Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Paulo Machado

‘A recente saída de quatro pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e os motivos que levaram a isso não seria notícia para a Radiobrás? Para o leitor Daniel Marchi, sim, pois ele procurou por ela nas páginas da Agência Brasil e não a encontrou. Invocando o princípio da pluralidade, pelo qual se pauta a Radiobrás, ele perguntou à Ouvidoria por que não existe nenhuma matéria sobre esse assunto.

Enviei a pergunta do leitor à Central de Pauta, responsável pela pauta da empresa e, portanto, de todos os veículos, inclusive da Agência Brasil.

Aqui vai a íntegra da resposta:

‘A saída de quatro pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) veio a público com reportagem do jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira (15), feriado de Proclamação da República. A notícia foi depois reproduzida por outros veículos durante os três dias seguintes.

Como a Radiobrás segue o princípio de não reproduzir notícias de outros veículos, mas apenas as apuradas pela própria empresa, tentou entrar em contato com o Ipea, o que não foi possível por ser ponto facultativo na sexta-feira (16).

A saída dos quatro pesquisadores entrou novamente na Pauta Radiobrás da última segunda-feira (19). Na reunião de Coordenação de Pauta, com todos os chefes de veículos da empresa e a Diretoria de Jornalismo, foi avaliado que a notícia havia perdido novidade após cinco dias.

No entanto, para não deixar de registrar o fato, foi definido que a empresa esperaria um fato novo no desenrolar do caso. Continuamos acompanhando os desdobramentos do episódio e, após a publicação da última pesquisa coordenada por um dos pesquisadores que foram desligados, Fábio Giambiagi, marcamos para segunda-feira (26) entrevista com ele e com o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.

Como forma de esclarecimento ao leitor, informamos que não há nenhuma posição editorial da empresa em não cobrir a demissão de servidores do governo federal. A falha na cobertura da saída dos quatro pesquisadores do Ipea ocorreu somente pela impossibilidade de, nas condições dadas, seguir um dos parâmetros básicos da cobertura da Radiobrás, que é o de checar a informação direto na fonte.

Em outras saídas de servidores do governo federal, que também geraram polêmica na imprensa em geral, a Radiobrás nunca se esquivou de cobrir o fato. Para ficar apenas em alguns exemplos, e no veículo citado pelo leitor, é possível buscar ‘Ildo Sauer’ e ‘Luiz Pinguelli Rosa’ na Agência Brasil.

Não só foi noticiada a saída do diretor de Gás da Petrobras, Ildo Sauer, quanto a polêmica que se seguiu. No caso de Pinguelli, que deixou a presidência da Eletrobrás, também foi noticiada sua saída e as manifestações formais de apoio que recebeu. E, mesmo após sua saída da Eletrobrás, não deixou de ser fonte para a empresa, sendo citado em 48 reportagens somente na Agência Brasil.’

Foi assim que o assunto não apareceu nas páginas da Agência. Consultada, a Diretoria de Jornalismo informou que ‘fatos são fatos e, portanto, temos a obrigação de noticiar, no entanto jamais faremos conjecturas e interpretações por respeitarmos a opinião dos leitores – eles é que devem julgar a partir de informações objetivas’.

Foram justamente essas informações objetivas sobre o episódio que faltaram ao leitor: O que é o Ipea? Qual a função dele como órgão de pesquisa governamental? Quais os assuntos pesquisados e o que essa pesquisa tem a ver com a formulação das políticas de Estado? Qual a diferença entre pesquisa acadêmica e pesquisa aplicada? Sobre o que pesquisavam os técnicos afastados? O que representavam as pesquisas deles para o governo e para a sociedade? Por que foram afastados? Como é tratada a questão da liberdade de pesquisa, de pensamento e de opinião pela instituição?

Sem essas informações, de uma agência pública de notícias que respeita os princípios da isenção, da objetividade, da impessoalidade, do apartidarismo e também da pluralidade, reivindicada pelo leitor, o público talvez tenha de se abastecer de notícias que muitas vezes interpretam os fatos à luz de interesses diversos aos de informar.

A Ouvidoria entende que o leitor tem direito de conhecer a pluralidade de questões e de pensamentos que se manifestam no espaço público político que envolve o governo, o Estado e a cidadania. Segundo o Manual de Jornalismo da Radiobrás isso faz parte da nossa pauta. Portanto, a omissão do assunto nas matérias da Agência Brasil, apesar de justificada, deixa uma lacuna na sua cobertura.

O princípio da pluralidade, evocado pelo leitor, se aplica totalmente ao caso, pois reportar os diferentes interesses e valores que envolvem uma questão faz parte do respeito ao direito à informação. Ao omitir a cobertura de um determinado assunto pode-se, com razão, levantar a suspeita de que se evita tratar de algo que não interessa a alguém ou a alguma instituição. Deixar de falar sobre um tema pode ser interpretado como uma atitude tão tendenciosa quanto à de abordar um assunto apenas de um ponto de vista, ouvindo-se apenas fontes alinhadas com determinado pensamento ou interesse.

A Ouvidoria apurou que não foi esse o caso, mas o leitor tem o direito de saber exatamente o que aconteceu, quais as responsabilidades no episódio e o que isso representa para uma empresa pública de comunicação.

Até a próxima semana.’