Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Paulo Verlaine

‘‘Na Beira Mar, entre luzes que lhe escondem/ Só sorrisos me respondem/ Que eu me perco de você/ Que eu me perco de você’ (Beira MarEdnardo)

Querem mesmo acabar com o nome Beira Mar. No artigo ´Mudanças de nomes de artérias` (Opinião, página 4, 20/2), o vereador Paulo Mindêlo (PSB) diz, num dos trechos, ao se referir às avenidas da Universidade e Beira Mar: ´São simples as suas denominações: uma porque lá se localiza a Reitoria da Universidade Federal e a outra pelo fato de ser uma avenida que se acha contígua ao mar´.

O artigo de Mindêlo provocou a seguinte reação do leitor do O Povo e arquiteto Nelson Serra e Neves: ´Acho uma falta de respeito ao povo de Fortaleza a mudança de qualquer nomenclatura das vias públicas e bairros de Fortaleza, principalmente aqueles de amplo domínio público e grande aceitação popular´. ´O nome Beira Mar´, continua Serra e Neves, ´já faz parte da memória da cidade, como Papicu, que também querem mudar de nome. Quanto ao artigo assinado pelo sr. Paulo Mindêlo, acho um despropósito homenagear o nosso grande cardeal com o principal reduto de lazer democrático da capital, que é a Beira, com seus quiosques, bares e feirinhas`

Do ombudsman: O vereador, que se diz católico, mas combate o que é simples, deveria ler o Sermão da Montanha: ´Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles` (Mateus, 28 e 29). Ora, a beleza está nos nomes simples: o Rio de Janeiro tem a avenida Atlântica, o Largo da Carioca, os bairros da Lagoa, Laranjeiras, Engenho Novo e tantos outros; em Recife há a rua do Sol, rua da Aurora, rua da Saudade, rua das Moças, rua do Rosário, rua do Hospício e os bairros Encruzilhada, Casa Amarela, Torre, Boa Vista, Afogados, Aflitos e até um bairro chamado Recife (o Recife Velho) e outros de denominações simples e pitorescas. Há outras maneiras de aparecer na mídia. O que Mindêlo pretende fazer é um crime contra a memória da cidade. Querer deletar (apagar) o nome Beira Mar do imaginário do fortalezense é iniciativa de quem é inimigo da cidade. Paulo Mindêlo quer aparecer de qualquer maneira e está a distorcer os fatos. A avenida Beira Mar foi inaugurada, no início dos anos sessenta, pelo prefeito Cordeiro Neto com este nome: Beira Mar. Depois, alguém teve a infeliz idéia de mudá-la para presidente Kennedy, mas a população rejeitou a denominação e continuou a chamá-la de Beira Mar, até que o nome inicial – Beira Mar – voltou a ser o oficial.

Dom Aloísio Lorscheider, homem simples, mas decidido e altivo, jamais iria concordar com uma ´homenagem` desse tipo. Se vivo fosse, ele seria o primeiro a puxar as orelhas do vereador. Como já disse na coluna anterior, inúmeras obras do Governo do Estado e da Prefeitura estão anunciadas (há novas ruas e avenidas projetadas na intervenção urbana na Praia de Iracema, por exemplo). Por que não batizá-las de dom Aloísio Lorscheider e Martins Filho? Mas, ao que parece, Paulo Mindêlo está interessado apenas em apagar o pouco que resta da memória da cidade. Que os cidadãos fortalezenses se mobilizem para evitar esse crime contra a cidade. Querem mudar o lindo nome do bairro Alagadiço Novo para José de Alencar. Os ossos do autor de Iracema devem estar estremecendo a essas alturas.

Ainda a divergência

O leitor e jornalista Daniel Fonseca envia mensagem ao ombudsman: ´Como se organiza uma página de opinião sobre o aborto com quatro artigos de homens? É atingir o ápice da invisibilidade social das mulheres no papel de sujeito político, que tem a plena capacidade de opinar e analisar quaisquer temas, sobretudo aqueles que têm estreitíssima relação com a vida delas. Muitos (as) pesquisadores (as) da área da Comunicação Social, especialmente do Jornalismo, que têm aprofundado seus estudos na questão da presença de grupos específicos na mídia analisam que essa ´invisibilidade` muitas vezes chega a ser pior do que a tal ´deturpação` que normalmente é denunciada por movimentos sociais. (….)Já que, nessa oportunidade, tratou-se de uma página de ´debate` (no conceito de Menezes) – portanto, organizada previamente –, bastaria um ou dois rápidos telefonemas para ter-se a colaboração de um dos cerca de cinco movimentos de mulheres do Ceará´, observa Fonseca.

Identificação necessária

Ruy Câmara, escritor e sociólogo, deveria ter sido identificado como secretário-geral do DEM no artigo ´Apatia e submissão` (Opinião, página 4, 20/2). Seria um procedimento mais transparente. O autor foi assessor de Moroni Torgan na última eleição e continua prestando serviços ao político, mas nada disso consta na apresentação do artigo. Ninguém pode cercear o direito de expressão dos colaboradores da página de Opinião, mas se deve pedir que, se eles adotarem posições políticas, que o façam como assessores ou dirigentes de partidos.

Fiação faz mal à saúde

Com a reportagem ´Fios escondem fachadas de prédios´, a editoria Fortaleza dá continuidade à série de matérias sobre poluição visual na cidade. A propósito do tema, a geógrafa Ilvis Ponciano Araújo Lima alerta para uma questão importante: o problema não diz respeito apenas à estética, mas à qualidade de vida e à saúde da população. Os fios de alta tensão e os campos eletromagnéticos podem ocasionar sérios problemas, inclusive câncer. Ela tem tese de doutorado sobre o assunto. Até domingo.’