus poderia estar no ‘comando de um mundo cheio de dor e sofrimento’. Bart D. Ehrman é uma autoridade em matéria de história da Igreja nos primeiros tempos e da vida de Jesus, presidindo o Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. Além da sua atividade universitária, tem participado freqüentemente em programas do canal História, da CNN e de outras estações de rádio e de televisão. Ehrman já escreveu 21 livros sobre religião.

Aprendeu grego para ler os textos na linguagem mais próxima do original, estudou no Moody Bible Institute, no Colégio Evangélico de Wheaton e no Seminário Teológico de Princeton. Recebeu o título de Ph.D e M.Div.De no Seminário Teológico de Princeton. Atualmente, é co-editor da série ‘Ferramentas de estudo para o Novo Testamento’. Foi aí que teve outra revelação com a História Crítica da Bíblia. Ao contrário do dr. Enézio E. de Almeida Filho (ex-ateu marxista-leninista, este pode), doutorando em História da Ciência – PUC-SP, de Campinas, e seu colega da mesma cidade, o dr. Pedro Eduardo Portilho de Nader, bacharel em História e doutor em Filosofia, está falando de um campo para a qual se qualificou.

Ignorância dantesca

Concluiu que a Bíblia não pode ser levada ao pé da letra, o alfabeto religioso e a matemática não batem. O resultado da soma dos quatro evangelistas é inconsistente porque as narrativas de João, Marcos, Mateus e Lucas são diferentes e contraditórias. O que qualquer semi-alfabetizado constata. Tanto que o papa já adverte que devem ser levada em conta a interpretação Oficial e não o que está realmente escrito em si. Ehrman se define como um agnóstico feliz. Acredita que Jesus existiu e foi um dos homens mais importantes e distorcidos da história. Já Michelson Borges é apenas mestrando em Teologia pela Unasp (Universidade Adventista de São Paulo), é membro da Sociedade Criacionista Brasileira e tem participado de seminários criacionistas por todo o Brasil.

‘A Unasp-SP contém todas as qualidades necessárias para uma Universidade, qualidade de ensino e, principalmente, um ambiente cristão. Aqui eu me sinto bem.’ Livre da diversidade, dos heréticos e anticristos. O verdadeiro Povo de Deus escolhido a um século. Onde se forjam os futuros soldados de Cristo na Batalha Cósmica final entre o Bem e o Mal (A solução final) contra os anticristos, que se aproxima pelos sinais. O ovo da serpente.

De modo claro, ele não deseja o debate ainda não ocorrido sobre este livro mitológico fantasioso. Só de outra coisa que não entende. A evolução e ciência.

‘Sem compreender o pano de fundo histórico apresentado pela Bíblia e conhecido como o Grande Conflito cósmico entre o mal e o bem, fica mesmo difícil explicar a origem do mal.’ Argumenta Michelson Borges. Podia ter saído da boca que Tomás de Torquemada. Será por isto que atribuiu a maldição de Deus nos ratos até a quarta geração? A Extinção dos Dinossauros foi esta batalha? O tsunami de 2005 que matou milhares? Os Cananeus ele jura que sim. A Arca de Noé visa a introjetar profundamente na mente das crianças esta fantasia da necessidade da morte total aos diferentes. Por isto morreram judeus, cátaros, búlgaros, islâmicos. Realizou-se a inquisição matando milhões de inocentes. As guerras religiosas. A noite de São Bartolomeu. Deus manda não se pode vacilar. Abraão foi testado com o filho Isaac. Deus mandou não se pode vacilar. São tantos exemplos da história que esta ignorância dantesca já fez por este mesmo discurso. Esta mesmo pregação.

Exegese e magistério

Mas já em títulos e anos de estudo vemos que o criacionista Michelson Borges não dá nem para a saída. Seus argumentos contra a revista são mesquinhos: ‘Bart Ehrman prefere se acastelar na dúvida e ganhar alguns dólares com livros polêmicos escritos para vender.’ Um juízo de valor pessoal apenas. Ainda mais que Michelson Borges é editor da Casa Publicadora Brasileira. A Casa Publicadora Brasileira é uma das 56 editoras pertencentes à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Um grande negócio, vê-se, com consumidores cativos. Mais um evidente conflito de interesses comerciais não declarados.

‘Livros como o dele vêm e vão. A Palavra de Deus dura para sempre.’ Aqui, mais uma vez, vemos que a sua crítica não está no local certo. Não existe uma razão jornalística, uma crítica acadêmica (a qual não possui formação) ou de liberdade de expressão. Apenas a autoridade de quem se acha dono da verdade e com direito de condenar os que entendem de modo diverso do seu fundamentalismo. A antidemocracia e o antijornalismo.

