Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

“Pagar é uma forma de comunicação”

Depois de fazer as pessoas contarem seu cotidiano em apenas 140 caracteres, Jack Dorsey, um dos criadores do Twitter, quer que o mundo adote o Square – um pequeno quadrado que pretende revolucionar a indústria financeira. Já disponível nos EUA para iPhone, iPad e Android, o aparelho permite receber pagamentos com cartão de crédito sem operadoras. Dorsey, diretorexecutivo da Square, irá ao Chile no próximo dia 14, para participar do Entel Summit.


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O que você pensou ao ouvir pela primeira vez a expressão ‘revolução Twitter’?


Jack Dorsey – O Twitter é uma ferramenta; alguns poderiam usá-lo para construir um movimento social, outros, para algo mais. O mais fascinante é como podemos pegar esta e outras ferramentas e construir algo sobre elas, algo que foi considerado uma revolução. Foi inspirador ver como as pessoas se apossaram da tecnologia.


Quão dependente dos governos e de suas políticas são a internet e o Twitter?


J.D. – Ainda há muito a fazer, especialmente na difusão da banda larga. Se todos tivessem acesso a ela, progrediríamos de verdade. Essas tecnologias têm o poder de nos permitir ver como é a vida para outra pessoa no mundo. O Irã, por exemplo, sempre foi uma caixa preta para mim. Mas quando as pessoas lá começaram a atualizar (o Twitter) com o que ocorria nas ruas, tive uma compreensão melhor e uma empatia com o que estava acontecendo. Quando há empatia, o potencial de confllito diminui. De modo geral, sou a favor de uma pressão enérgica para conseguiur maior acesso à internet em qualquer parte do mundo. É o que amo no Twitter: com um celular de US$ 20 participa-se de uma conversa global.


Mas grandes empresas americanas estão alertando sobre o fim da navegação ilimitada, e o debate sobre a neutralidade da rede ameaça elevar os custos de seu uso. Isso o preocupa?


J.D. – Sim. Creio que a internet e suas ferramentas podem ser consideradas um bem social, comum, público, que deveria continuar assim.


Em sua visita ao Chile, você vai apresentar o Square, um pequeno aparelho que se acopla ao celular que permite receber pagamentos sem intermediação de administradoras de cartão. Por trás, podemos ver as ideias do Twitter: imediatismo, transparência e proximidade?


J.D. – Quanto à transparência, muito do que se passa no mundo das operações com cartão é desconhecido ou incompreendido. O Square tenta colocar todas as opções na mesa, para que as pessoas entendam a transação. Isso torna o sistema mais próximo.


Que outras ideias do Twitter foram aplicadas ao Square?


J.D. – Muito do que se vê hoje no Twitter surgiu dos usuários. As respostas diretas às mensagens, os hashtags (denominadores de categorias para discussões), tudo foi criado por usuários. Eles tornaram as coisas mais fáceis para a empresa, e nós as tornamos mais padronizadas. É impressionante tudo o que aprendemos com os usuários, e tudo o que os usuários podem definir de um produto. É o que buscamos com o Square. Estamos construindo uma ferramenta, algo que possamos usar como quisermos, numa ideia similar à do Twitter.


A crise financeira pesou de algum modo?


J.D. – Foi uma situação infeliz, no sentido de que todas as abstrações sobre as quais construímos o Square mudaram repentinamente. Um dos principais aspectos do Square é a pergunta ‘por que o pagamento não é considerado algo social?’. Afinal, é um intercâmbio, pagar é uma forma de comunicação. É algo que fazemos todos os dias, mas nunca se vê como um intercâmbio social, e acho que um dos motivos é que temos todas essas abstrações sobre abstrações sobre abstrações. A crise financeira mudou tudo isso. Estávamos explicando aos diretores das instituições financeiras todo o potencial, todas as pessoas que poderiam ser atingidas por meio do Square, e acho que a crise acabou nos ajudando a mostrá-lo mais facilmente.


Voltando ao Twitter, há pouco estreou o ‘trending topic’ pago, ou seja, como anúncio, Muitas pessoas querem saber quando o Twitter passará do lucro potencial ao real. Qual é o plano de negócios?


J.D. – Ainda está em evolução. Não posso falar especificamente de planos de negócios, mas a empresa está experimentando, recebendo feedback. É um bom começo.

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Do El Mercurio, Santiago (Chile)