Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Osvaldo Martins

‘Em comentário anterior (‘Só a Cultura não muda’) observei que nos últimos meses todas as emissoras de TV abertas fizeram modificações em seus telejornais. Só para lembrar: o SBT Brasil passou a contar com Ana Paula Padrão, que deixou seu lugar no Jornal da Globo para William Waack e Cristiane Pelajo; o Jornal da Band mudou com Carlos Nascimento, que agora foi para o SBT; o Jornal da Record, estreou Celso Freitas no lugar de Boris Casoy; Marcelo Rezende, ex-Record, foi para a bancada da Rede TV! Até a Globo News, canal a cabo da Globosat, vai mexer no seu Jornal das Dez, com Mônica Waldvogel na ancoragem de São Paulo. Enquanto isso, a Cultura… bem, para ela vale o título acima, na primeira linha, entre aspas e parênteses.

Após dezessete meses de comentários neste espaço, estou convencido de que a direção da Cultura não sabe o que fazer com o seu telejornalismo. Pior: na única ocasião em que tentou fazer algumas modificações (setembro de 2005), suas orientações foram solenemente ignoradas. Tudo indica que o marasmo dos últimos dez anos veio para ficar.

Se assim é, não deve este ombudsman gastar o seu latim com as coisas que poderiam ser feitas, mas com as que deveriam, mesmo no quadro da pasmaceira atual. Em outras palavras, se o Jornal da Cultura não muda para o que poderia oferecer, pelo menos deveria melhorar aquilo que já faz.

E poderia começar pelos comentaristas do Jornal da Cultura – que, aliás, não são comentaristas, mas opinadores. Eles aparecem no JC entrevistados pelos apresentadores e com estes conversam sobre os temas do dia. Vigora na Cultura a convicção de que essas conversas tornam as abordagens mais ‘descontraídas’, e que isso corresponde a um formato televisivo mais, digamos, moderninho. Ou, como dizem, mais leve.

Primeiro problema: o telespectador não entende metade do que eles – principalmente Luis Nassif e Renato Lombardi – dizem. São dois profissionais que conhecem profundamente as áreas de suas especialidades mas, de quê adianta? Se o distinto público não consegue entender o que é dito, babau os bons conteúdos.

Segundo problema: enquanto os opinadores conversam com o âncora, o telespectador se sente como alguém que, no botequim, tenta captar o que se diz na mesa ao lado – com a dificuldade adicional de os interlocutores falarem rápido demais e engolirem palavras.

Soluções para os dois problemas: que os opinadores se transformem em comentaristas, que escrevam os seus comentários e os leiam no teleprompter, de forma pausada e inteligível; e que olhem no olho do telespectador, concedendo-lhe a devida atenção e o devido respeito. Como medida complementar, a Cultura bem poderia contratar os serviços de um(a) fonoaudiólogo(a) para treinar todos os seus profissionais de vídeo.

Esses pequenos/grandes problemas e suas facílimas soluções constavam do cardápio mínimo estabelecido em setembro do ano passado, mas nem isso foi feito. Então, ficamos assim: a direção manda mas não comanda, o jornalismo faz o que quer (como regra, não quer fazer) e o ombudsman de vez em quando reclama – e segue a vida.’