Do seu blog lemos uma matéria relacionada:

‘Domingo, Abril 26, 2009

Papa coloca igreja acima da Bíblia (http://criacionista.blogspot.com/2009/04/papa-coloca-igreja-acima-da-bibcia.html )

O papa Bento 16 afirmou que os estudiosos católicos não podem interpretar a Bíblia de uma maneira independente, nem de um ponto de vista científico ou individual, prescindido da fé e da doutrina da Igreja. A interpretação das Sacras Escrituras não pode ser somente um esforço científico individual, mas deve ser sempre confrontada, inserida e autenticada nas tradições viventes da Igreja’, disse Bento 16 durante um encontro com membros da Pontifícia Comissão Bíblica. Segundo o pontífice, ‘esta norma é decisiva para manter a correta e recíproca relação entre a exegese (interpretação de escrituras bíblicas) e o Magistério da Igreja’.

Muralhas do naturalismo ruirão

Reproduzo abaixo a mensagem elucidativa do seu blog para a sua comunidade sobre liberdade (deles):

‘Terça-feira, abril 14, 2009

Ratzinger: inimigo da liberdade (http://criacionista.blogspot.com/2009/04/ratzinger-inimigo-da-liberdade.html )

Um artigo do papa Bento 16, do tempo em que ainda era conhecido como cardeal Joseph Ratzinger, foi publicado na revista da extrema-direita austríaca Die Aula, em sua edição de 30 de setembro de 1997, com conhecimento e autorização expressa do prelado. A notícia foi dada no mês passado pelo semanário alemão Der Spiegelque revela a correspondência entre o Vaticano e a editora neonazi, em que fica claro que o secretário de Ratzinger aprovou a publicação do texto cumprindo ordens do então cardeal. Mas o pior mesmo, segundo o comentarista da Band News Milton Blay, é que, no artigo virulento `Liberdade e verdade´, Ratzinger se mostra contra as liberdades individuais e o sistema democrático. Que o atual papa é linha dura e dirigiu a versão moderna da `santa´ Inquisição, todo mundo já sabia. Mas, agora, graças a esse artigo trazido à luz, suas ideias reacionárias de um autoritarismo centralizador em descompasso com os tempos modernos (mas perfeitamente de acordo com as profecias) se tornam ainda mais evidentes.’

É um espelho perfeito. O pregador da tolerância.

Seu libelo contra a ciência:

‘Quinta-feira, maio 14, 2009

Ciência, intolerância e fé (http://criacionista.blogspot.com/2009/05/ciencia-intolerancia-e-fe.html )

A ciência é a autoridade suprema na sociedade. Se há uma disputa, a ciência é o juiz. Se uma lei está para ser aprovada, a ciência tem de comprová-la. Quando a ciência é ignorada, brados de protesto ecoam na mídia, nas universidades e nas esquinas. A autoridade atribuída à ciência é tão grande que muitos são tentados a usá-la para validar afirmações que vão além das evidências disponíveis. Phillip Johnson quer trazer de volta ao debate público questões que muitas vezes têm sido consideradas resolvidas. Ao analisar os fundamentos do naturalismo, o autor ressalta os últimos debates sobre ciência e evolução. No fim, ele conclui profeticamente que as muralhas do naturalismo ruirão e que o evangelho deve desempenhar um papel vital na construção de um novo tipo de pensamento – não apenas em relação à ciência e à religião, mas no que diz respeito a tudo que oferece esperança e sentido à vida.’

Matéria não tem nada demais

O autor, Padre Richard John Neuhaus foi presidente do Institute on Religion and Public Life, editor da revista First Things. E no mundo, quem não se render ao evangelho…

Evidentemente não é, como Michelson Borges e Douglas Reis, alguém que preze a ciência, e uma pessoa capacitada para debater o assunto na comunidade laica. Estes que querem impor à torre de marfim o que achar nas pesquisas científicas na visão adventista. Devolver a Deus o que Darwin tirou. Deixou aquela ferida narcisista no coração dos fundamentalistas. A volta das trevas impostas já pelos primeiros cristão:

‘O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo’ (Immanuel KANT, 1784) (agradeço ao leitor Elyson Scafati pela citação).

Como jornalista, é uma decepção. Como fundamentalista adventista, é uma revelação.

Leiam a matéria da Época. Não tem nada demais. Não chama a grande mídia tupiniquim [GMT] e muito menos a academia de a nomenklatura científica, e acusa as relação incestuosa das mesmas. Não defende genocídios como gozosos e nem atribui a ratos o castigo de Deus. Não diz bobagens a respeito da Arca de Noé. Nem defende a transformação metafísica dos sacrifícios animais.

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Médico, Porto Alegre, RS